Estava de passagem pela cidade de Governador Valadares com minha filha.
Lugar de muitas histórias no passado da minha família. Uma bela cidade
conhecida, entre outras, como capital mundial do voo livre e onde em
2016, em um campeonato de asa delta, os pilotos lançaram sementes
nativas da região no entorno do Pico da Ibituruna, numa demonstração com
o cuidado ambiental. Estava acontecendo outro campeonato e pudemos ver a
beleza e o espetáculo das asas colorindo o céu. Dizem que a alta,
e põe alta nisto, temperatura, local, origina-se da pedra da
Ibituruna. Fiquei hospedada por um sobrinho que dividia o apartamento
com um colega. O rapaz estava fora e nos cedeu seus aposentos com toda a
gentileza. Tão logo cheguei não pude deixar de notar os óculos que
estavam sobre a cômoda. Eram iguais aos meus. No dia seguinte, pela
manhã, todos saíram para seus compromissos e eu fui fazer o que mais
gosto, conhecer o comércio local e fazer umas comprinhas. Já havia
passado por várias lojas sempre naquele põe e tira óculos que ficava
pendurado no decote. Comecei a achar que minha visão não era a mesma
quando o colocava. Parecia que algo estava errado. A ansiedade tomou
conta e bateu a dúvida: - Será que peguei o do rapaz? – Putz! Continuei o
passeio sem a ajuda das lentes. Como quase toda mulher,
inevitavelmente, não resisti a um par de sandálias. Como seriam pagas
com cheque, abri a bolsa para pegar o talão e o óculos para uma pequena
ajuda ao escrever. E para meu desespero o artefato ótico, não foi
encontrado. Sentei-me. Revi a bolsa várias vezes tendo retirado tudo de
dentro. Nunca vivi uma situação tão constrangedora e sem solução. Como
explicar que pegara algo pessoal no quarto a mim cedido tão gentilmente e
o havia perdido. Senti-me péssima, irresponsável e sem saída. Não
haviam palavras para explicar esta história. Era um enorme sofrimento
moral. Só um milagre poderia me salvar. Paguei a compra e voltei a todos
os lugares por onde havia passado na esperança de encontrar o tesouro
perdido. Nada. Mais uma comprinha e ao abrir a bolsa para pagar, os
óculos lá estavam e não eram os do rapaz. Creiam se quiserem, mas passei
realmente por uma grande aflição e pedi ajuda do Alto. Ele não nos
socorre somente nas grandes causas. Eu acredito neste pequeno milagre ou
outro nome que vocês queiram dar.
Martha Tavares Pezzini
Martha Tavares Pezzini
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