sábado, 24 de abril de 2021

Visão - Martha Tavares Pezzini

 

“No espaço que a janela me permite visualizar, deparo com um cenário que me lembra filmes que se passam em planetas desconhecidos onde construções gigantescas são panos de fundo e onde não vemos vestígios de vida. Somente os tripulantes das naves. Tudo está parado. Raramente passa alguém, parecendo perdido, oculto pela máscara ou uma moto com bagagem para entregar alguma encomenda às pessoas que se resguardam no isolamento de sua residência. Todo o mundo está sendo castigado por essa pandemia e o Brasil por sua enorme extensão territorial tem sofrido ainda mais. Ignorando a realidade, os pássaros cantam e o sol brilha. Nós, sem podermos ignorá-la vamos vivendo nesta cruel nesga do tempo, que foi inserida no contexto da nossa realidade humana. Já perdemos a conta dos dias que já se passaram enquanto vamos tentando nos enganar pensando que vai acabar. Planos, projetos, sonhos, tudo está em off, numa nebulosa. Não ousamos lhes dar formas, impossibilitados de lhes conhecer a temporalidade. É uma vida provisória, como pensávamos logo no início.  Mas o provisório se prolonga  e vamos vivendo assim, entre cuidados, privações, medos, inseguranças. Sofremos com a dor disseminada por todo mundo, país, cidade. E ainda somos torturados pela divisão e alienação entre as pessoas instigadas por objetivos nada científicos ou humanísticos. Infelizmente, dói ver que nem todos conseguem agir numa sã consciência, e seguir responsavelmente as normas de segurança tão necessárias não somente para si, mas principalmente para aqueles que talvez sejam mais vulneráveis, os chamados grupos de risco. Principalmente quando já sabemos que todos somos igualmente, um risco e que o vírus age imprevisivelmente em cada organismo.

Como é bom saber que não nos fazem nenhuma falta as idas  aos shoppings centers, as tentadoras compras em promoções que julgávamos imperdíveis, numa inconsciente ou não, imersão ao mundo do consumo. O isolamento só maltrata o coração pelo distanciamento das pessoas amadas. Também, o desejo de fazer uma viagenzinha, que ninguém é de ferro... Isto sim, é desolador.

Resta-nos pensar que não sairemos os mesmos desta pandemia. Os dois anos, e que sejam só dois, passados a lutar e esperar, para quem já conta o número dos prováveis anos que tem pela frente, será um grande prejuízo. Entretanto não podemos negar que alguns valores serão acrescentados à bagagem de cada um como ocorre com tudo que vivenciamos, principalmente o sofrimento."

Martha Tavares Pezzini

BH, 24 de abril, 2021

Edson Aran tem Licença Poética!

 Navegando e escorregando daqui pra ali, me encontro com Edson Aran. Já completamente presa ao seu jeito irreverente, rimando com excelente, de escrever, perguntei à minha filha se o conhecia. - Tenho um livro dele! Pronto. Livro à mão: "Conspirações". Imaginem se fico mais sem buscar seus escritos! O texto que vou postar, sem título, vou chamar de "Licença Poética." A minha ainda não saiu! Ah, ele é mineiro das Gerais. MTP

 "Saiu minha licença poética! Foram meses de tentativas e tratativas, milênios de pataquadas e patativas, mas agora ela está aqui. Minha licença poética! Devidamente assinada, datada e carimbada. Depois de apresentar meu certificado de bons antecedentes literários, paguei tudo quando é taxa para não sentar na graxa: o Tributo sobre Rimas Ricas (TRR), a Taxa de Ritmo e Métrica (TRM) e também Imposto sobre Circulação de Metáforas (ICM).

Valeu a pena, pois agora sou um poeta profissional e posso tomar minha pena para ser profusamente passional. Agora eu posso escrever “a chuva choveu no molhado” sem ser incomodado. Posso até rimar “maré” com “amar é” sem ser insultado, mesmo sendo rima de pé-quebrado. Posso fazer poemas épicos, poemas líricos, poemas céticos e poemas etílicos. Posso poetar com rimas internas e rimas externas e até rimas modernas, pois todas elas serão eternas. 

Posso poemar em verso livre e também em verso preso que ninguém ficará surpreso. Posso até usar verbos inventados e versejar da maneira mais patética, pois tenho uma licença poética. Eu não preciso de métrica e muito menos de estética e agora eu uso mesóclise onde bem-mo-la-entendo! Agora eu uso ênclise até em substantivo-lhe. E meto a próclise em qualquer prosopopeia, que eu nem sei o que é, pois não faço nem ideia.

Com licença poética é assim, você pode escrever tudo o que lhe aprouver, seja sobre homem ou mulher e qualquer outra variável que porventura houver. Mas só se você quiser, pois ninguém pode meter a colher. E se algum crítico por acaso não apreciar seu poemar, você pode falar: “Não me venha com dialética, pois tenho licença poética, criatura patética!”

O bom de ser um poeta autorizado é que você não fica travado. Você vai escrevendo, escrevendo e, se ninguém gostar, você está pouco se fodendo. A licença permite até mesmo escrever palavrão cabeludo, pois você não precisa ser um parnasiano sisudo. Mas o melhor de tudo é falar de si mesmo na terceira pessoa do singular.

“O Poeta, ao poente, mente sobre o que deveras sente: venta bastante e ele só quer um pente…”

Sim, eu sei que o verso é indigente, mas a licença poética permite que eu seja inconsequente e até mesmo demente. Além disso, respeito é bom e conserva o dente. Com minha licença devidamente carimbada, posso me dedicar ao pedantismo, parnasianismo e até mesmo ao concretismo. Posso até juntar palavras como eu quiser, tipo “javras” ou “qualquer”, se bem que a última, se bem me lembro, já faz parte do léxico. Tudo bem. Ser poeta é ser complexo.

O bom de possuir uma licença poética para praticar literatura é que você ganha estatura. O crítico perde a coragem de escrever desaforo e o acadêmico nem consegue segurar o choro. Seus amigos poetas o vêm com inveja e embaraço: “Olha lá… aquele sim é um poetaço!”

Com licença poética é assim: se bobear, posso até escrever outrossim. Ah, chega. Isso é o fim."

 Edson Aran

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Dia Mundial do Planeta Terra - Adriana Pezzini Campos - Leandro Carnal

 

 Nosso lindo planeta, merece mais carinho, mais cuidado. Precisa ser valorizado. É nossa casa. Vamos pensar sobre o que podemos fazer a começar pelas pequenas atitudes que estiverem ao nosso alcance. MTP

 


-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------_

Adriana Pezzini Campos: "E, assim, vamos nos esquecendo de quem somos, nos ressentindo e elegendo máscaras para nos travestirmos do que esperam de nós."

 

E se a questão for outra?

Na minha juventude, me deparei com a seguinte pergunta, inscrita nesses cartões com imagens bacanas:

"E se a questão não for porque é tão difícil ser a pessoa que você gostaria de ser,

mas porque é tão difícil se tornar a pessoa que você realmente é?"

Por muitos anos essa questão me instigou, tal qual o enigma da Esfinge de Delfos: - "Decifra-me ou devoro-te".

E foi recentemente que pude, de fato, desvendar o me intrigou por tanto tempo.

Hoje compreendo que nascemos para viver a experiência de ser quem somos!

Mas já na primeira infância, que vai do nascimento aos sete anos, a nossa família e a comunidade onde estamos inseridos, com a melhor das intenções, concentram seus esforços para nos ensinar o que esperam de nós.

Esse processo tem o nome de socialização.

Nele aprendemos o que podemos ou não, o que é permitido ou passível de punição pela sociedade, quais as regras sociais a que devemos nos submeter para nos mantermos incluídos.

O amor e a aceitação vão sendo, então, condicionados às nossas atitudes.

E, assim, vamos nos esquecendo de quem somos, nos ressentindo e elegendo máscaras para nos travestirmos do que esperam de nós.

Muitas vezes nos tornamos consumidores vorazes de tudo o que promete nos conduzir ao pódio da aceitação "amorosa":

produtos, tecnologias, cursos, comidas e bebidas, vivências travestidas de terapêuticas...

A máscara vai ficando tão justinha, que em alguns momentos traz alívio.

Naqueles momentos em que acreditamos ser a máscara, deixamos de sentir a dor de não sermos quem realmente somos.

Mas...e se a questão for outra?

 

Aí vale à pena termos coragem de nos arriscarmos a espiar o que de fato há debaixo da máscara.

Provavelmente encontraremos um olhar assustado, temeroso, mas também um sorriso de alívio!

Aquele alívio que sentimos ao chegar da rua e tirarmos a roupa, tomarmos um banho e nos vertirmos de conforto...

Adriana Pezzini Campos

20/04/2021

Em tempos de usar ainda mais máscaras...

 

____________________________________________________________________________________ 

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 Boa proposta. Pense aí.

Leandro Carnal: “Hoje é 22 de abril. Há 521 anos, ocorreu o "descobrimento/achamento/invasão/invenção" do Brasil. Você brasileira/brasileiro, o que diria ao almirante no dia anterior ao fato? Em uma frase, o que diria ao português no dia 21 de abril de 1500?”

             

                 

                  ?   

   ?   ?