Adriana Pezzini: "Me descubro vulcão, nascente e asas,
enquanto espero o tempo da erupção, do desaguar e do voo."
Enquanto espero o futuro
Enquanto espero o futuro, arrumo a casa.
Encontro tesouros esquecidos no fundo dos armários.
Revejo a criança que fui e me assusto por ser o futuro dela.
Enquanto espero o futuro,
Cozinho, cuido do jardim,
medito e me exercito.
Trabalho
Trabalho
Trabalho e sonho...
Revisito a minha alma e ela sonha com o futuro.
Vivo o presente com intensidade:
essa sou eu!
E sou também o futuro do que fui.
E isso é, a um só tempo, genial e assustador.
Limpo gavetas, abro espaço,
arejo meus porões.
Me descubro vulcão, nascente e asas,
enquanto espero o tempo da erupção, do desaguar e do voo.
E me compadeço de quem é ainda mais pele do que eu.
Meu passado conhece o meu futuro e meu presente sonha em conhece-lo.
E minha espera sonha:
No futuro tem barraquinhas de São João, conversas intermináveis em torno de fogueiras, esquinas e corações.
Conversas e brindes, brindes e afetos, e viagens...
Ah, as viagens!
Contemplo a rota dos aviões enquanto espero por elas.
Elas estão no futuro...
E enquanto espero pelo futuro, converso com as minhas urgências e tento apaziguá-las.
Lembro a elas que também sou futuro que se concretiza a cada dia.
O futuro idealizado terá que esperar...
E não será isso o futuro, senão a espera do presente?
Meu presente, então, acolhe o passado e espera o futuro.
Ensaia gestos, palavras, olhares, abraços.
E transborda em insônia e escrita,
Enquanto espero o futuro...
Adriana Pezzini
06/04/2021
Enquanto eu e o outono esperamos a primavera...
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