Almir Zarfeg
“Além daqueles montes verdes”, de Martha Tavares Pezzini, reúne em 170 páginas as crônicas e os poemas que a autora produziu nos últimos anos.
A obra veio a público pela Páginas
Editora, de Belo Horizonte/MG, ainda em 2020, mas chegou às minhas mãos
somente neste janeiro quarentenado de 2021.
Ao todo, são 34 crônicas e 54 poemas, entre o quais se destaca o premiado “Transmutação”
(2º lugar no Prêmio Castro Alves de Literatura 2020, promovido pela
Academia Teixeirense de Letras). Sem contar os sonetos e as aldravias
que fecham a obra com chave de ouro.
Nesta nova publicação, Martha dá seguimento à anterior, “Por onde andei levei meus sonhos”, de 2015, revisitando pessoas e momentos que marcaram sua vida de mãe, educadora e autora. Sua juventude também.
Eu li “Por onde andei levei meus sonhos”
e, na oportunidade, observei o jeito leve, coloquial e marcante de
narrar que a autora imprimiu à obra. Um jeito mineiro de ver as coisas
e, ao representá-las, causar boa impressão em seus leitores. Gostei
tanto do que li que grafei o anagrama LCM (tentem adivinhar).
Neste novo livro, Martha segue brindando
seus leitores com crônicas deliciosas de se ler com os olhos e a
imaginação. São textos simples e coloquiais, sim, mas repletos de
imagens convidativas, diante das quais capitulamos e acabamos tomando
parte nas cenas e/ou coparticipamos dos episódios com muita descontração
e gosto.
Quem
é doido de resistir a uma cena de cidade interiorana, perdida entre
montes e alterosas, com suas ruas tranquilas e moradores hospitaleiros?
Pois Martha nos conduz pela sua São Pedro dos Ferros e sua Matozinhos,
nas quais sonhou os melhores sonhos e viveu a melhor vida, com perdão da
redundância, que viver de verdade é, sim, renovar a alegria de viver…
Com leveza, a autora compartilha também as
leituras que marcaram sua vida (sem método e obrigação, senão com
prazer); cita autores e respectivas produções que ainda repercutem em
sua formação de leitora e autora. Esse é o lado, digamos, intertextual
da obra em questão.
Mas Martha não se faz de rogada e pontua o
ato de escrever não só como desafio criador e linguístico, mas também
como gesto de emancipação pessoal. A propósito, a autora é imortal da
Academia Municipalista de Minas Gerais (AMULMIG), compondo a atual
diretoria acadêmica como 1ª secretária.
“Muito além daqueles montes verdes”,
crônica que dá título à obra, retrata uma moça centrada em si e apegada
ao seu mundinho, mas que, gradativamente, consegue realizar seus sonhos
– inclusive literários – mostrando na prática que os conceitos
junguianos de introversão e extroversão, ao contrário do que muitos
pensam, podem ser manipulados como forma de realização pessoal,
profissional e artística. Enfim, como energia positiva e libertadora.
Por ter ido muito além daqueles montes verdes, Martha Tavares Pezzini já é uma vencedora. Parabéns!