I
O QUE DIZ O SILÊNCIO
No vértice da palavra
a ausência do som é o nó
que trava o sentimento.
A flâmula que se debate ao vento
risca o espaço, quer atravessar a fenda,
embrulha o tempo e, ainda assim,
só o relâmpago de um olhar acuado,
que devora o momento de um só gole.
Tudo está ali e nada se pode ver.
A vontade embebida em gestos contidos
é a folha que o medo engoliu.
E a pedra, que não está no meio do caminho,
mas solta à margem do penhasco.
Basilina Pereira
II
R E V E L A Ç Ã O
Paschoal Motta
Que canção basta entoar
Para compor a madrugada?
A manhã, outra vez,
Nasce aí onde relembro.
Minhas mãos se queimam
Por sua pele de pétala.
As setas das lágrimas
Cobrem de fogo meus olhos
Só por rever o seu corpo.
De vigília, sei dos seus sonhos,
aí, nesse pouso de sombras.
Seu nome reescrevo para gravar
nas penhas de sua ausência,
faca afiada de esperas,
e revelar quem somos;
que de argila somos fruto
de passados e de angústias,
sabendo que não seremos
mortos para todo e sempre:
A lembrança em nossos ombros
Suporta o que nos iluminará
Com os signos da esperança
Na carne inteira de ansiedade.
III
Tempo de esperas
A esperança me abraça,
A esperança não constrange,
Inda cultivo saudades
D’onde semeei andanças...
A esperança me abraça
Ante a lembrança estranha
De um tempo que esfumaça
Entre feitos e defeitos,
A esperança não constrange
Esta visão esparsa
Das formas que fui levando,
A esperança me abraça
Dando-me novas entranças
Ao sentimento esparso
De mim em tempo criança...
Sergio Donadio
Nenhum comentário:
Postar um comentário