quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sossego ou desassossego - Martha Tavares Pezzini





“... O que eu quero? – Sossego!”


"...Eu bem que contei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu...”


Tim Maia cantava: “ o que eu quero? – Sossego!” 
Quero um sossego, que me sossegue das coisas que não estão me interessando. Mas não quero me livrar do desassossego das outras.
A inquietação ante a perplexidade da vida não quero deixar. Ficar vendo o tempo passar, na janela, como  lindamente cantou o Chico, é não ter nada para correr atrás e isso é o fim. Temos de estar sempre à espera de uma realização ou mesmo das pequenas alegrias que fazem parte do nosso dia a dia.  E pensar na vida como um grande filme que tem um magistral Diretor, nos sugerindo as ações enquanto nos deixa  decidir  como interpretar nossas melhores cenas e ainda editar, mudando para melhor.
Olhando-me no espelho percebo o acelerar das mudanças em meu rosto. Também meu corpo e meus movimentos já não são os mesmos. Inquieta-me? Mas há uma vida a ser vivida oferecendo tantas alegrias e opções que não damos conta de analisar todas para fazermos uma seleção. Temos de ter um olhar atento para distinguir aquelas  que merecem  tratamento especial. 
Enquanto escrevo  me dou conta de que me sinto feliz por pequenas coisas do dia a dia. Estar ao lado do meu marido e ajudá-lo nas suas dificuldades, pequenos agrados às minhas filhas ou dar uma atenção especial a pessoas mais simples que encontro no meu caminho. E é claro que amigos são imprecindíveis e não há nada melhor do que estar com eles.  São coisas que acalmam, sossegam o espírito. Desse tipo de sossego não podemos abrir mão!

Paschoal Motta: De um diário ocasional


 Crônica de um poeta falando da sua iniciação lírica ouvindo o Poeta da Vila, nos "cafundós" da Zona da Mata, ou melhor, em São Pedro dos Ferros! 
 MTP

 DE UM DIÁRIO OCASIONAL

Estou em São Pedro dos Ferros. Tem um bar perto e vez por outra vou lá tomar algumas, papear e jogar sinuca... De noite, calor, quase 23 horas. Aí para um carro, e o motorista se integra a amigos dele na calçada. E, para variar, liga o indefectível "som" e, para não perder o costume, a todo volume com dessas "músicas" que dominam e bombam audiências... E, para ficar tudo de conforme,o filhote do paizão canta a toda goela com o "cantor" do som do carro. A educação musical também deve  ser de berço... Eta ferro! Tinha de ver o entusiasmo do pequeno ferrense: "... ai que vontade de morrer / se eu não ter seu coração / se não quer me amar...
O menino, uns 10 anos, no máximo, gritava ao pai, gritava para mostrar que ele também sabia fazer bonito, enquanto tomava fôlego... Penso com meu copo de cerveja: isso é no Brasil, do Oiapoque ao Chuí...

Cortar para outro menino, também de dez anos, lá nos cafundós da Zona da Mata Mineira, por coincidência, escutando Almirante narrando a vida do Poeta da Vila (Isabel) e apresentando, de entremeio, composições do moço carioca, que cascou no cerrado o mais depressa que conseguiu... E o menino interiorano não tinha ainda rádio em casa. Toda quarta-feira, de noite, pedia à mãe para ir escutar na casa da irmã o programa que o tinha fisgado e o irá moldar, esteticamente, pelos tempos vindouros... E ele também cantava, quase em silêncio, para decorar as letras do Poeta da Vila..."Quem acha vive se perdendo / por isso a agora vou-me defendendo / da dor tão cruel de uma saudade... /// Quando o apito da fábrica de tecidos / vem ferir os meus ouvidos / eu me lembro de Você... /// Nosso amor que eu não esqueço / e que teve seu começo / numa festa de São João... /// Pra que mentir, / se tu ainda não tens a mania / de toda mulher... / se eu sei que gostas de outro / que te diz que não te quer...
E aquele menino, que nem tinha rádio em casa, ficava, antes de dormir, de ouvido fora do travesseiro, antenado, para captar algum raro rádio que trasmitisse algum samba do Poeta da Vila, e ele pegasse mais algum verso para completar o que até então tinha decorado...E conseguia. E sem querer, por simples coincidência, afinava o ouvido numa cadência...Logo depois, ele ia conhecer Castro Alves...  Auriverde pendão de minha terra / que a brisa do Brasil beija e balança...
A cabeça não cabia tanto, e o menino ia entulhando a fala nacional num ritmo, num envolvimento, numas estruturas, numas expressividades, nuns encantos, nuns encantamentos, e ele também começava a imitar e chamar de poemas... para seguir menino.
PM, 28-10-2012

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Auto - Educação, Parte II





Citações e comentários feitos por Ronei Pezzini


"Nessas minhas andanças apareceram alguns MARCOS, pontos angulares, desviando minha consciência para uma direção diferente da que décadas de ensino padrão mais um pouco de curiosidade e rebeldia (de então) estavam guiando.
Citarei alguns, pois não tenho espaço para dar às obras o tratamento que merecem. Cabe aos interessados escolherem aprofundar e principalmente escolherem se deixam ou não se influenciar por elas."




1) Zeitgeist (documentário livre)


Link: http://www.zeitgeistmovie.com


Excelente documentário feito por Peter Joseph, lançado para download gratuito em vídeo e que cativou minha curiosidade a ponto de seguir o site e absorver mais informações a respeito. De maneira alguma concordo com tudo que ele disse - leia essa frase mais duas ou três vezes, por favor. Leu? Então, como dizia, de maneira alguma afirmo ser verdade tudo o que ele diz, mas uma coisa eu tenho que tirar meu chapéu: é um chamado ao QUESTIONAMENTO. Aos perigos de aceitarmos tudo sem nos aprofundarmos.


No fórum do site, vi uma excelente resposta do próprio Peter Joseph a um post que criticava e apontava erros sobre o Egito Antigo e mesmo sobre a Bíblia - ele agradeceu ao interlocutor por ter duvidado, falando que o moto do artigo era sobre QUESTIONAR as informações que recebemos, mesmo que esse questionamento seja contra o próprio texto (e vídeo) dele. Apenas pediu que, se a pessoa quer de fato refutar o que ele disse, com todas as referências literárias e de pesquisas reais (referências em enorme quantidade e que ele publicou e pediu aos seguidores que confirmassem por si mesmos), que não viesse armado apenas de wikipedia e alguns sites ou grupos tendenciosos da opinião contrária; que venha com textos de cientistas válidos e que em suas obras abriram espaço para o contraditório. Questionar citações que falam mal da Bíblia citando a própria é no mínimo um contra-senso.


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2) Anexos do livro Estado do Medo e demais comentários sobre Ambientalismo pelo Dr. Michael Crichton, médico formado em Harvard e que acontece de ser TAMBÉM um escritor de techno-thrillers:


Link 1: http://www.crichton-official.com/essay-stateoffear-whypoliticizedscienceisdangerous.html


Link 2: http://scienceandpublicpolicy.org/commentaries_essays/crichton_three_speeches.html


O que ele conclui depois desse que é mais um (bom) livro de ficção, um techno-thriller, vale para abrirmos nosso olhos em relação ao que pensamos, e mesmo como somos manipulados. Estressa temas como a falta de certeza que muitas pessoas - inclusive cientistas - têm, mas ainda publicam seus artigos como se fossem verdades sólidas.


Critica a completa falta de responsabilidade da imprensa - termo aqui usado para explicar que a imprensa não é punida por danos que suas informações quando falsas possam causar, por histerias em massa que suas dramatizações para efeito de resposta emocional possam incutir no imaginário dos espectadores ou em geral simplesmente por poder INVENTAR o que quiser sem que seja obrigada a desmentir ou se desculpar por isso.


Indo além, mostra que existe uma arrogância dos ditos “especialistas” a respeito do que de fato conhecemos e critica as estatísticas que são repetidas por outras emissoras pois “já está escrita em uma publicação, só pode ser verdade”. Especiais menções para a história da criação do que ele chama de "primeira reserva ecológica do mundo" o Parque de Yellowstone, onde uma sucessão ininterrupta de erros catastróficos com propósitos benéficos atrapalhou a conservação local mais do que se houvéssemos deixado a mata como estava; e para a estatística de quantas espécies animais são extintas a cada ano, sendo que NINGUÉM SABE quantas espécies existem no mundo, rendendo a tal estatística um valor de veracidade nulo.


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3) Mera Coincidência (filme)


Link: http://www.imdb.com/title/tt0120885/?ref_=fn_al_tt_1


A formação de um ideal no imaginário popular e a manipulação das informações pelas estruturas do poder. Menção honrosa para a força dos diálogos, onde você perde muita informação (e ironia brutal) se piscar o olho. "Ele acabou com a guerra? Por quê alguém iria querer fazer isso?"


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4) Razões para a Guerra (documentário)


Link: http://www.imdb.com/title/tt0436971/


Mostra uma previsão acertada feita pelo então presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, ainda em 1961, sobre o Complexo Militar-Industrial. Lá vemos como as guerras são criadas, em certo ponto reafirmando coisas vistas em Zeitgeist e no próximo item...


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5) Tiros em Columbine (documentário)


Link: http://www.imdb.com/title/tt0310793/


Tenho uma certa antipatia quando o Michael Moore quer ser mais visto do que o assunto do qual ele está tratando, não gosto da forma aparentemente falsa como ele tenta criar empatia resultando em um embaraço sem sinceridade mas acho inegável muito do que ele diz. Essa obra começou como uma análise do amor americano pelas armas, partindo do massacre em Columbine High, mas como ele diz nos extras, a coisa foi evoluindo para uma conclusão diferente do que ele esperava.


O ponto que muda o foco do documentário é a descoberta e análise da estatística (válida para 2002, quando foi lançado) de que o CRIME havia diminuído em 30% mas A COBERTURA MIDIÁTICA DO CRIME havia aumentado em 600% no mesmo período. Destaque para uma das melhores entrevistas que ele fez, com o roqueiro Marilyn Manson.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Ronei Pezzini: Auto-Educação



A visão de um jovem que hoje já está na fase madura, vai focar, na segunda parte a ser postada, as leituras que o influenciaram na sua chamada auto-educação. Ronei é um leitor ávido desde criança. Inteligência brilhante. Aguardo ansiosa, seu livro.
MTP 

Existem diversos marcos na minha auto-educação, aquela que eu assumi após as instituições de ensino e pregações da sociedade cessarem sua influência modificadora em mim. Não que estas estejam erradas, longe de mim ser aquele jovem rebelde querendo transgredir apenas pela transgressão, apenas que educação formal e informações da sabedoria popular todos nós devemos (ou ao menos deveríamos) ter. Também não quero dizer que tal pressão social algum dia acaba, apenas que ela não mais me forçava a fazer ou a pensar da forma como tentavam convencer, vender ou mesmo enganar a si mesmos querendo nos levar junto.

Não, eu estou falando depois de completada a etapa acadêmica que nos dispusemos a fazer - seja ensino primário, terciário, plenipotenciário ou penitenciário, o sabor da sua escolha. Estou falando de depois dos nossos tios ou vizinhos, primos ou coleguinhas do curso de windows-word-excel acharem que não há nada mais para nos ensinar, que estamos prontos. Ok, exagerei aqui, visto que é uma impossibilidade prática atingir tal consenso. Consideremos então que estou falando de depois que eles concluam que não temos mais esperança, somos um caso perdido e assim, sem avisar, nos deixam em paz. Quando caímos no mundo como um indivíduo não como um projeto de pessoa-modelo (que na verdade não existe), por assim dizer.

A partir desse ponto, cada um de nós pode ESCOLHER o que quer aprender, focalizar sua curiosidade aonde bem entender, sem ter uma legião de "coleguinhas" aprendendo ou pelo menos sendo expostos às mesmas informações como vinha acontecendo desde a escolinha. O que eu escolhi ler não necessariamente é escolhido pelos que caíram nesse conjunto-universo ao mesmo tempo que eu e assim a partir daí a nossa educação passa a ser individual, exclusiva, apenas para nós.

Dessa forma fui seguindo, sendo um leitor ávido em relação a alguns de meus pares (se o critério a se obedecer for o da quantidade) ou sendo um leitor limitado para muitos (ao se levar em conta a temática pouco diversificada, por ter largado o chato do Sartre, por nem ter pensado em ler Nietsche ou como se soletra?, por considerar Baudelaire ou Tchekov nomes bacanas para citar, mas que nunca li).

Eis que nessas andanças apareceram alguns MARCOS, alguns pontos angulares, desviando minha consciência para uma direção diferente da que décadas de ensino padrão mais um pouco de curiosidade e rebeldia (de então) estavam guiando.

 Ronei Pezzini