quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Um Milagre - Martha Tavares Pezzini




Estava de passagem pela cidade de Governador Valadares com minha filha. Lugar de muitas histórias no passado da minha família. Uma bela cidade conhecida, entre outras, como capital mundial do voo livre e onde em 2016, em um campeonato de asa delta, os pilotos lançaram sementes nativas da região no entorno do Pico da Ibituruna, numa demonstração com o cuidado ambiental. Estava acontecendo outro campeonato e pudemos ver a beleza e o espetáculo das asas colorindo o céu. Dizem que a alta, e põe alta nisto, temperatura, local, origina-se da pedra da Ibituruna. Fiquei hospedada por um sobrinho que dividia o apartamento com um colega. O rapaz estava fora e nos cedeu seus aposentos com toda a gentileza. Tão logo cheguei não pude deixar de notar os óculos que estavam sobre a cômoda. Eram iguais aos meus. No dia seguinte, pela manhã, todos saíram para seus compromissos e eu fui fazer o que mais gosto, conhecer o comércio local e fazer umas comprinhas. Já havia passado por várias lojas sempre naquele põe e tira óculos que ficava pendurado no decote. Comecei a achar que minha visão não era a mesma quando o colocava. Parecia que algo estava errado. A ansiedade tomou conta e bateu a dúvida: - Será que peguei o do rapaz? – Putz! Continuei o passeio sem a ajuda das lentes. Como quase toda mulher, inevitavelmente, não resisti a um par de sandálias. Como seriam pagas com cheque, abri a bolsa para pegar o talão e o óculos para uma pequena ajuda ao escrever. E para meu desespero o artefato ótico, não foi encontrado. Sentei-me. Revi a bolsa várias vezes tendo retirado tudo de dentro. Nunca vivi uma situação tão constrangedora e sem solução. Como explicar que pegara algo pessoal no quarto a mim cedido tão gentilmente e o havia perdido. Senti-me péssima, irresponsável e sem saída. Não haviam palavras para explicar esta história. Era um enorme sofrimento moral. Só um milagre poderia me salvar. Paguei a compra e voltei a todos os lugares por onde havia passado na esperança de encontrar o tesouro perdido. Nada. Mais uma comprinha e ao abrir a bolsa para pagar, os óculos lá estavam e não eram os do rapaz. Creiam se quiserem, mas passei realmente por uma grande aflição e pedi ajuda do Alto. Ele não nos socorre somente nas grandes causas. Eu acredito neste pequeno milagre ou outro nome que vocês queiram dar.
Martha Tavares Pezzini

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Vida pela metade - Martha Tavares Pezzini



Chegar a lugar nenhum.
Ser e não conseguir ser,
Novamente.
Porque a outra metade, agora,
é vida em essência, é luz
e memória somente.
Vida a transcorrer
Na ilusão do que não é mais.
De palavras não faladas
Mas pensadas como ditas
No torvelinho
que precede o vazio.

Martha Tavares Pezzini





terça-feira, 28 de novembro de 2017

Felicidade e paz - Martha Tavares Pezzini



 Felicidade e Paz

Um novo dia abre suas janelas esvoaçando as cortinas da nossa alma.
O sol brilha, iluminando e aquecendo a vida. O pinheiral balança mansamente ao sopro da brisa.
 Ao longe as montanhas azuladas pela distância.Detenho-me na beleza do pico mais próximo, recoberta pelo verde, com a mata descendo pele encosta. Na pequena árvore, próxima, uma orquídea  carregada de botões, prenuncia toda a beleza prestes a explodir. A temperatura baixa, da qual não sou muito amiga, reina poderosa em sua estação. Na taça, um espumante. Sentada ao sol contemplo a maravilha dádiva do Criador. Sinto o roçar em minhas pernas, da Bósnia, gatinha dengosa. Ouço as vozes das aves do quintal: galos, galinhas, patos e gansos. Dentro de casa, o riso a conversa da família, destacando a fala do meu neto, Erasmo, feliz com a nossa presença. Sons para se gravar no coração. Momento de felicidade e paz.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Desbafo - Martha Tavares Pezzini



Compartilhei um vídeo de um jornalista acusado de racismo. Ele fala e muito bem, sobre outro foco desta nossa trajetória política e social. 
Vejo nesta trajetória a total ausência de direitos e cidadania que  raiam a uma semiescravidão. O tronco, a chibata e a senzala foram transmudados em outros tormentos e a cor da pele das vítimas já não é mais, somente uma.

Mas o que mais me tocou foi talvez, o que tenha gerado toda a polêmica e sobre isso quase não se fala, a não ser quem o viveu. Nasci pobre, numa cidade onde só havia o Grupo Escolar. Nossos  pais nos ensinaram que somente nós faríamos o nosso caminho. Nunca invejei ninguém e nem esperei por um benefício de origem ilegal ou que pudesse ser de outra pessoa por direito. Graças a Deus encontrei uma pessoa com a mesma ideologia, com quem dividi minha vida. Nossos filhos  foram testemunhas de nossa luta.

Não aceito nada disto que estamos vivendo. E tentam camuflar com um auê, aqui outro ali.

Claro que sou contra qualquer discriminação, divisão e injustiça. Mas não me venham enganar. Não suporto mais.

Martha Tavares Pezzini
ezzini