sábado, 19 de maio de 2018

O domingo de Rapunzel - Martha Tavares Pezzini


       Rapunzel e o domingo



       Realmente não sei criar histórias na imaginação. Só escrevo narrativas, idéias , pensamentos que tenho a respeito do cotidiano e da vida ou faço uma mistura baseada em outras histórias conhecidas, trazendo personagens de longe para o agora.

Domingo é um dia como qualquer outro porque , agora sem missa. O que o distinguia, além da missa, era a família em casa, almoçando juntos, uns ouvindo música, outros chamando para ver filme e toda aquela agitação de uma família.

       Só sei que não sei o que fazer do meu domingo, onde nada disso existe mais. Reaprender um novo domingar, não está fácil. Há limites daqui e dali  que se juntam a uma certa dificuldade para montar a estratégia e executar. É como se: posso mais não devo. Quero mas não me sinto segura. Estou com preguiça de trocar a roupa e passar o protetor solar. Preciso de um empurrão.

        Muito complicado estar entre quatro paredes, como Rapunzel, na torre, em outro tempo, só que  sem tranças, sem espera de um acontecimento, no caso dela, a chegada do príncipe. Agora imagine se a Rapunzel tivesse ido para a torre na mesma idade que eu. O que ela esperaria? Com certeza ligaria o computado, tablete e escreveria o que desse na cabeça, talvez ligasse a TV na Net Flix. Ou quem sabe, com a ajuda do Espírito Santo, que jamais apareceria na história da parte I, encontraria uma porta secreta com elevador panorâmico, desceria para as ruas, criando coragem para andar sozinha e acabaria rodando pelo shopping center do Reino, destino dos que estão exilados neste domingo. 
Ah, amiga do passado, melhor para você que andaria pela floresta, cantando, ouvindo os pássaros, colhendo flores e apreciando a beleza das borboletas, invés de zanzar num shoping center!

Direto da torre da Savassi, em "tempos outros, que não aqueles." coment  L. Pezzini.

Martha Tavares Pezzini



segunda-feira, 5 de março de 2018

Recado às mulheres - Martha Tavares Pezzini

2012
Recado às mulheres
Qual o assunto que mais desperta o interesse das mulheres?
Tenho observado que um dos mais fortes está ligado à boa aparência e como driblar o tempo. Ou seja a eterna busca da fonte da Juventude. É incrível como elas gostam de saber a idade de outras mulheres e o que estas fazem para aparentar ter menos idade do que realmente têm. Outros pontos de destaque na mesma mulher como inteligência, desempenho em alguma atividade, despertam-lhes menos a atenção do que sua aparência.
Estou naquela fase que para não ferir susceptibilidades, alguns chamam de mais de sessenta e que pode ser, na verdade, mais de setenta, oitenta ou mais...
Não mais se penduram as chuteiras, facilmente. A Diva,
2017
Fernanda Montenegro encanta e surpreende aos oitenta e sete. Pode-se também começar a escrever, como a maravilhosa Cora Coralina que aos setenta e seis anos publicou seu primeiro livro e outras, menos conhecidas mas igualmente maravilhosas...
Difícil manter a aparência de algumas décadas a menos. Fiz o teste do facebook que promete nos transformar em uma estrela de Hollywood e não tiraram, como esperava, minhas rugas dos olhos, marcas de muitos anos, sorrisos e também de muito choro... Procedimentos estéticos, para retocar, até que são uma boa, para as que são corajosas, e infelizmente não sou uma delas. Mas chega um tempo em que tais procedimentos não dão conta do recado. Então o que fazer? Quem sabe, correr atrás de outras mudanças em nossas vidas, como das mulheres citadas no início deste texto. Claro que nunca nos descuidaremos de pequenos cuidados ou outros até maiores, o que é importante e prazeroso.
Mas o que dá mesmo luz aos olhos e brilho à pele, são outras mudanças. É o renovar-se por dentro. Ter a coragem de enfrentar novos desafios, aceitar novos comportamentos, e se predispor a algumas mudanças radicais ...
Mudar de casa, de lugar, de atividades, se afastar de pessoas ou de situações que não lhe fazem bem gera ansiedade e algum sofrimento.
Tenho experiência de ter deixado minha casa numa cidade tranquila, para viver em apartamento, em outro lugar, desconhecido. E mudei apenas seis vezes. Descobri que somos mais adaptáveis do que supomos. Também tive que desfazer de muitas coisas e não deu para olhar atrás: móveis, livros discos, eletrodomésticos, muitas lembranças, tudo foi mudado para ocupar novos espaços, mais compactos. A dorzinha da perda passa logo que sentimos que foi um passo adiante. O caminhar da vida. Sentimo-nos mais leves. A aparência e o rosto agradecem.

Creia. Começar de novo, rejuvenesce!






quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Soneto - Martha Tavares Pezzini






Soneto
Martha Tavares Pezzini


Venho de um lugar onde os montes são
Cobertos por um verde aveludado
Trago transbordante o coração,
Para doar a quem tenho encontrado

Lá  onde a vida transcorria calma
E tempo não faltava pra sonhar,
A esperança e a fé nutriam a alma,
Quem não viveu não pode acreditar.

As agruras do hoje que vivemos
Total inverso da serenidade
Dum tempo de sossego que tivemos

Se impossível nos é o retornar
Que saibamos a vida levar bem
Com paz e Amor pra tudo transformar





sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A Janela - Martha Tavares Pezzini



Uma janela

Devo esclarecer antes de tudo que não se trata de espionagem do prédio vizinho. Nada a ver, também, com o clássico do cinema, Janela Indiscreta, do Hitchcock.
Da janela do meu apartamento, décimo andar sou muitas vezes, testemunha involuntária de cenas e consequentemente meu imaginário delineia histórias, a partir delas. O lavador de carros, o Chico, pessoa simpática e tranquila, tem nome e endereço certo. Anda empencado de chaves dos carros dos moradores e de outros. Sua caminhonete estaciona cedo e ele passa o dia aqui. Tem também o flanelinha, pessoas que sempre passam no mesmo horário, mães arrastando mochilas e crianças, indo para a escola.
Às vezes ao olhar as janelas em frente, com luzes, TV ligada, ou apenas penumbra, penso nas vidas que cada espaço abriga. O aconchego do lar. Pessoas indo e vindo. A prazer de viver em uma família onde se divide as alegrias e os dissabores. Momentos inesquecíveis e que um dia perdemos.
Em tempos de solidão a que estão sujeitas as pessoas idosas é muito bom ver famílias dando apoio e companhia a alguém nesta situação. Posso ver quase todas as noites uma roda de baralho em torno de uma mãe ou avó. Emociono-me, sem poder evitar a lembrança daqueles que estão longe de receber esse carinho tão imprescindível à sua vida nesta fase difícil e carente.
MTP