sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A Janela - Martha Tavares Pezzini



Uma janela

Devo esclarecer antes de tudo que não se trata de espionagem do prédio vizinho. Nada a ver, também, com o clássico do cinema, Janela Indiscreta, do Hitchcock.
Da janela do meu apartamento, décimo andar sou muitas vezes, testemunha involuntária de cenas e consequentemente meu imaginário delineia histórias, a partir delas. O lavador de carros, o Chico, pessoa simpática e tranquila, tem nome e endereço certo. Anda empencado de chaves dos carros dos moradores e de outros. Sua caminhonete estaciona cedo e ele passa o dia aqui. Tem também o flanelinha, pessoas que sempre passam no mesmo horário, mães arrastando mochilas e crianças, indo para a escola.
Às vezes ao olhar as janelas em frente, com luzes, TV ligada, ou apenas penumbra, penso nas vidas que cada espaço abriga. O aconchego do lar. Pessoas indo e vindo. A prazer de viver em uma família onde se divide as alegrias e os dissabores. Momentos inesquecíveis e que um dia perdemos.
Em tempos de solidão a que estão sujeitas as pessoas idosas é muito bom ver famílias dando apoio e companhia a alguém nesta situação. Posso ver quase todas as noites uma roda de baralho em torno de uma mãe ou avó. Emociono-me, sem poder evitar a lembrança daqueles que estão longe de receber esse carinho tão imprescindível à sua vida nesta fase difícil e carente.
MTP

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Carnaval - Martha Tavares Pezzini



  Carnaval
  Martha Tavares Pezzini

  Muitos pensam que o carnaval é uma festa puramente brasileira. Mesmo não sendo, parece ter sido criada        para nós. Tem tudo a ver com a alegria do brasileiro. Vamos ver alguns dados da história desta festa.
“O carnaval teve origem em várias comemorações realizadas na Antiguidade por povos como os egípcios, hebreus, gregos e romanos. Esses festejos pagãos serviam para celebrar grandes colheitas e principalmente louvar divindades. É provável que as mais importantes festas ancestrais do Carnaval tenham sido as “saturnais”, realizadas na Roma antiga em exaltação a Saturno, deus da agricultura. Na época dessa celebração, as escolas fechavam, os escravos eram soltos e os romanos dançavam pelas ruas.” Cíntia Cristina da Silva.
 Precedendo os carros alegóricos de agora, desfilavam também pelas ruas, o carrum navalis com formato semelhante a navios. Esta pode ser considerada uma das origens da palavra “carnaval”. Houve um tempo em que o carnaval, era a externação da pura alegria. Não havia necessidade de bebidas alcoólicas. Principalmente entre os jovens. A motivação era natural. Mas o embalo do lança perfume estava presente. Não experimentei, mas via o resultado: pessoas apagando e caindo após aspirarem. Não achava graça, pelo contrário. O perfume sim, era delicioso, sem os apagões e os tombos. As músicas, sempre renovadas, continham temas românticos, amores impossíveis, tipo Pierrot, Colombina, Arlequim, ou eram jocosas com os assuntos da atualidade do mundo e locais. Não podiam faltar também, aquelas músicas consagradas e eternas de outros carnavais, tocadas até hoje. A euforia era contagiante. Bastava entrar no salão. Sim, o carnaval era no salão. “Quanto riso, oh quanta alegria,/ mais de mil palhaços no salão / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, / no meio da multidão...”
As fantasias sempre mexeram com o imaginário de cada um e até hoje se repetem. Homem travestido de mulher sempre esteve presente, quase sempre em blocos. A festa propicia “ um espaço de inversão, em que se busca ser exatamente o que não se é no resto do ano”, como diz a filóloga Rachel Valença, diretora do Centro de Pesquisas da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio.
A fase das Escolas de Samba na Marquês de Sapucai, me pegou uma época. Assistia até dormir. O ritmo das baterias é contagiante e quase faz uma estátua se mexer.


Que nosso povo se esqueça por algumas horas, as decepções, o aviltamento e ludíbrio a que são submetidos por seus mandatários durante todo o resto do ano.
Feliz carnaval!
MTP

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Guarapari - Martha Tavares Pezzini



            Guarapari

       “ Ninguém poderá sonhar,
          Nem viver o que eu vivi,
          Longe dessa maravilha
          Que se chama Guarapari!”

     A festa começa quando entramos no Estado do Espírito Santo. Eu que amo montanhas deixo as de Minas e me deleito com as capixabas. O tempo todo estou olhando para cima. São lindas. A pedra Azul, a gente passa ainda na estrada e nem sei se é mineira ou capixaba, parece que está sendo escalada por um enorme réptil. E para quem passar por Cachoeiro do Itapemirim verá a beleza encenada pela pedra do “Frade e a Freira”
       Chegando  em Guarapari só pensamos em descansar para pegar praia no dia seguinte. Afinal não temos mar...
 Manhã toda feita de  luz e cor, perfeito capricho do Criador, festa preparada para nosso deleite. Acordo ouvindo o som das ondas batendo nas pedras e o retorno das águas após deixar na praia, conchas e  algas. Como se Netuno regesse uma sinfonia eterna com os mais puros acordes e o  mar, majestoso gigante cumprisse seu destino de traze-la até nós com seu incansável movimento.
Abro a janela.   Sons e imagens de um cenário de rara beleza invadem meus sentidos. O sol subindo do horizonte, parece  um medalhão de fogo suspenso  por corrente invisível, espalhando  profusamente todo  o seu esplendor  pela imensidão prata-verde-azul-lilás das águas.  Núvens contornadas de fogo passeiam devagar, levadas pelo suave sopro da brisa marinha, enquanto outras parecem  incendiadas, como se fossem explodir.
    Pego um chapéu, minha câmera e saio para um passeio pela Praia das Castanheiras.  Deslumbrada e inebriada pelo delicioso ar marítmo, ando, descalça, pisando a  areia molhada  sentindo o prazer da sua massagem nos meus  pés a cada passo... Vou parando para catar conchinhas que sempre me encantam  pelas cores, formas e tamanhos,  nacaradas ou não. Cada uma é um tesouro único. Selecionadas, serão transformadas em colares e pulseiras.
     Nada a pensar,  absorta na plenitude daquele momento, apenas saboreando a vida imersa em energia e encantamento.. Se o vento soprar um pouco mais creio que flutuo como uma pluma, tão leve e solta me sinto, partícula intrínseca da natureza.     
     Depois da caça ao tesouro, caminho mais um pouco sentindo o calor do sol e a carícia da brisa. Chego a pensar que há uma cumplicidade entre o sol e o vento. Um  a nos queimar e a outra a  soprar amenizando o ardor...
    Paro  para tomar  água de côco, delicia refrescante e revigorante entre tantas dádivas do Criador aqui reunidas.  Peroá assado. Resistir, quem há de? E o bolinho de mandioca da
   Ando um pouco mais,  minha Rolley  registrando tudo. Momentos gravados na câmera  e nas retinas.
      Viver longe do mar é nostálgico. Por isso temos necessidade de voltar sempre e deixar para trás a rotina, preocupações e  neuras
Um retorno  à mágia e o encantamento  perto do mar.         

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Um Milagre - Martha Tavares Pezzini




Estava de passagem pela cidade de Governador Valadares com minha filha. Lugar de muitas histórias no passado da minha família. Uma bela cidade conhecida, entre outras, como capital mundial do voo livre e onde em 2016, em um campeonato de asa delta, os pilotos lançaram sementes nativas da região no entorno do Pico da Ibituruna, numa demonstração com o cuidado ambiental. Estava acontecendo outro campeonato e pudemos ver a beleza e o espetáculo das asas colorindo o céu. Dizem que a alta, e põe alta nisto, temperatura, local, origina-se da pedra da Ibituruna. Fiquei hospedada por um sobrinho que dividia o apartamento com um colega. O rapaz estava fora e nos cedeu seus aposentos com toda a gentileza. Tão logo cheguei não pude deixar de notar os óculos que estavam sobre a cômoda. Eram iguais aos meus. No dia seguinte, pela manhã, todos saíram para seus compromissos e eu fui fazer o que mais gosto, conhecer o comércio local e fazer umas comprinhas. Já havia passado por várias lojas sempre naquele põe e tira óculos que ficava pendurado no decote. Comecei a achar que minha visão não era a mesma quando o colocava. Parecia que algo estava errado. A ansiedade tomou conta e bateu a dúvida: - Será que peguei o do rapaz? – Putz! Continuei o passeio sem a ajuda das lentes. Como quase toda mulher, inevitavelmente, não resisti a um par de sandálias. Como seriam pagas com cheque, abri a bolsa para pegar o talão e o óculos para uma pequena ajuda ao escrever. E para meu desespero o artefato ótico, não foi encontrado. Sentei-me. Revi a bolsa várias vezes tendo retirado tudo de dentro. Nunca vivi uma situação tão constrangedora e sem solução. Como explicar que pegara algo pessoal no quarto a mim cedido tão gentilmente e o havia perdido. Senti-me péssima, irresponsável e sem saída. Não haviam palavras para explicar esta história. Era um enorme sofrimento moral. Só um milagre poderia me salvar. Paguei a compra e voltei a todos os lugares por onde havia passado na esperança de encontrar o tesouro perdido. Nada. Mais uma comprinha e ao abrir a bolsa para pagar, os óculos lá estavam e não eram os do rapaz. Creiam se quiserem, mas passei realmente por uma grande aflição e pedi ajuda do Alto. Ele não nos socorre somente nas grandes causas. Eu acredito neste pequeno milagre ou outro nome que vocês queiram dar.
Martha Tavares Pezzini

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Vida pela metade - Martha Tavares Pezzini



Chegar a lugar nenhum.
Ser e não conseguir ser,
Novamente.
Porque a outra metade, agora,
é vida em essência, é luz
e memória somente.
Vida a transcorrer
Na ilusão do que não é mais.
De palavras não faladas
Mas pensadas como ditas
No torvelinho
que precede o vazio.

Martha Tavares Pezzini