terça-feira, 27 de abril de 2021

Martha Tavares Pezzini

 

Começou a chover agora à tarde. O som da chuva calma e sem trovões, soa agradável aos meus ouvidos. Dá vontade de largar tudo, me deixar envolver pela calma que vem com ela e pela invasão de recordações que me assaltam sempre que há a presença de sons e cheiros. Sinto ainda, aquele cheiro que impregnava o ar na minha casa, quando as telhas secas iam se encharcando, ao começar a chuva. E vejo numa visão dos flashes das lembranças, minha mãe, meus irmãos e eu deixarmos tudo de lado e nos entregarmos ao momento da chuva. Se acontecia um temporal mais forte, na impossibilidade de olhar pelas janelas, nossa curiosidade era aguçada para ver as enxurradas e a água que descia do telhado o que nos fazia arriscar pequenas aberturas fechadas às pressas pelas rajadas de vento e água que nos assaltavam. Havia ainda os aguaceiros que caiam à tarde e faziam surgir as goteiras no telhado. Hora de colocar baldes, bacias e o que mais tivesse para salvar o chão. Daí a uns dias viria Seu Agostinho, para acertar as telhas. E o plim, plim era um novo som a ser gravado em nossos ouvidos como notas de um piano. A orquestra se completava com o coral das vozes da minha mãe e nossas. Depois mamãe fazia sonhos para acompanhar o café. Parece até que tudo aquilo acontecia já com o propósito gravarmos aqueles momentos e trazê-los para o hoje quando a chuva não é mais a mesma. E aqueles concertos de orquestra e coral não acontecem mais.

Martha Tavares Pezzini

27.04.2021

  

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