quinta-feira, 31 de maio de 2012

Agripa de Vasconcelos

Aproveitando a euforia vivida pelos matozinhenses com o grupo Amamos Matozinhos, que está bombando no Face Book, uma homenagem ao ilustre poeta da terra, Agripa de Vasconcelos.  Não conhecia. Fiquei encantada!



    CHUVA DE MAR
                             
                           Agripa de Vasconcelos

"Quando Raquel casou, naquela tarde mansa

Vi desfeito de vez meu sonho de criança. . .
Um desespero atroz meu ser avassalou!
Mas alguém que conhece os mistérios do mundo
Num sussurro me disse um conselho profundo:
- Isso é chuva do mar. Vai passar.
E passou.

Quando, ainda mocinho, eu senti, doido de ira,

Que, parecendo certo, era tudo mentira
O amor que me jurara a pérfida Margot,
Quis Morrer - mas alguém que conhece essa vida
Me falou, sem calor, mas em frase sentida:
- Isso é chuva do mar: Vai passar.
E passou.

Quando Ofélia seguiu seu destino sombrio,

Senti, como ainda sinto, o coração vazio!...
Faz tanto tempo já que nem sei mais quem sou!
Mas quem viu, em meu pranto uma simples garoa
Quis em vão me dizer uma palavra boa:
- Isso é chuva de mar. Vai passar."
Não passou.    



 Martha Tavares Pezzini
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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Infância - poema de Georgiana Gabriela

Georgiana Gabriela da Silva nasceu e reside em  São Pedro dos Ferros

 Seu, o poema,  Infância.


Brincadeiras de criança

Doces lembranças


Que onda!

Pique Ronda,

Pega-Pega,

Cabra Cega.


Passar o anel

de dedo em dedo,

de mão em mão,

descobrir o segredo do coração

infantil, juvenil

Anel? Anel?

Com quem está?


Caí no poço!

Quem te tira?

Meu bem.

Quem é o seu bem?

Esse? Essa?  Ou aquela?

Aquela de blusa amarela

penso eu ,

aquela...  Que vejo na janela.


Perguntaram-me 

Pêra? Uva? Maçã?

Ou salada mista?

Respoda sem pensar!

- Salada mista 

pra não da preguiça.

 

Martha Tavares Pezzini

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sábado, 21 de abril de 2012

Eu, Tiradentes - Um passeio pela obra de Paschoal Motta, com Diego Mendes Sousa

 

    Ontem, postei matéria sobre o livro Eu, Tiradentes do poeta mineiro, de São Pedro dos Ferros, Paschoal Motta. Hoje, volto ao tema, pela data e pelo comentário que acabo de ler  do poeta Diego Mendes Sousa.

    Para quem não teve a oportunidade de ler Eu, Tiradentes, que merece urgentemente  uma reedição, deixo um comentário do escritor  Geraldo Reis:  "O texto, um monólogo é o resultado de acuradaspesquisas e de uma criação poética duma fala caipira, barroca, de um homem do povo, um tropeiro, um raizeiro, um tirador de dentes, um afobado, um revolucioário conhecedor da realidade de seu país.O relato do principal mito da nossa história política contada por ele mesmo."

    E aqui, um texto de Eu, Tiradentes que acho lindo!

   "Relato para o futuro essa tira rasgada da malha do meu destino, de ansiar pela vida afora materialização de cada sonhar; invisível essa malha vem tecendo, sendo rompida, recomposta, um emaranhado impossível de descoser por inteiro."

 (.........................................................................................................)

    De BLOG DE ARTES


Eu, Tiradentes - Um passeio pela obra de Paschoal Motta

Paschoal Motta, excelente Poeta mineiro, no ano de 1992, publicou uma lindíssima obra abordando Tiradentes, em nível tão sublime quanto Cecília Meireles no enigmático Romanceiro da Inconfidência.

 

 

Eu Tiradentes por Paschoal Motta - I



EU, TIRADENTES

Por O Santo Ofício | 21 abril, 2012



Por Paschoal Motta
Celebramos os 220 anos do enforcamento do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Rio de Janeiro, RJ, 21-IV-1792), considerado pelas autoridades da época como o principal envolvido no movimento político denominado Inconfidência Mineira para livrar o Brasil do domínio colonial português. Em seguida, o trecho final do monólogo da narrativa Eu, Tiradentes, de Paschoal Motta, como parte das comemorações do 21 de Abril em homenagem ao Protomártir da Independência do Brasil e Patrono Cívico da Nação Brasileira, conforme a Lei 4897, de 1965.
Joaquim José nasceu em 1746, na Fazenda do Pombal, perto do Arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, entre a Vila de São José, atual Cidade de Tiradentes, e São João del-Rei.


(…)
Bate completa a manhã deste vinte e um de abril de mil, setecentos e noventa e dois, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outra similhante nunca admiro repetida. A mais encantadora de boniteza, lindíssima, com avermelhado Sol no azul e branco do firmamento, meu derradeiro dia entre viventes. Única esperança: o enforcamento de minha pessoa, o banimento dos companheiros confederados, que for pela Pátria, tudo vira em despertar muito brilhante em fogo, luz. Só nesta vontade, comprometimento, ofereço esta vida, em sã, tranquila consciência, apartado do medo da fatal hora do baraço no pescoço, que instinto em si obriga a tal. Bem se arranjem eles e regressem, vencidos os dez anos do degredo em distancíssimas partes fora do Brasil.
Aperto o peito com estas mãos há tanto tempo atadas em ferros; pesado, abençoado grilhão ajustado na garganta, de quase impedir soltar voz, alimentar, deglutir simples cuspe. De igual feição, aprendi amar a eles, pelo carinho da constante companhia, mesmo dolorida, incomodante no corpo, tilintava correntes com distração, elas, um cilício, untadas de suor, meu desespero, minha solidão. Com ditos ferros, consegui amena cantiga no ouvido, noite, noite, no recurso de ainda espaventar ratazana, eu na vigília, sem dormir direito, espichando cada hora, que queria breve. Não lamento, somente relato. Acabo amando em demasia aquilo de minha perdição, meu calvário. Pouco sobra de espaço de tempo em maior declaração. Já aparece em seguida o barbeiro, para tosar cabelo, barba, mais alguém capaz no preparo de minha pessoa, alma, tirante Vossas Mercês já aqui. Nem derrota, nem derradeira vira essa jornada unicamente minha; para vida, para morte, sempre traço desassossegado caminho no rumo da aventura, no almejo do bem pessoal, do próximo, maneira de existir, em desde menino.
Onde anda a alma de minha mãe, de meu pai, dos quais mal diviso retratação na saudade; meu pai Domingos, minha mãe, Antônia da Encarnação; meu irmão mais velho, xará de meu pai; minha irmã Maria Vitória, meu irmão Antônio, meu irmão José, minha irmã Eufrásia, minha caçula, xará de minha mãe? Em que partes residem? Para onde fugiram todos pela maldição de serem meus afins? Deles, jamais notícia chegou, depois da prisão. Antônia Maria, queridíssima companheira, mãe de minha pequena Joaquina? Que delas prepara a vida? Onde todos eles? Fugidos, escorraçados por perseguição em causa do mesmo sangue nestas veias? De todos, assaz necessitada: a menina Joaquina, com nem seis anos de idade. Imagino minha filha, menininha, pela mão da mãe se acoitando do medo, em Villa Rica, indo em fuga, assustadinhas, no recurso de sobrevivência, que nem teto agora dispõem, modo rebuçar de chuva, frio, elas também amaldiçoadas.
A malha da liberdade pode aparecer como desfeita, mas logo haverá recomposta.
Em antes de bater meio-dia, assistirei já em desconhecida paragem.
Medo qualquer entra neste coração. Por pura felicidade, providencial, divino destino, este corpo, esquartejado, falará, não como escarmento projetado pelas autoridades, e sim provocação para o povo nacional proceder liberto de despotismo. Por divina Providência, determina a sentença permanecer espetada esta cabeça em alto, visível poste em praça pública de Villa Rica, já antes expostos pedaços deste corpo pelos caminhos. Acendo, mudo, assim fé no estabelecimento da nação brasileira.
Quente viaja o Sol, já alto. Derrubam casa de morada da Maria Antônia, da pequena Joaquina; salgam terreno dela arrasado nem querendo as autoridades conhecer onde homiziam suas inválidas pessoas.
Amanhecem bem dormidos os companheiros, aliviados do pesado terror de morte na forca. De outros, escasso tempo disponível não permitiu referição, em cada seu particular, ação na inconfidência; bastante saudoso no coração, despeço-me. A eles, um por um; a cada qual deixo humilde dote de amizade, com súplica de perdão pelo desatino provocado em sua existência, indo todos em degredo para distantes partes, despojados de teres, haveres, queridos familiares, amigos.
Valeu; vale vida, mesmo sobrevindo inesperado desacerto. Vale não quietar existência no seu particular bem-bom; vale sair, gritar na inteira força da voz, enquanto da rua bate no ouvido murmúrio de opressão; enquanto da parede da meia-água do vizinho, divide choro renitente duma criança pequena na fome, aflita mãe, desiludido pai. Valeu batalha; vale ansiar soltura enquanto entra janela adentro, da praça, berro dum escravo debaixo de bacalhau de couro cru, dobrado, preso num vira-mundo. Urge convergir para vera amizade: amor; dela, dele, não encontra um escapatória, ninguém, um dia. Vossas Mercês haveriam repetição do que pratiquei, idealizei, de frente, como andei, desarmado de mau sentimento, sonhando apenas felicidade, alegria no rosto, no coração. Qualquer, em sã consciência, praticava igual comigo, assistindo vexação do povo, no aproveito de uns poucos. Este o destino: não acaba uma vida com a morte, nem fogo queima uma idéia; nenhum ferro segura a liberdade.
Aí envém o carrasco Capitania no preparo de meu corpo para enforcamento, e a roupa trago esfarrapada, crescido cabelo, longa barba. Adeus. Eu, Tiradentes beijo a mão de Vossas Mercês e a do carrasco…


Fragmento de Eu, Tiradentes, Paschoal Motta, Editora Lê, Belo Horizonte, 3ª. edição, 1992.


Vale a pena, aproveitando a data recomendar a leitura desse livro. E  também lamentar pelo afastamento do seu autor,  das nossas estantes.
Minha homenagem ao grande herói, Tiradentes e a Paschoal Motta. 

Martha Tavares Pezzini 


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sexta-feira, 20 de abril de 2012

 
ALFERES TIRADENTES, AINDA VIVO
 
 
Celebramos os 220 anos do enforcamento do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Rio de Janeiro, RJ, 21-IV-1792), considerado pelas autoridades da época como o principal envolvido no movimento político denominado Inconfidência Mineira para livrar o Brasil do domínio colonial português. Em seguida, o trecho final do monólogo da narrativa Eu, Tiradentes, de Paschoal Motta, como parte das comemorações do 21 de Abril em homenagem ao Protomártir da Independência do Brasil e Patrono Cívico da Nação Brasileira, conforme a Lei 4897, de 1965.
Joaquim José nasceu em 1746, na Fazenda do Pombal, perto do Arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, entre a Vila de São José, atual Cidade de Tiradentes, e São João del-Rei.
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Bate completa a manhã deste vinte e um de abril de mil, setecentos e noventa e dois, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outra similhante nunca admiro repetida. A mais encantadora de boniteza, lindíssima, com avermelhado Sol no azul e branco do firmamento, meu derradeiro dia entre viventes. Única esperança: o enforcamento de minha pessoa, o banimento dos companheiros confederados, que for pela Pátria, tudo vira em despertar muito brilhante em fogo, luz. Só nesta vontade, comprometimento, ofereço esta vida, em sã, tranquila consciência, apartado do medo da fatal hora do baraço no pescoço, que instinto em si obriga a tal. Bem se arranjem eles e regressem, vencidos os dez anos do degredo em distancíssimas partes fora do Brasil.
Aperto o peito com estas mãos há tanto tempo atadas em ferros; pesado, abençoado grilhão ajustado na garganta, de quase impedir soltar voz, alimentar, deglutir simples cuspe. De igual feição, aprendi amar a eles, pelo carinho da constante companhia, mesmo dolorida, incomodante no corpo, tilintava correntes com distração, elas, um cilício, untadas de suor, meu desespero, minha solidão. Com ditos ferros, consegui amena cantiga no ouvido, noite, noite, no recurso de ainda espaventar ratazana, eu na vigília, sem dormir direito, espichando cada hora, que queria breve. Não lamento, somente relato. Acabo amando em demasia aquilo de minha perdição, meu calvário. Pouco sobra de espaço de tempo em maior declaração. Já aparece em seguida o barbeiro, para tosar cabelo, barba, mais alguém capaz no preparo de minha pessoa, alma, tirante Vossas Mercês já aqui. Nem derrota, nem derradeira vira essa jornada unicamente minha; para vida, para morte, sempre traço desassossegado caminho no rumo da aventura, no almejo do bem pessoal, do próximo, maneira de existir, em desde menino.


Onde anda a alma de minha mãe, de meu pai, dos quais mal diviso retratação na saudade; meu pai Domingos, minha mãe, Antônia da Encarnação; meu irmão mais velho, xará de meu pai; minha irmã Maria Vitória, meu irmão Antônio, meu irmão José, minha irmã Eufrásia, minha airmãzinha caçula, xará de minha mãe? Em que partes residem? Para onde fugiram todos pela maldição de serem meus afins? Deles, jamais notícia chegou, depois da prisão. Antônia Maria, queridíssima companheira, mãe de minha pequena Joaquina? Que delas prepara a vida? Onde todos eles? Fugidos, escorraçados por perseguição em causa do mesmo sangue nestas veias? De todos, assaz necessitada: a menina Joaquina, com nem seis anos de idade. Imagino minha filha, menininha, pela mão da mãe se acoitando do medo, em Villa Rica, indo em fuga, assustadinhas, no recurso de sobrevivência, que nem teto agora dispõem, modo rebuçar de chuva, frio, elas também amaldiçoadas. 

A malha da liberdade pode aparecer como desfeita, mas logo haverá recomposta.
Em antes de bater meio-dia, assistirei já em desconhecida paragem.
Medo qualquer entra neste coração. Por pura felicidade, providencial, divino destino, este corpo, esquartejado, falará, não como escarmento projetado pelas autoridades, e sim provocação para o povo nacional proceder liberto de despotismo. Por divina Providência, determina a sentença permanecer espetada esta cabeça em alto, visível poste em praça pública de Villa Rica, já antes expostos pedaços deste corpo pelos caminhos. Acendo, mudo, assim fé no estabelecimento da nação brasileira.
Quente viaja o Sol, já alto. Derrubam casa de morada da Maria Antônia, da pequena Joaquina; salgam terreno dela arrasado nem querendo as autoridades conhecer onde homiziam suas inválidas pessoas.
Amanhecem bem dormidos os companheiros, aliviados do pesado terror de morte na forca. De outros, escasso tempo disponível não permitiu referição, em cada seu particular, ação na inconfidência; bastante saudoso no coração, despeço-me. A eles, um por um; a cada qual deixo humilde dote de amizade, com súplica de perdão pelo desatino provocado em sua existência, indo todos em degredo para distantes partes, despojados de teres, haveres, queridos familiares, amigos.
Valeu; vale vida, mesmo sobrevindo inesperado desacerto. Vale não quietar existência no seu particular bem-bom; vale sair, gritar na inteira força da voz, enquanto da rua bate no ouvido murmúrio de opressão; enquanto da parede da meia-água do vizinho, divide choro renitente duma criança pequena na fome, aflita mãe, desiludido pai. Valeu batalha; vale ansiar soltura enquanto entra janela adentro, da praça, berro dum escravo debaixo de bacalhau de couro cru, dobrado, preso num vira-mundo. Urge convergir para vera amizade: amor; dela, dele, não encontra um escapatória, ninguém, um dia. Vossas Mercês haveriam repetição do que pratiquei, idealizei, de frente, como andei, desarmado de mau sentimento, sonhando apenas felicidade, alegria no rosto, no coração. Qualquer, em sã consciência, praticava igual comigo, assistindo vexação do povo, no aproveito de uns poucos. Este o destino: não acaba uma vida com a morte, nem fogo queima uma idéia; nenhum ferro segura a liberdade.
Aí envém o carrasco Capitania no preparo de meu corpo para enforcamento, e a roupa trago esfarrapada, crescido cabelo, longa barba. Adeus. Eu, Tiradentes beijo a mão de Vossas Mercês e a do carrasco...
(de Eu, Tiradentes, Paschoal Motta, Editora Lê, Belo Horizonte, 3ª. edição, 1992)

MarthaTavares Pezzini
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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Do Facebook: Bienal

  • O autor e teólogo Leonardo Boff esteve na #bienalbrasil para apresentar a palestra "Fé, fanatismo e conflitos políticos no mundo atual". Antes do debate, Boff conversou com a nossa equipe sobre a importância de se debater esse assunto na Bienal e sobre a relevância da utilização da internet em conflitos políticos. Confira a entrevista.

    http://snd.sc/IXlyGy
    soundcloud.com
    A equipe da #bienalbrasil conversou com o autor Leonardo Boff. Confira.
    · · · há 18 minutos ·
  • Hoje à noite na Bienal: palestra ''De Getúlio a Lula: a perspectiva de um estrangeiro sobre grandes líderes'' com Richard Bourne (Inglaterra) às 18 horas no Café Literário. Tem também o semnário Krisis - Meio Ambiente com Vandana Shiva (Índia) e John Gray (Inglaterra) às 20 horas no Auditório Nelson Rodrigues. No mesmo horário, Eliane Cantanhede media o seminário ''Biografia, biógrafos e biografados''. Não percam!
    · · · há 6 minutos ·
  • Alterações na programação de hoje da Bienal:

    A ministra do meio-ambiente, Izabella Teixeira, não estará presente no seminário Krisis marcado para as 20 horas.

    O autor John Gray fará sessão de autógrafos no auditório Nelson Rodrigues após a apresentação do seminário.