terça-feira, 13 de dezembro de 2011

PARÊNTESES - Pedro Du Bois


 Obrigada, Pedro, por mais essa beleza!


PARÊNTESES

Pedro Du Bois

ser a vida entre parênteses
na explicação dos teores ocultos
no desplante: mentir explicações
de contados elementos na imagem
modulada no limite do esgarçamento:
conta apresentada em favores;
desligar o som e explicar o silêncio
do quarto entreaberto em atos.
O sentido do rosto contra o espelho
melancólico das imagens. Texto
tosco das palavras sem sentido.

(Pedro Du Bois, inédito)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Meus Três Enigmas - Affonso Romano de Sant'Ana


                  Meus Três Enigmas
                      Affonso Romano de Sant’Ana

              Tenho pouco tempo
              para resolver três enigmas que me restam.
              Os demais 
              ou não resolvi
              ou resolveram 
              me abandonar
              exaustos de mim.

             São de algum modo obedientes.
             Só ganham vida 
             se os convoco.
             Isto me dá a estranha sensação
             que os controlo.
             Complacentes
             me olham
             do canto de sua jaula.

           Enigma que se preza
           não se entrega
           nem se apressa em estraçalhar
           o outro com fúria de fera.

           No entardecer
           os três enigmas sobrantes
           me espreitam 
           soberanos.

           Às vezes, mesmo arredios
           aceitam  meus afagos.
           Na dúbia luz da madrugada
           parecem desvendáveis.

           O dia revem,
           Eles me olham (penalizados)
           e começam
           (de novo)
            - a me devorar.


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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Natal dos meus Sonhos - Martha Tavares Pezzini

                

                               
               Natal dos meus Sonhos
 


                               

    

Todos os anos, ao aproximar o Natal, faço muitos planos tentando simplificar o corre-corre que se instala nesses  dias  e assim  diminuir o stress. As vinte e quatro horas do dia, já não são suficientes durante quase todo o ano e nessa época, o dia parece ter apenas vinte. Tudo que não fizemos, ou adiamos, durante o ano, queremos, milagrosamente, ver feito. É o que acontece por toda a casa.Trocar isso, consertar aquilo... Tento montar uma lista das prioridades. Outra dos presentes. O cardápio da ceia. E põe etcs nisso. Sem contar que sou especialista em sair fora da lista. Deu até rima. E aí complica ainda mais o complicado. Também acho que tenho parentesco com o Papai Noel. Quero comprar presentes para muita gente. Tudo embolando na minha cabeça que já anda, normalmente, embolada. A compra dos presentes seria a maior curtição e de fato é, até que nos surgem excessos de opções e indecisões ... Corro a quatro shopings e mais lojas dos arredores quando vejo que não segui a lista e ainda não comprei nem a metade planejada. Decepção maior é quando vejo que faltou um presente para quem não poderia faltar... Imagino o que passa o Papai Noel.
     O que fizeram com a vida, e mais especificamente, com o Natal? Instalaram a confusão e criaram o caos ao inventarem os “sonhos de consumo”, e ao transformarem o Natal em uma mera época de compras. O Menino Jesus não é mais o dono da Festa. Acabei de abrir uma linda mensagem onde no fim aparece:  “ Joyeux Noël! ”... A festa e dele, gente!
     Ah!  Os natais da minha infância! Repletos de simplicidade e tradições! Doces e tranqüilos. Tempo de encantamento, sem os templos profusamente iluminados do consumismo, chamados Shoppings Centers.
    A tradição do presépio era seguida todos os anos e o ritual para a sua montagem era acompanhado passo a passo pelas crianças. O dia de buscar a areia que iria formar o deserto era uma das minhas grandes alegrias, pela ida até o local, para mim, um passeio. Areia branquinha e fina, um verdadeiro tesouro. Havia ainda, um dia certo para o plantio do arroz nas latinhas, tudo calculado para que estivesse no tamanho certo dando um toque natural de verde, no presépio junto aos laguinhos de espelho contornados por musgos.
     A gruta de pedra era feita com saco de cimento, onde se passava grude, que era uma cola feita em casa (como tudo naquele tempo) e depois jogava-se pó de carvão misturado com mica o que dava uma aparência de pedra depois de modelado. No alto a grande estrela de cauda, brilhava. E lá, no nicho, as figuras principais: José, Maria e o Menino. Os primeiros visitantes e adoradores também estavam lá: vaquinha e o burrinho, o galo, os pastores com os carneirinhos... Os reis magos vinham caminhando pelo deserto até o dia seis de janeiro quando se aproximavam da gruta.
    Quem foi o artista que criou  as casinhas tão lindas em cartolina  que eram guardadas e recolocadas todos os anos, no presépio? Não me cansava de vê-las e admirar cada uma! Tempo bom quando as coisas não eram descartadas! A cada ano as mesmas peças nos enchiam de emoção e ternura.
    As crianças sempre esperavam ganhar algum brinquedo. A lenda dizia que só ganharia presentes aquelas que se comportassem bem e não fizessem estrepolias. Claro, que era um incentivo à boa conduta... E colocavam o sapato atrás da porta, cheio de esperança.
     Uma coisa, nunca pude entender: como minha mãe fazia tudo tão bem, e era tão organizada, tendo sido criada sem mãe. E me enchia de felicidade ao saber que a minha mãe estava sempre presente. Natal era época especial e todas as delícias que minha mãe sabia preparar melhor, eram feitas. Lembro-me de cada uma, na forma, cor e sabor e do caderno de receitas. Mamãe cuidava de tudo, mas sem a pressa de hoje. Não ia a supermercados lotados nem tinha de saber onde encontrar isso ou aquilo, qual a condução que a levaria, etc. Tudo que necessitava era trazido às suas mãos, por meu pai ou então, ela sabia onde nos mandar comprar. Muitas vezes, alguma fruta para doces ou algum complemento semelhante, era presente de algum amigo que o tivesse em casa. Compartilhar fazia parte do espírito do Natal.


       O Natal foi reduzido somente ao visual e material. Sou cristã e me sinto meio que culpada por estar envolvida com tudo isso e por me sentir, as vezes, mais paganizada do que gostaria em meio a compras e  supérfluos.
       Sonho com a noite e o dia do Natal sendo  especiais para as famílias trazendo mais paz, aconchego e ternura do que presentes e  todos  fazendo sua parte para que isto acontecesse. Seria fácil e simples: uma pausa em meio ao tumulto para pensar por alguns  momentos  na grandeza do que se comemora e se desligar de tudo que não sintonizar com aquele cenário do presépio e o que ele representa. Que o aniversariante fosse o convidado mais importante para as comemorações do seu dia e não apenas o Papai Noel...
    Queria a novena junto aos vizinhos e família; a missa do galo; ouvir e cantar “Noite Feliz”, em coro, com a família; uma oração antes da ceia agradecendo Àquele que veio para nos mostrar o caminho para a paz e dar “Glória in exelcis Deo” ao Pai que o enviou e que essa oração fosse acompanhada de coração por todos que estivessem ali,  reunidos. 
    Seria verdadeiramente uma Noite de Paz e Amor, a  Noite Feliz, do Natal!


    
   Oração
    Senhor, ao nascer pobre e humilde deste o exemplo de que aí está a grandeza da vida. Ao buscarmos o ter sem limites, estamos enganando a nós mesmos e nunca estaremos  satisfeitos.
     Queremos dar presentes para dizer que amamos. Temos medo de que as pessoas não percebam.
     Necessitamos muito daquela paz de Maria e José que mesmo em meio a  dificuldades sabiam que Deus estava com eles. 
    Faz-nos ver naquele cenário de humildade iluminado por uma estrela, que precisamos somente de um coração cheio de amor e fraternidade para sermos felizes.
       Esteja dentro de nós e sobre nós, a tua luz.
     Cura nosso coração e nossos sentimentos e perceberemos que nesta busca insaciável do ter, cada vez mais, é a Ti que buscamos sem saber. Pois se estivermos contigo teremos tudo.
       Amém

      Feliz Natal!
      
      Martha

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