quinta-feira, 14 de junho de 2018

Desencanto - Pérola Bensabath


Há muitos dias sem postar, trago hoje um texto magnífico da escritora e poeta, Pérola Bensabath, coordenadora da Comunidade Elos Literários. Parabéns, Pérola! - MTP



D E S E N C A N T O
(Pérola Bensabath)
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Sinto prazer em escrever estilos amenos, sensuais, diáfanos e leves como a musseline das asas das borboletas.Mas hoje meu espírito crítico-social amanheceu cabendo na procura que esmerilha os sentidos de misericórdia e consciência que me espreitam. E que espreitam a sociedade.
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Quem sou eu neste instante? Uma sobrevivente dos séculos ou uma escritora? Minha sensibilidade olha em direção às relíquias e se dirigem aos meus anseios. Sou feliz. A alegria é inata em minha personalidade, mas às vezes o riso se esconde nos rictos dos cantos da boca e capturam o meu sorriso. Sou uma dissidente das trincheiras de uma juventude que sonhava e realizava, sem empunhar o celular como uma letal arma modernista, que tudo “resolve”, como um deus tecnológico. O mesmo “deus” que desaproxima os seres.
O meu templo de arte foi a música, o ballet e não o devastador som do hip hop e do tecno. Os mais belos exemplos de honestidade, confraternização e amor familiar me foram transmitidos. Descubro então que sou aquela que vive em um lar que é meu templo e mesmo que grades fechem as entradas e saídas, minha mente vagueia imaginativa e liberta.
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Oh! Deus...”onde estás que não respondes?”... Impostos que engordam os porcos que chafurdam nas propinas e corrupção. Violência instalada em crime organizado, crianças abandonadas, o velho mal cuidado, a devoradora indústria da seca nordestina, as drogas enganadoras que fascinam e muitos e muitos e mais fétidos acontecimentos que circundam o século. Entristece-me a passividade da política educacional numa densidade espantosa. Constrange-me os problemas sociais que são o corolário de um povo heroico que sobrevive com o salário mínimo e sorri... sorri no carnaval!
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E reina a Rede Globo, absoluta em sua lavagem cerebral ao povo do Brasil numa eletrônica avançada e purpurinada.
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Eu? Mulher de meia idade, ativa, sensual, alegre, observadora e constrangida. Mulher que sofre pelas minorias. Mulher-feliz-e-acolhida- em- seu- ninho -residência, num estiloso loft, em um condomínio de luxo. Fazer o quê? Criei uma ONG e foi um NADA frente ao TUDO. Sigo carregando um saco de ossos do passado: o meu saco de ossos particular. E das mazelas do presente: o saco de ossos da sociedade.
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Mulher neste momento de desencanto sentindo o peso do mundo. Mea culpa? Digo Amém? Uso máscara?
Mulher que se refugia no seu ópio: um triunvirato de FÉ, AMOR e POESIA.

 

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