sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulheres: poesia cotidiana - Gabriel Chalita

Mulheres: poesia cotidiana

“Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou./Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos./Acreditar nos valores humanos e ser otimista.”

Cora Coralina, autora desses versos, foi uma mulher de força e coragem. Doceira de profissão, teve pouco estudo, mas muita sabedoria. Publicou seu primeiro livro aos 76 anos de idade e tornou-se um dos principais nomes da literatura brasileira.
Tal qual a escritora, muitas e muitas mulheres são merecedoras de reconhecimento, no Dia Internacional da Mulher e em todos os outros. Afinal, cada uma delas, à sua maneira, extrai do cotidiano a poesia que lhe cabe – e como viveríamos sem o encanto de suas estrofes?

Mas temas dolorosos também permeiam parte do dia a dia de mulheres de todo o mundo. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), sete em cada dez mulheres serão vítimas de agressões ao longo da vida. No Brasil, uma mulher é agredida a cada cinco minutos, segundo o Ministério da Justiça. Em 70% dos casos, o agressor é o próprio marido, o ex-companheiro ou o namorado. Uma violência silenciosa, invariavelmente, dentro de casa. 
A Lei Maria da Penha, que aumentou o rigor das penas contra os que praticam a violência doméstica no País, fez com que o número de denúncias e de punições aos agressores crescesse. Esse fato já é uma vitória, mas ainda há muito a ser feito. O poder público precisa oferecer serviços cada vez mais bem estruturados para a identificação dos abusos e as punições respectivas, ao mesmo tempo que protege as vítimas.

O Dia Internacional da Mulher, uma das tantas conquistas do público feminino, lembra-nos de que é preciso lutar, ainda mais, pela igualdade, sem violência. Mesmo com as adversidades que permeiam as relações, não se deve esmorecer na busca de uma sociedade mais justa e na crença dos “valores humanos”.

Por Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo)

quinta-feira, 7 de março de 2013

O Rosto da Mulher Madura - Affonso Romano de Sant'Anna




                             O Rosto da Mulher Madura




O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

Affonso Romano de Sant'Anna



segunda-feira, 4 de março de 2013

Mais!




O ruim de ser emotiva é que a gente explode sem tempo de pensar e  depois  fica  sem lugar...
Que nem eu diante dos meus amadíssimos 6.000 visitantes e da rosa vermelha...
 Mas a minha rosa preferida, a amarela, vai para todos os 6.005! Voltem, escrevam, participem. Abraço e muito obrigada!