sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A Janela - Martha Tavares Pezzini



Uma janela

Devo esclarecer antes de tudo que não se trata de espionagem do prédio vizinho. Nada a ver, também, com o clássico do cinema, Janela Indiscreta, do Hitchcock.
Da janela do meu apartamento, décimo andar sou muitas vezes, testemunha involuntária de cenas e consequentemente meu imaginário delineia histórias, a partir delas. O lavador de carros, o Chico, pessoa simpática e tranquila, tem nome e endereço certo. Anda empencado de chaves dos carros dos moradores e de outros. Sua caminhonete estaciona cedo e ele passa o dia aqui. Tem também o flanelinha, pessoas que sempre passam no mesmo horário, mães arrastando mochilas e crianças, indo para a escola.
Às vezes ao olhar as janelas em frente, com luzes, TV ligada, ou apenas penumbra, penso nas vidas que cada espaço abriga. O aconchego do lar. Pessoas indo e vindo. A prazer de viver em uma família onde se divide as alegrias e os dissabores. Momentos inesquecíveis e que um dia perdemos.
Em tempos de solidão a que estão sujeitas as pessoas idosas é muito bom ver famílias dando apoio e companhia a alguém nesta situação. Posso ver quase todas as noites uma roda de baralho em torno de uma mãe ou avó. Emociono-me, sem poder evitar a lembrança daqueles que estão longe de receber esse carinho tão imprescindível à sua vida nesta fase difícil e carente.
MTP

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