sexta-feira, 31 de julho de 2015

Barulho - Martha Tavares Pezzini



Escrito no desespero causado por barulho de máquinas, asfaltando minha rua durante a noite.


Barulho vindo da rua, máquinas em ebulição,
invade meus tímpanos, meu corpo inteiro freme.
Onde a almejada calmaria noturna?
Desbaratada está, em meio  ao fragor espicaçado
dessa ação insana, que  não podemos controlar!
O inevitável chega sem avisar e sem tempo marcado para acabar. 
Tantos barulhos nos afligem, nos desestabilizam. Nada a fazer. Vão-se as tempestades.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Performance - Rogerio Zola Santiago





  Rogerio Zola Santiago nos fala sobre a performance:

"A origem da palavra performance também tendo como subjetivo o desempenho vem da tradição egípcia primeiramente usada como um termo relativo às artes do espetáculo. A “Performancey” era um ritual de encontro de artistas itinerantes que no final de um longo dia de trabalho construindo pirâmides, se encontravam para praticar as mais diversas artes e se divertir. Hoje, a palavra performance é tida como um evento no qual um grupo de artistas (ou artista) cria algo fora do comum, podendo envolver teatro, musica, cinema, literatura, e outras artes.
Por ser tão abrangente, misturar vários tipos de arte e ter origem nas vanguardas, onde se pregava a liberdade, a Performance é um dos meios de expressão mais difíceis de delimitar contornos específicos. Com a busca pela liberdade, a partir dos anos 1950/60, evitou-se a possibilidade de buscar conceitos que delimitassem até que ponto uma forma de expressão possa ser considerada uma performance.
A performance pode ser entendida como uma função, como um novo gênero, como uma fusão de gêneros, como um gênero multidisciplinar, como evento, como intervenção política ou ambiental, como ritual, ou como pura ação ou presença. No esforço por defini-la conceitualmente, Marvin Carlson cita a observação de Mary Strine, Beverly Long, e Mary Hopkins no artigo “Research in Interpretation and Performance Studies: Trends, Issues, Priorities” onde se entende performance como um conceito que se contesta a sí mesmo. Esta expressão, formulada por W.B. Gallie, se refere a conceitos, como a arte e a democracia, que não somente consideram, senão que incorporam o desacordo em si mesmos, o que implica num permanente potencial de valor crítico a respeito de nossos próprios usos ou interpretações do conceito em questão (Strine, Long, Hopkins e Gallie in Carlson 1996 p.1).
Erik MacDonald sugere que a performance abriu na arte espaços antes inadvertidos na rede representacional do teatro, problematizando suas próprias categorizações e situando a especulação teórica dentro da dinâmica teatral. (MacDonald in Carlson 1996 p.1). Ao examinar o século xx a partir dessas perspectivas, é possível afirmar que a Performance redefiniu a cultura ocidental em todos os campos. A arte, a política, o mercado, a teoria e a vida cotidiana têm sido renovadas através das perspectivas colocadas pelos estudos da performance, revelando a performatividade social e apagando, ao mesmo tempo, as fronteiras disciplinares.” (Davini, O Beijo de Romeu e Julieta)
A performance é uma forma de expressão artística que contesta a si mesma, sendo tão interdisciplinar que ainda não é possível e nem preciso criar contornos de delimitação. Porém, em todas as tentativas de conceitualização, a mais simples e abrangente, assim como o próprio meio de expressão artística, é o de performance como “escultura com vida”, criada por Gregory Battcock, onde a figura do artista é o instrumento de arte. É a própria arte. É isto oque fizeram Mell Renault e Angela Geo, durante o Terças Poéticas de Wilmar Silva de Andrade, no Palácio das Artes de Belo Horizonte, no dia 14 de julho, de 2015.
Tida como “arte viva”, a performance foi primeiramente criada com o intuito de quebrar o molde da arte dominante e foi estabelecida como um catalisador de novas idéias. A performance não nasceu para ser classificada, nasceu da necessidade de certos grupos de poderem trabalhar livremente todas as artes de uma só vez. Por que existir barreiras? Por que dividir tudo? Por que se limitar ao teatro se tudo acontece fora dele? Devemos repensar."
Vide estimados amigos e amigas: Laura Medioli, Liliane Carneiro Costa, Nadja Abdo, Fabio Lucas, Antonio Sergio Bueno, Patrice Thomaz, Leo Scarov Duarte, Aline Pires, Wilson Chaves Jr, Dinorah Maria Do Carmo, Maria Lucia Pio Simões, Edilene Torino, Fernando Benicio, Abadia França, João Batista Santiago Sobrinho, Bianka De Andrade Silva, Isabela Teixeira da Costa, Isabela ReyDi, Christian Guimaraes, Lilian Lucia Silva Chaves, Katia Matos, Sérgio Mitre, Melquiades Lima, Sérgio Galdino, Leo Cunha, Luiz H. Oliveira, Luiz Fernando Rocha, Heloisa Aline e Almir Tavares. Clausy Soares, Judis Grimberg e Rafisa Canals Canals. Giselle Ferrara, Fatima Bessa, Maria Do Carmo Arreguy Corrêa e Simone Zanol. Fabíola Farias e Sérgio Abritta, Leonidas J. Oliveira e Iris Chaves. Martha Tavares Pezzini e Martha Pires, Marta Guerra G e João Evangelista Rodrigues.
Para Walther Nawarro também.


domingo, 12 de julho de 2015

Novo comentário do livro Por onde andei levei meus sonhos



Maravilha! A escritora, poeta e pedagoga Martha Tavares Pezzini será merecidamente homenageada no dia 14 de julho, no Palácio das Artes, por sua obra literária "Por onde andei levei meus sonhos" - de rara beleza e pureza poética. Em destaque neste livro, a passagem em que ela, mesclando prosa poética em poiésis encantadora, fala do pilão, do piano, e das lembranças agora só da autora que se recorda de seu amado papai.
Rogerio Zola Santiago - Jornalista, crítico literário.


terça-feira, 7 de julho de 2015

Novo comentário do livro Por onde andei levei meus sonhos






"Fui presenteada com uma ótima leitura. Sabe que eu me identifiquei muito com “Doces Férias”, dentre outros. Impressionante como você descreveu toda a minha experiência e emoção. A única diferença foi o nome do lugar. No meu caso não era Guarapari e sim São Francisco no Rio de Janeiro. A medida que ia lendo ia me identificando, foi como, se passasse um filme do que eu vivi. Adorei!  O “Por Onde Andei Levei Meus Sonhos” é uma delícia de se ler. Você escreve de uma maneira leve e simples o que torna a leitura mais prazerosa. Parabéns pelo trabalho. Continue se dedicando a nos presentear com suas obras." 
Floripes Pampulini Assis Diniz - Belo Horizonte, MG

quinta-feira, 25 de junho de 2015

José Rezende Jr na FLI BH

 José Rezende Jr, escritor com um currículo invejável, vencedor do JABUTI 2010, na categoria Contos e Crônicas. Primo do meu querido sobrinho (casado com minha sobrinha Fernanda), Henrique Antônio Carvalho Braga, insigne professor da UFJF. Estará no debate da FLIBH, dia 26, sexta feira, às 8,30 horas. Não deixem de ler seus mini contos! Vocês não terão vontade de parar! Estarei lá, com certeza!
Martha

 

José Rezende Jr.

Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor), de José Rezende Jr., mereceu o Jabuti 2010, na Categoria Contos e Crônicas. Considerado o mais prestigioso prêmio literário nacional, o Jabuti costuma, como se sabe, representar uma distinção, sugerindo, na pior das hipóteses, um olhar mais atento aos contemplados. O jornalista José Rezende Jr. estreou na ficção em 2005, com o livro A mulher-gorila e outros demônios, também publicado pela editora 7Letras. Em sua página na internet (wwww.joserezendejr.jor.br), o autor traça um perfil de si mesmo, que se fecha com a informação:
Devoto de Guimarães Rosa, José Rezende Jr. foi buscar num dos versículos de Grande sertão: veredas o estímulo que faltava para mudar de vida depois de tanto tempo de relacionamento passional com o jornalismo impresso: “O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior”.
O livro premiado em 2010, organizado em torno da temática amorosa enunciada no subtítulo (temática, aliás, aqui dotada de conotações peculiares), traz uma epígrafe extraída das estórias do mesmo Guimarães Rosa: “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro”. No livro de estréia, duas epígrafes, ainda de Rosa: (1) “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais”; e (2) “Ouvi minhas veias”.
Se o leitor desta resenha vislumbrasse por aí algum excesso de Guimarães, meu primeiro gesto seria o de contestá-lo. Não, meu caro, eu diria, escrever literatura não é uma atividade solitária. Como sugerem, aliás, as incursões borgianas por bibliotecas constituídas como labirintos. Escrever é sempre perambular em uma biblioteca, povoada por fantasmas evocativos de outros fantasmas, por sua vez alusivos a outros e outros e outros, enfim. Que um livro module sua voz caminhando por sobre ombros os mais diversos não é fato, portanto, que surpreenda ou emocione.
A devoção a Rosa, de resto, não obstrui ou contamina o forte impacto recebido já na leitura da primeira estória do livro, Eu morrendo e você pintando as unhas de vermelho. Como anuncia a orelha: “É forte, profundamente triste, mas impecável”. Iniciando-se em letra minúscula e organizado em um parágrafo que se fecha com o único ponto do texto, o conto pode fazer pensar em um suspiro que se prolonga à busca de uma permanência já inexeqüível, desdobrando uma certa voluptuosidade mórbida disseminada pelas palavras que o constituem. O amor cuja trajetória o texto estrangula, restringindo-a a um momento agônico devolve-nos à epígrafe: “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro”.

Erotismo
O sentido de amor distende-se ainda mais no conto que empresta o título ao livro e que flagra com intensidade ímpar as perturbações que a alteridade impõe ao que pudesse ser tomado como identidade. Enfim, algo que remete ao campo semântico mais usual da palavra amor, em que o olhar do outro corrige, ou reveste de sublime o olhar que o sujeito se permite depositar sobre si próprio. Como no lirismo bem dosado da estória de encontro súbito, de Desastres marítimos, em que Amor é, ainda, possibilidade de existência e via de acesso a algum tipo de “salvação”. Como na difícil senilidade do amor e de seus atores, em Senhor capitão. Como nas ousadas agressões incestuosamente sexualizadas de Conto de horror. Como nas ambíguas relações comerciais do amor venal, ainda amor, em Origami. Em todos os casos, o mesmo pássaro e seus ovos de ferro.
O erotismo que perpassa boa parte desses contos também merece alguma consideração. Notadamente masculino (para lançar mão de uma tipificação redutora, mas que talvez elucide a que me refiro), parece referido a um universo com traços definidores que sugerem o rústico, em alguns casos o rural ou um submundo urbano ou, ainda, uma urbanidade interiorana. A pronunciada genitalidade se faz acompanhar pela reincidência de um tipo de excitação erótica de intenso apelo visual. A nudez feminina é oferecida com impacto e apelo, com alguma crueza e, em alguns casos, uma urgência aguda que, não obstante, permite o contato com outras urgências, de cunho nada físico:
Esgueiraram-se juntos, por tempo indeterminado, pelo corredor comprido e escuro, até que ela abriu uma das portas e o puxou para dentro e fechou a porta com o pé já descalço e o empurrou para a cama, sem uma palavra. Despiu-se com a mesma pressa juvenil e na ordem inversa de sempre: antes de tudo a calcinha, depois o vestido, por último o sutiã, quase arrancando os colchetes. E nua, com a mesma urgência juvenil, desafivelou, dele, o cinto, e baixou-lhe até o meio das pernas a calça cor-de-viagem. E não houve beijos, nem abraços, nem tempo a ser desperdiçado, como no tempo da construção da estrada. Glaura sentou-se sobre ele e ele reconheceu cada um dos movimentos de Glaura, os quadris ondulando à deriva, o ritmo dos cheiros e das respirações, a mesma seqüência antiga dos gozos, o primeiro como se fosse calmaria desesperada, o segundo e o terceiro emendados, quase um só e no entanto dois, feito gozos siameses, e o último dolorosamente silencioso, agônico, emoldurado por tremores febris. Seguiu os passos de Glaura nesse último gozo, tímido e imóvel o quanto pôde, feito um espectador reverente que contém os aplausos temendo interferir na atuação da estrela até não ser mais suportável prosseguir assim, imóvel e reverente, até o aplauso final em forma de jorro morno, até sentir-se murcho como as flores velhas, pegajoso como o asfalto novo.
Visão turva
Sem que exatamente discorde do autor da orelha do livro (“o livro se compõe de estórias de amor; mas não se engane: não é daquele amor com letras maiúsculas, romântico, repleto de clichês que José Rezende extrai sua literatura”), sublinharia que algumas imagens recorrem no conjunto dos contos, configurando, também, uma certa gramática amorosa: corpos (femininos) que permanecem rígidos e vigorosos a despeito da perda de viço de seus pares masculinos, sexo urgente e substitutivo, uma representação física do afeto, uma quase imanência do amor que submete deliciosamente o sujeito masculino. O que, aliás, colabora de modo bastante coerente com os traços constitutivos do conjunto do universo ficcional configurado em alguns destes contos.
No entanto, quando nos aproximamos do final do livro, mais especificamente do conto final intitulado Lá onde a noite é mais escura, algo que até então não se discriminava muito bem começa a nos turvar a visão. A narrativa é estruturada a partir de um narrador em primeira pessoa, aparentemente um homem rústico, um habitante dos sertões que dialoga, ao longo de todo o texto, com um interlocutor mais culto, uma espécie de testemunha por meio da qual a experiência do vivido é validada e/ou confirmada, possivelmente justificada. Esta terceira pessoa, o interlocutor ao qual o narrador se dirige, é um padre com o qual o narrador compartilha uma experiência algo sobrenatural, algo indizível, de algum modo incognoscível. Veja-se o trecho:
Presta atenção: se o senhor pegar uma enxada, uma boa enxada, e com braço forte, cavar num qualquer quintal, mas cavar bem fundo, e se cavar igualmente na alma e no fundo do coração do morador, ah, o senhor encontra coisas muito feias… Malvadezas, remorsos, desejos. Imundices. Pra mim, O Interior não é povoado nem vila, é o de dentro do homem. O que ele esconde de si próprio e até do padre. O senhor duvide que mesmo assim eu afirmo: interior tem mais maldade que cidade grande.
Se o conjunto do livro impressiona por uma prosa vigorosa, de algum modo surpreendente, sem dúvida autônoma e rica em sua capacidade de gerar sentidos e criar dificuldades, o conto final assusta pela flagrante (e frágil) emulação. O mestre de que o autor se diz devoto aí se remexe, cadáver violado, algo caricatural, piorado, em frangalhos. O conto parece arremedar um certo Guimarães. Assim formulado, o juízo será, sem dúvida injusto e parcial. Talvez fosse mais justo dizer que a narrativa que encerra o livro se equilibra perigosamente no fio tênue que separa a servilidade do arremedo e a fatura trabalhosa de uma dicção pessoal:
Lhe assusto com minha prosa? Sei que não, o senhor tem partes com Deus, corpo e alma fechados… e o que conto é tudo bobajada de capiau velho. Existe nada não. Só se o senhor acreditar. O senhor crê? Eu creio. Por isso não durmo de noite. O senhor, se fosse eu, dormia? Se soubesse, e visse, o que eu sei, e vi? Ah, se tivesse juízo não dormia. Sei que o senhor não me dá razão, o senhor não pode, mas eu afirmo e confirmo: nem tudo que há é obra de Deus. E o que não há, então?
De que o autor tenha fôlego e brio narrativo para ultrapassar o impasse em que este conto, em particular, o situa, ninguém duvide. No conto intitulado A triste orla do Aqueronte, de A mulher-gorila e outros demônios, o narrador, diante dos dizeres “Lasciate ogne speranza voi ch’intrate” vocifera “porra nenhuma”, diante de um inferno que é só a cidade, com seus pobres, nordestinos, putas, pretos, leprosos, pedintes e engravatados, sem nada em que se possa ancorar o narrador, sem um centro em que buscar sua essência, sem uma transcendência em que repousar do fluxo que o arrasta, do fluxo de vozes, de divergências, de exaustão. O conto final deste último livro, em contraponto, parece comodamente situado à sombra de uma árvore frondosa que esteriliza a vegetação que com ela divide o solo. Se é possível passar do inferno dantesco à cidade, a uma multiplicidade produtiva e vital, talvez seja possível derivar de Guimarães, desistir de seus encantos, de sua sedução paralisante.
Como anuncia a premiação de que foi objeto, o livro de José Rezende Jr. merece, sem dúvida, um segundo olhar. Pelo que realiza, pelo que promete, por aquilo de que possivelmente teria podido abdicar. Por aquilo que, nele, não parece terminado. Pelo pai que, espera-se, tenha a hombridade de assassinar.

FRANCINE WEISS É professora de literatura. Vive em Indaiatuba (SP).

O autor JOSÉ REZENDE JR. Mineiro de Aimorés, radicado em Brasília, o escritor e jornalista JOSÉ REZENDE JR. foi repórter especial de O Globo, JB, IstoÉ e Correio Brasiliense. Atualmente se dedica à literatura e às oficinas de texto jornalístico que ministra pelo Brasil afora. Estreou na ficção com A Mulher-Gorila e outros demônios (2005).
Contos de José Rezende Jr., ganhador do Jabuti, apresentam prosa de fôlego e influência de Guimarães Rosa

TRECHO

eu morrendo e você pintando as unhas de vermelho mesmo sabendo que suas unhas te deixarão com cara de puta, eu morrendo e você com cara de puta, eu morrendo e você diante do espelho como quem vai a uma festa dançar a noite inteira, a saia rodada que eu gostava de ver rodando no meio do salão deixando à mostra suas pernas de ginasta e exaurindo meu fôlego de amante sedentário (...)
eu perguntei pro velho se ele queria morrer

Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor)

José Rezende Jr.
7Letras
88 págs.