Uma noitada inesquecível – Mini conto
Grace e Daniel eram namorados, no início dos anos 60, os chamados anos dourados, quando os namoros seguiam o ciclo: namorar, noivar, preparar o *enxoval e casar. Se casavam virgem ou não, não vem ao caso. Isso era uma opção geralmente, da moça.
Tanto Grace quanto Daniel moravam no interior, mas em cidades diferentes e distantes. A cidade de Grace era muito pequena e por lá quase nada acontecia. Seus moradores viviam calmamente contagiados e acostumados com o lento desenrolar de um tempo que parecia ter preguiça de correr e apenas passava. A estrada de ferro era sua maior ligação com o progresso, principalmente com a capital do país, o Rio de Janeiro o que facilitava o contato com a Cidade Maravilhosa, capital do país. Entretanto a maioria dos jovens interioranos visitavam sempre que possível, a capital do Estado, Belo Horizonte, para passeios, programas diferentes, como ver filmes mais recentes, que demoravam chegar até suas cidades. O maior interesse das moças eram as compras pessoais de roupas e acessórios de “última moda” que viam nas revistas.
Grace tinha muitas amigas que eram companhias certas para diversões. Entretanto, Beth era a que tinha mais afinidade com os gostos e ideias de Grace. Daniel também tinha sua turma de amigos em sua cidade que era localizada bem próxima a capital e sempre que Grace ia à Belo Horizonte, Daniel aproveitava para se encontrarem, ir a cinemas, jantar em restaurantes, pizzarias e lanchonetes, entre outros passeios.
Grace e Beth estavam com viagem marcada para a capital e sempre que se encontravam o tema da conversa girava em torno disso. Numa dessas tardes em que as duas jovens faziam mil planos, Beth disse à Grace:
- Você não acha que seria
divertido se Daniel convidasse algum dos seus amigos para sairmos juntos quando
estivermos em Belo Horizonte?
E continuaram falando dos preparativos para a viagem já acrescentando alguns detalhes para o novo programa que nem sabiam ainda qual seria.
O contato feito com Daniel já tinha resposta falando que levaria dois amigos. Grace e Beth se hospedariam na casa das primas de Beth que certamente lhes dariam sugestões para escolha de um local da moda e uma delas integraria o grupo. Assim, duas garotas iriam conhecer dois amigos do Daniel no tão esperado programa da night belorizontina. E as meninas viajaram, cheias de planos e total expectativa. Já na casa das primas, muita conversa, assuntos de jovens passando por namorados, música, moda e claro a discussão de onde queriam ir.
- Se vocês querem uma novidade, a "Coruja" é uma boite inaugurada agora e está no auge. Ainda não conheço. O que acham? – disse Olga, uma das primas.
- Nós não conhecemos nenhuma. Vamos pela sua sugestão! Tudo para nós é novo! – Respondeu Grace.
No dia marcado as meninas não se continham, tamanha a curiosidade sobre o encontro e a tal boite. Não sei como são os homens, mas três garotas se preparando para sair e conhecer rapazes é o maior ti-ti-ti. Lavam os cabelos, pintam as unhas, colocam rolos, escolhem a roupa, capricham na maquiagem escolhem os adereços, o perfume. Levam horas nesse ritual, que muitas vezes é o melhor da festa. Claro, que tudo isto acompanhado de muitos comentários e aquelas brincadeiras e risos próprios da juventude.
Enfim, o esperado encontro à entrada do prédio. Após as apresentações as jovens sugeriram o que já havia sido escolhido: uma boite da moda. Táxis foram chamados e seguiram para a alegre noitada. Divertiram-se, tomaram alguns drinks, dançaram e tudo correu perfeito para a felicidade de todos.
Em tempos em que os cavalheiros eram quem pagava as contas os rapazes do interior foram surpreendidos pela soma da nota. Ainda não havia cartão de crédito, nem celular. Tudo correu bem, a conta foi paga na maior elegância. Só faltava deixar as meninas em casa, de táxi, o que fizeram se despedindo sem dispensar um dos veículos.
Assim que os três ficaram sozinhos veio à tona a real situação em que se encontravam: todo o dinheiro que tinham não era suficiente para pagar o taxi! Combinaram, entre eles e decidiram:
- Vamos para a casa de Marcelo. Disse um dos rapazes.
Marcelo era um amigo da turma que morava na cidade e quem poderia ajudá-los. Chegando ao endereço, enquanto dois deles subiram para falar com aquele que poderia salvá-los, Daniel ficou no táxi, como se fosse refém. Subiram, acordaram o amigo.
- Marcelo, precisamos de algum dinheiro para pagar um taxi! - foram logo falando e contando a enrascada em que se meteram e como Daniel estava lá embaixo, no carro, esperando.
- Não tenho um puto! – falou Marcelo muito calmamente, com cara de quem fora despertado de um bom sono.
E para confirmar puxou os bolsos da calça para fora, abriu carteiras, gavetas, olharam dentro dos vasos e nada foi encontrado.
Voltaram ao veículo desesperados e contaram tudo para o taxista que não tinha outra escolha a não ser ficar com o que pudesse ser recolhido entre os três. Puseram-se a revolver novamente todos os bolsos. Foi quando Daniel encontrou uma reserva num bolso do paletó onde habitualmente não guardava dinheiro. Tudo acertado os três voltaram, se ajeitaram como puderam e dormiram na casa do amigo.
Enquanto isso, as meninas comentavam sobre o cavalheirismo e a fidalguia dos três jovens e se preparavam para se entregarem docemente nos braços de Morpheu, deslumbradas com uma agradável e inesquecível noitada.
Martha Tavares Pezzini
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