quarta-feira, 13 de abril de 2011

9ª Festa Literária Internacional de Paraty 6ª Edição do Prêmio Off Flip de Literatura

9ª Festa Literária Internacional de Paraty
 6ª Edição do Prêmio Off Flip de Literatura


As inscrições para o prêmio Off Flip de Literatura estão abertas até 30 de abril de 2011 e deverão ser feitas pelo correio. O regulamento pode ser lido no site do evento: www.premio-offflip.net.
A premiação ocorrerá durante a 9ª Flip, entre 6 e 10 de julho


O prêmio que acontece desde 2006, é um concurso de textos que busca estimular a produção literária em língua portuguesa e é dividido em 2 categorias: poesia e conto.
Os vencedores serão comtemplados, nessa 6ª edição do concurso com prêmios em dinheiro, ingressos para as mesas da Flip e estadia em Paraty. Os 30 textos finalistas serão publicados em uma coletânea pelo Selo Off Flip.

  
         O O  O O O O O  



O Mar e Eu                                                         

     " O mar, quando quebra na praia,
       é bonito... é bonito..." 
       Dorival Caimi  




   
   Manhã  feita de  luzes  e cores, perfeito capricho do Criador, festa preparada para nosso deleite. Acordo ouvindo as ondas batendo nas pedras e o delicioso som do retorno das águas depositando na praia, conchas,  algas e espuma. O mar, majestoso  gigante, rege sua sinfonia com os mais  puros  acordes e com  seu incansável movimento, cumpre seu destino. Abro a janela.  Imagens e sons daquele  cenário mágico invadem meus sentidos. O sol subindo do horizonte, parece  suspenso por corrente invisível e  espalha profusamente todo  o seu esplendor  pela imensidão prata-verde-azul-lilás das águas.  Núvens contornadas de fogo passeiam devagar, levadas pelo vento, enquanto outras parecem  incendiadas, como se fossem explodir. As gaivotas dão o toque de graça em vôos de coreografia ensaiada. Barcos, ao longe... Nada falta  nessa aquarela.
    Pego um chapéu, minha câmera e saio para um passeio. Não quero perder nada. Deslumbrada e inebriada sinto o abraço delicioso da brisa marinha, andando  descalça, pisando a  areia molhada, sentindo o prazer da massagem nos pés a cada passo. Vou parando para catar conchinhas que sempre me encantam  com  suas  cores, formas e tamanhos,  nacaradas ou não. Cada uma é um tesouro único. Selecionadas, serão transformadas em colares e pulseiras, colares e outros adereços para minhas meninas.
     Nada a pensar,  absorta na plenitude daquele momento, apenas saboreando a vida. Se o vento soprar um pouco mais, creio que flutuarei como uma pluma, tão leve e solta me sinto, partícula intrínseca da natureza.     
     Depois da caça ao tesouro, caminho mais um pouco sentindo o sol e a carícia da brisa. Pensao que há uma cumplicidade entre o sol e o vento. Um  a nos queimar e o outro a amenizar o ardor...
    Paro  para tomar  água de coco, deliciosamente refrescante e revigorante, mais uma das  dádivas do Criador aqui reunidas.   
     - Vai um Peroá assado?
    Resistir, quem há de?
   Ando um pouco mais,  minha Rolley  registrando tudo. Momentos gravados na câmera  e nas retinas.
   Viver longe do mar é nostálgico. Por isso temos necessidade de voltar sempre, deixando  para trás  rotina, preocupações e  neuras para estar  junto à  magia  do mar.   


 Martha Tavares Pezzini 



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sábado, 9 de abril de 2011


 Enviado por Paschoal Motta


Poesia e Ação IV 


Um poema, veículo da Poesia, representa a beleza essencial de sentir a vida, na exata medida em que seu mediador constituir-se num ser receptivo às múltiplas facetas da existência. Ser poeta, assim, representa ser um indivíduo de amplas possibilidades culturais, sensibilidade desenvolvida na meditação e recolhimento, humildade humana, paciência e obstinação no seu ofício, além, principalmente, de domínio sobre a matéria bruta de sua Língua Materna. É dominando o sistema lingüístico de manifestação que um escritor se desclassifica, cria estilo próprio, dentro do sistema vigente da Literatura de sua Pátria.

Paschoal Motta

Continua...




Martha Tavares Pezzini
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

 Poema  - de Pedro Du Bois

A MÃO QUE ESCREVE

Sobre a folha branca
no modo de negar
a paixão escondida

em torpe armadilha

o branco da recusa
no pobre recluso
em mim: mesmo

acorrentado ao vazio

na folha amigável
travo o travo

oposto ao presente

risco a consciência
e me desmancho em recados

tarde para consequências

maiores na folha rasgada.

(Pedro Du Bois, A MÃO QUE ESCREVE, X, Edição do Autor)
 
pedrodubois.blogspot.com 

terça-feira, 5 de abril de 2011

 

Meus cães, minhas diabinhas (Nilto Maciel)




Acordei tarde, num apetite danado. Passei a noite diante da televisão, a ver mulatas na Sapucaí. Fui à cozinha, fucei a geladeira, voltei à copa. Imaginei mordidas numa pera exposta na pequena fruteira sobre a mesa. Não, melhor me conter e aguardar o bife acebolado e quente do restaurante. Para enganar a fome, rasguei o envelope encontrado na caixinha do correio. Espantei-me: uma revista de capa colorida e meu nome em grandes letras, ao lado de um Peter, de um Otto, de uma Annette. Quase não acreditei no que via. Como fora meu nome parar na parte exterior daquela publicação germânica? Sim, o magazine vinha da Alemanha: Welt der Buchstaben. Embasbacado, ouvi o grito da sirene. Quem seria? Corri ao portão, meti a cara na folha metálica e me assustei: três diabinhas a pular na calçada. Só de uma lembrei-me: Carla Pimentel, a Carlinha da semana passada. Abri o portão, com pressa de celerado. As três saltaram ao meu pescoço e quase me levaram ao chão. Não façam isso! Olhem o povo! Vestiam-se como diabretes, rabos empinados e a balouçar, rostos pintados, toquinhas de variadas cores, saiotes curtos. É carnaval, poeta, é carnaval! Vamos dançar. E se balançavam na direção da porta, arrastando-me feito boneco de Olinda. Por que vieram sem me avisar? Precisa avisar? Quem são suas amigas? Esta é Fabíola, mas pode chamar de Fabi. Abracei-a, beijei-a, de olho na terceira. E você quem é? Eu sou Gabriela, a Gabi. Convidei-as a se meterem na casa: Introibo ad altare Niltei. Carla se apimentou mais: Diabo é isso, meu?

A tremer de inanição, ofereci-lhes o cálice frio dos mortais: tem cerveja na geladeira. Bebam, enquanto vejo uma... Sem olhar para elas, balbuciei: Carla, você pode traduzir isto? Chegaram à sala, latinhas suadas. Fabi se estirou por trás de minha orelha murcha e eu senti seu coração pagão machucar meu ombro decaído: Você está nela? Arrancaram os lacres das latinhas. Vejam meu nome na capa. Conto ou poema? Não sei ainda. E me pus a revirar as folhas. As tentações deixaram de saltitar e se aquietaram no sofá. Passei por Peter Kunze, Otto Uhse, Annette Loerke e fui me impacientando. Você deve estar ao lado de Thomas Mann e Günter Grass – brincou a diabólica Carla Pimentel. (Teria sido ela a autora da façanha de me traduzir para a língua de Goethe e providenciar a publicação do conto?)

Sôfrego, li o título: “Die Sprache Des Hunde”. O que significa isto, Carlinha? Deve ser “A fala dos cães”. As outras enfiaram os olhos na amiga. Tentei ler. Não é assim, Nilto. Então leia. Será mesmo meu? Sim, seu nome está aqui, junto ao título. E há uma nota no pé da página. Agora quero beber. Corri à geladeira, instigado pela sede. Vejam se há mais brasileiros aí. Elas passavam as folhas, com sofreguidão, quase a rasgá-las. Cuidado, isto é uma relíquia, minhas filhas.

Carla Pimentel estuda alemão, viveu em Berlim durante um ano e adora o que escrevo. Eu não estudo nada, só saí do Brasil uma vez (Cuba, 2000) e adoro os seios das raparigas em flor. Nunca a imaginei vestida de anjo caído (mesmo no carnaval), a bailar feito macaca, rabinho para lá e para cá. Eu a imaginava metida nos livros, a ler Rilke, Elias Canetti e Kafka. Pois vive a me falar deles. Você precisa ler as histórias de Hoffmann. Ora, eu li, quando jovem. É verdade, poeta? Lembro muito de “O homem de areia”.

Naquela manhã de faminto, porém, perdi por completo o respeito pelo ser humano. Como pode uma menina, de tantas leituras, se transformar numa tinhosa qualquer, que visita, em dia de carnaval, um homem há muito afastado da pândega e dedicado, dia e noite, a ler e escrever? Corri ao banheiro, para me santificar ou me purificar. Aquilo deveria ser sonho. A água benta me acalmou. Aranquei a toalha do cabide, pu-la aos ombros, e saí à sala a cantarolar: Com que roupa eu vou pro samba que você me convidou. Que alegria é essa, seu Nilto? Pensei não me defrontar com ninguém na sala. Aquelas mocinhas teriam sido criadas por descuido do criador. Eu queria folhear Welt der Buchstaben, deliciar-me com “A fala dos cães” em alemão, me sentir ao lado de Goethe, Schiller e Novalis. No entanto, as meninas, as diabinhas não queriam saber de letras. Queriam foliar em minha sala. Ou transformar minha vida numa folia. Fazer de mim bonequinho que fala pela boca dos outros. E, às vezes, escreve versinhos brincalhões: “Talvez pudesse ser padeiro – pães –, / tecer mortalhas – panos – doutras lãs, / porém domar nem sei meus próprios cães”.

Fortaleza, 8 de março de 2011         






Postado por Martha Tavares Pezzini
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Mais


Mutirão da Leitura

Usuários do metrô de BH têm a oportunidade de participar do Mutirão da leitura, de hoje até sexta- feira, na Estação Central, entre as 9h e as 17,h. Serão vendidas 16 opções de obras com preços a partir de R$1,99 a R$9,99. 

Encontro de Escritores


Com o tema "Material transgressor e autobiográfico" - o Instituto Cervantes promove um debate entre escritores. Estarão presentes os espanhóis Andrés Barba (representante do romance existencialista), Marta Sanz (romance noir e de gênero e Marcos Giralt (literatura autobiográfica), além do mineiro Luís Giffoni. Quinta-feira, no Palácio das Artes.


Debate


O repórter Lucas Figueiredo acaba de lançar o livro Boa Ventura! pela Editora Record. Informações históricas, episódios dramáticos e casos curiosos  do rush brasileiro pela corrida do ouro, da ganância de Portugal à ocupação do interior do Brasil.
Lucas Figueiredo participa de um debate, hoje, ás 19h30, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

 




segunda-feira, 4 de abril de 2011

Moacyr Scliar e Yann Martel



Yan Martel, escritor canadense, venceu o prestigioso prêmio Man Booker Prize , em 2002, com seu livro  A vida de Pi. Além do prestígio,  US$75 mil a mais em sua conta-corrente. Sua história  rodou o mundo tendo chegado por aqui no final de 2004. (Editora Rocco – já esgotado).  O livro já causava grande alvoroço nos meios literários antes mesmo de sair sua  primeira tradução brasileira...
A  vida de Pi foi escrito em 2001 e conta a história de um adolescente indiano que naufraga em alto-mar  e em seu bote salva-vidas tem como companhia, um  tigre de Bengala.
Nosso escritor gaúcho, Moacyr Scliar (1937-2011), publicara Max e os felinos, 20 anos antes. Max é um garoto judeu que foge da Alemanha nazista e se vê náufrago em um bote tendo como companhia um Jaguar...
Yann Martel admitiu ter lido uma resenha do livro de Scliar, feita pelo escritor John Updike no New York Times Book Review.  Updike negou que tivesse resenhado a obra e o jornal, por sua vez, negou a publicação.
Martel não tinha saída. Moacyr Sclair, cavalheirescamente, encerrou o assunto, de sua parte.
A vida de Pi está em nova edição com tradução de Maria Helena Rouanet, Editora Nova Fronteira. Max e os felinos  pode ser encontrado em edição de bolso da L&PM 
Martel  incluiu  Scliar em sua nota de apresentação: 
               "A centelha de vida eu devo ao Sr. Moacyr Scliar.”


Martha Tavares Pezzini
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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Conversa de Nilto Maciel com Pedro Du Bois

(Pedro Du Bois)

Como se trata de escritor desconhecido do chamado “público leitor” (que é bem pequeno), inicio a apresentação do meu interlocutor assim: Pedro Du Bois é um dos inúmeros escritores brasileiros que não estão nas poucas livrarias e bibliotecas públicas de nosso país. Sua obra (como a da maioria) se propaga em sites literários e livros de pequena tiragem. Tem mais de sessenta títulos editados por conta própria. Todos de poemas. Nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, em 16 de outubro de 1947. Vive em Itapema, litoral de Santa Catarina, há alguns anos. Isto é, não está incluído no roteiro literário do eixo-central do Brasil. Portanto, não está mais naquela fase de deslumbramento com a possibilidade de se tornar famoso nem frequenta a grande mídia. E foi isso também (primeiramente me encantei com a sua poesia) que me chamou a atenção. Por que não entrevistá-lo, mesmo sem o conhecer pessoalmente? Demorou um pouco a “conversa” (feita por correio eletrônico), ao longo de alguns meses: final de 2010 a março deste ano.

A entrevista:

Nilto Maciel – Você está inscrito como Editor-Autor junto à Biblioteca Nacional. Explique o que é isto, por favor. Como editor-autor, você edita artesanalmente suas obras e as distribui a bibliotecas, amigos e simpatizantes da literatura. Ou seja, você “trabalha” como editor e distribuidor de sua obra. Isto o satisfaz? Não lhe parece injusto este tipo de mercado?

Pedro Du Bois – Há menos de 10 anos comecei a escrever de forma sistemática. Sou tardio. Sem ter conhecimento do mercado editorial, e morando no interior, fui atrás do que seria necessário para publicar um livro. Descobri que sem “nome” e “posição” jamais conseguiria uma editora que não me cobrasse caro e que fizesse a distribuição comercial dos volumes. Beco sem saída. Informando-me, fui ao site da Fundação Biblioteca Nacional e cheguei ao ISBN. Verifiquei que poderia me inscrever como editor-autor e, assim, ficaria dispensado de contratar ou ser contratado por uma editora formal. Também, precisei resolver a questão da ficha catalográfica que, por lei, precisa ser assinada por bibliotecário registrado e em atividade junto ao Conselho Regional de Biblioteconomia, o que não temos em Itapema, Em Florianópolis, a bibliotecária (Biblioteca Estadual) disse-me que faria “por fora”, cobrando 30% do valor do salário mínimo; a CBL, respondeu-me cobrar para os não associados (e eu não poderia me associar) 20% do salário mínimo. Fui salvo pelo Clube dos Escritores Piracicaba, em convênio existente com a UNIMEP, através da sua bibliotecária. Passei a editar meus livros em casa, artesanalmente; uma gráfica local faz a grampagem e o refilamento; minha mulher, Tânia, cria as capas (além da revisão e organização dos poemas). Com tiragens mínimas, que distribuo entre escolas, bibliotecas, amigos e amantes da literatura. Assim, posso “ditar” as minhas edições, atualmente com cerca de 70 títulos. Busco pessoas com interesse na área e em meus textos, para apresentações e prefácios. Com isso, atendo apenas as minhas possibilidades em termos editoriais. Não me satisfaço como escritor, pois são restritas as minhas chances de aproximação com os leitores. Com editoras formais tenho apenas 3 títulos, Os Objetos e as Coisas, Scortecci, SP, como prêmio por haver vencido o Concurso Literário da Livraria Asabeça, 2005, na categoria poesia; A Criação Estética, Editora Corpos, Portugal, 2009, através do site WAF, contra a entrega dos direitos autorais; ainda à venda no referido site; e Seres, feito em casa, com o selo da Sarau das Letras, por deferência do editor-escritor Clauder Arcanjo.

Compreendo, caro Nilto, que o mercado editorial sobrevive de negócios. Em nosso país, poucos são os leitores e, mesmo assim, “abarrotados” em pseudo romances e auto-ajudas. Literatura, muito pouco. Prevalece o “negócio”, quase sempre no “toma lá, dá cá”. Os diversos níveis governamentais pouco querem saber da produção literária: há dinheiro para dança, capoeira, surf, carnaval etc e tal. Para uma ideia mais precisa, tanto no governo do estado de Santa Catarina, quanto na prefeitura de Itapema, a cultura (e nem falam em literatura) está incluída na Secretaria de Esportes, Cultura e Lazer.

Há a lei do mecenato, mas, por exemplo, ano desses comecei a preencher os questionários da Petrobrás, desisti antes da terceira página. Não há chance, a não ser que se contratem escritórios especializados, tal a complexidade burocrática que cercam tais eventos.

Tenho consciência de que, para alcançar público maior, teria de abrir mão da minha concepção criadora e redacional. Gosto do que faço, não tenho vontade, nem condições de alterar meu conteúdo e formato.

Acho injusto não ter a oportunidade de trabalhar meus poemas junto ao público, mas, satisfaço-me com os retornos que, diariamente, tenho recebido. Sem contar a gentileza encontrada em tantos sites e blogs que sempre estão a me acolher, como em seu espaço.

NM – Os blogs literários são substitutos das editoras? Não teria chegado a hora derradeira das editoras? Numa nova divisão do “mercado das letras”, às editoras caberia publicar a Bíblia, o Corão, pensamentos de gurus, romances de aventuras, etc. Ficaria com os blogueiros (escritores) a “tarefa” de divulgar poesia, contos, romances, crônicas, crítica literária, etc. Não precisa ser profeta para imaginar o novo mundo, mas você pode falar disso?

Pedro – Transformada em negócios, a literatura “como expressão da condição humana” não tem espaço nas editoras tradicionais. Até pode acontecer de um ou outro nome, aqui no Brasil; ou, quem sabe, em países mais estruturados do ponto de vista cultural. Agora, a “massa” de leitores é atendida em textos padronizados, homogeneizados, sem profundidade, sem lítero-filosofia, sem a abordagem do leitor como ser humano, contraditório, frágil, porém interessado em melhorar o seu relacionamento com a cultura dos diversos povos e das diversas visões. As editoras negociais se atêm aos romances novelísticos, aos poemas de mesmas coisas, e à indústria dos livros pagos por demanda. Difícil entrar em uma livraria e dela sair com a certeza de que estão vendendo literatura. Como a Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, que mereceu o comentário do jornalista Juremir da Silva de que lá até havia objetos com o formato de livro, mas, livro, mesmo, quase nada. Outro exemplo de como estão invertidos os procedimentos reside nos tantos livros oriundos de scripts cinematográficos e ou televisivos, ou seja, troca-se a filmagem da história pela edição em papel do que foram as filmagens.

Gosto muito do formato papel, entendo que nada o substitui. Talvez seja a minha idade, o gosto em ter as mãos sobre o papel. A possibilidade da anotação ao pé da página; o sublinhar de algum diálogo e/ou palavra; a abertura do livro na página pré-demarcada.

De outro lado, vistos os “negócios” a cercar a edição dos livros e suas implicações em relação ao que entendo por literatura, com certeza a internet tem se destacado no surgimento de novos e bons escritores. Mas a rede é dispersa e esgarçada. Todos os dias sou surpreendido com novos (ou nem tão novos) escritores. Alguns, bem relacionados, são totalmente desconhecidos na página seguinte. São difíceis os retornos: escritores, parece-me, gostam de escrever; também são bons leitores, mas não são contumazes e constantes interlocutores. Até porque, salvo os escritores-acadêmicos que escrevem e descrevem o fazer literário (que em geral estão posicionados contra a internet como local de disseminação da literatura), mesmo que defendam com cada vez mais interesse e ímpeto as letras tradicionais (ouvi de um acadêmico da ABL, em Curitiba, que poesia é métrica e rima, pois, se não houver métrica e rima, como ele poderia efetuar a comparação?), no geral os escritores são pessoas que entendem ter algo para transmitir, mesmo que disso não tenham o conhecimento teórico, nem se valham de arcabouços pré-estabelecidos.

Tenho a internet como “campo” de resistência da nova e boa literatura, descompromissada dos “negócios” editoriais; libertário e renovador, mesmo que marginalizado, como parece ser – enquanto perdurarem as editoras tradicionais e a (não) visão cultural das autoridades constituídas – o futuro das letras.

NM – Você escreve todo dia, tem horário para escrever, entende que escrever é ofício, dedicação, ou espera a poesia acontecer? Seja como for, de onde vem a poesia? Dos livros, da memória, da vida fora de você (pessoas, coisas, animais, fatos), do espaço, do éter, de Deus ou dos deuses? É preciso buscá-la, fazê-la, ou ela É, Está, bastando ao Poeta captá-la, colhê-la, como se fossem borboletas, nuvens, mistérios em constante passeio?

Pedro – Caro Nilto, escrever faz parte do meu dia a dia. Basicamente, escrevo todos os dias, sem horário fixo. Nem ofício, nem dedicação, nem espera. Necessidade. E quando não estou escrevendo, geralmente, estou lendo e/ou revisando meus textos. Às vezes, as ideias me ocorrem: uma palavra solta, o sentido em alguma leitura, a visão antecipada e o diariamente. Todos e tudo concorrem como inspiração. Nada acontece por acaso. Mas nada se oferece como mistério. Gosto de trabalhar temas e palavras; decompor palavras em palavras menores. Da oposição existente em termos correlatos e/ou parecidos. Da grafia. Da recuperação do significado. Desenvolvi em minha vida profissional a capacidade de “ver” o indevido, o que está fora do padrão, o que está errado ou o que é dispendioso. Não gosto da perda. Afinal, tantas administramos em nossas vidas. Leituras me oferecem inspiração pela abertura em relação aos temas e assuntos. O que deixou de ser dito, o que está nas entrelinhas e por trás das palavras. A indistinção entre o humano, o animal e o objeto. A abstração: retirar da concretude a inexistência e a transformá-la em palavra.

NM – Qual o lugar da poesia escrita? Na estante de outros poetas? Nos livros didáticos, para ensinar meninos a ler? Nas bibliotecas públicas, para satisfazer a curiosidade de ensaístas malucos? No lixo, para ser reciclada, virar filme, música, game, objeto de decoração, suvenir, frente verso de camiseta?

Pedro – Todas as opções podem estar corretas. Mas acrescento a leitura por parte de interessados ávidos por poemas. Pessoas que verdadeiramente se interessam pela poesia como literatura. Obviamente que como não temos “escolas” poéticas, difícil fica internalizar o espírito da poesia. Incutir nas pessoas a faculdade de interagir com o texto, vivenciar e multiplicar metáforas, discutir e realizar o exercício poético necessário ao acompanhamento dos textos, por mais herméticos que sejam. Os “mentores” da nossa sociedade, consumista ao extremo, tentam objetivar o conhecimento e o raciocínio, mas, como sempre, boa parte da população – mesmo consumidores – (ainda) busca se realizar no plano intelectual. Tenho a pretensão de que a poesia não tem limite de validade, nem irá se acabar como literatura, pois a incerteza que permeia nossas relações em relação ao outro e aos outros, e sobre o nosso destino, sempre estará presente em cada pessoa, mesmo que no recôndito de suas almas. Ou num último estertor a separar nossos espíritos da materialidade que nos rodeia em objetos e coisas.

NM – Você escreve todo dia para quem? Para Tânia, para leitores desconhecidos e conhecidos ou para você mesmo? Você se esforça para que a sua poesia não se pareça com anúncio publicitário, notícia, comentário, informação (é o que mais se lê por aí) ou essa dicção é natural em você?

Pedro – Talvez a resposta tenha sido, em parte, respondida na pergunta anterior, quando disse sobre as minhas razões para escrever. Escrevo para o “outro”; seja eu mesmo, seja efetivamente o outro, mesmo que tal não esteja plenamente consciente em mim. O “outro”, como meu interlocutor, permite a fluência dos textos. Por mais hermético, pessoal ou íntimo, todo poema, para mim, é forma de diálogo. Aqui, como na questão anterior, também as demais respostas estão corretas. A Tânia é minha frequência como inspiração e complemento; os conhecidos e os desconhecidos leitores habitam meus temas com suas leituras e retornos. Também sou meu leitor, porque a palavra é meu inconsciente aflorado, mesmo que metaforicamente. Afinal, de quantas infâncias somos feitos, não?

Quando comecei a escrever, metódica e sistematicamente, tive o cuidado de fugir ao lugar comum. Não que me pretenda “difícil” ou “pedante”, mas porque não há razões para eu iniciar a escrever, depois de certa idade, se não for para produzir algo que fuja ao corriqueiro, mesmo que me utilize de formatos não revolucionários, ou que meu palavreado não se esgarce em citações e/ou termos de difícil entendimento. Procuro fazer com que a palavra comum, diria, possa se estender em significados, sendo significante além do estrito sentido do termo. Essa é a minha dicção, naturalmente, sem necessidade de esforço, contenção e desdobramentos acadêmicos.

NM – Não sei o que mais lhe perguntar. Se você quiser, faça sugestão de pergunta. Agradecerei muito. Ou então encerre a entrevista com um recado aos seus leitores.

Pedro – Caríssimo Nilto, agradeço pela sua paciência para comigo. Não tenho como me fazer qualquer pergunta. Aos leitores digo que a leitura – sempre e sempre – é o motor cultural. Existem outras formas de expressão, mas todas passam pela leitura: esboço, arcabouço, traço, letras, palavras. As explicações necessárias ao entendimento da obra – mais das vezes – passam pelo relato, recado, cartas e bilhetes. Mesmo que os textos, ao serem lidos, não sejam do nosso agrado e não nos alterem o sentimento nem os sentidos, são necessários ao entendimento do todo e, principalmente, à possibilidade de vermos neles o futuro. Recomendo a leitura atenta e diária. As anotações. O sublinhar. A atenção despertada em entrelinhas. Quando me canso da leitura, escrevo. E procuro transmitir com as minhas palavras o tanto aprendido e apreendido nas leituras. Interessantes essas minhas colocações, pois, ontem, minha neta mais velha teve o prazer da leitura pela (sua) primeira vez. Deliciou-se. E quer mais.

Poesia e Ação III


A Poesia, figurada e transfigurada no poema, pode ser um processo capaz de fazer um homem voltar sobre si mesmo e de buscar, nessa volta, uma mais nítida compreensão de suas virtualidades como integrante de um Universo em constante mutação, e desvios de sua condição de realizador e consumidor, ao mesmo tempo, de valores íntimos, pessoais.
  Ser poeta representa para mim levar a outro aquilo que ele esqueceu de sentir ou compreender, sem saber como dizer. A Poesia é marca de presença na vida, atuante.  E a vida poderia ser melhor, mais vida, na medida mesma em que as pessoas participassem da Arte. Considerando que a Poesia é uma busca de origens humanamente autênticas, através da linguagem específica, transfigurada e transfiguradora, o homem nela se renovará e encontrará sua infância, suas raízes sentimentais, sem melhor jeito de mentar, de curtir a existência e reinventá-la.
Viver Poesia é um encontrar-se num estágio de constantes descobertas, redescobertas, alumbramentos e perquirições. A Poesia proporciona essa volta às nossas origens menos maculadas – se quiser – menos poluídas de nossos estados anímicos. A Poesia está no prefácio das manifestações humanas e o haverá de acompanhar em todos os seus caminhos através do Universo, pelos séculos.
  Infelizmente, ainda brigamos contra as forças destrutivas da fome, principalmente a fome do estômago. Tenho fé que um dia a Poesia, como manifestação essencial da Arte, será consumida como gênero de primeira necessidade, para sobrevivência neste Planeta do ser integral. Fará falta a Poesia para a inteligência, como o ar e a água para o corpo. Como o arroz e o feijão. Como o petróleo e a energia solar, para que o homem mantenha vivos, sempre, seus sentimentos. 

  Paschoal Motta
  Continua...



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