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O título já não cumpre o protocolo exato como no início. Abriu-se à Literatura e outras formas de Cultura
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Metade
Ferreira Gullar
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.
E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso,
Mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que
uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.
Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florecer.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.
Conversa
- Olá, Vida! Estou sentindo necessidade de parar, fazer um passeio andando devagar, sentar num jardim ou quem sabe, num parque, para conversar um pouco, ver gente passar, sentir a brisa no rosto, olhar o céu. Comer hambúrguer, cachorro quente ou churros. Você tem corrido muito e me atropelado, está bagunçando minha casa e embaralhando meus pensamentos. Não estou conseguindo lhe acompanhar! Estou pensando em marcarmos um encontro para discutirmos e quem sabe, nos acertarmos alguns pontos. Podemos agendar esse encontro para amanhã. Sábado é um bom dia, desde que se faça logo o que precisa ser feito, antes que outras solicitações sabáticas nos absorvam. Combino, por WhatsApp o local.
Não vou me preparar para o encontro. Será mais uma sexta-feira, que passa correndo sem que eu consiga realizar tudo a que me propus. E não suporto mais ouvir falar: “Sextou!” - Ando muito intolerante com tantas expressões novas, chavões repetidos até, na cabeça da gente – Mas é melhor um sextou do que um surtou. De todo jeito, aposentado ou na ativa, celebremos o esperado quinto dia, partamos para o descanso do final da semana que para mim já não faz diferença, mas para tomar um vinho, quem precisa sextar?
Agora só falta escolher um lugar tranquilo, para a nossa conversa. Pensei um pouco e não estou encontrando. A única praça que já sentei algumas vezes foi a Praça da Liberdade, que talvez, não esteja tão tranquila no sábado. Acabei de me lembrar de um bom lugar: uma biblioteca.
É sábado, está quase na hora combinada. Dirijo-me à Biblioteca, pego um livro e como não tinha intenção de ler peço um livro meu, o que funciona como uma confirmação da sua presença naquele acervo. Em seguida procuro um lugar para me sentar. Trago comigo um caderno para usar se se fizer necessário. Fecho os olhos e me contato com meus pensamentos:
- Podemos começar pelas melhores partes que você me permitiu viver pois antes de me queixar, tenho muito a agradecer.
MTP
To be continued
Terapia infalível
Na rotina do dia, em casa, onde executamos tarefas, algumas repetitivas outras alternativas, nem todas as atividades podem ser classificadas como prazerosas. Parecem mesmo serem realizadas automaticamente, quase como inevitáveis. Administrar isto, vai depender do nosso condicionamento para adaptarmos às situações adversas, que podemos resumir no tal jogo de cintura.
Outros fatores têm que ser considerados, como por exemplo as ferramentas que nos assessoram. É uma vasta lista onde há preferências, tolerâncias e rejeições. Posso passar bem, privada de algumas delas. Mas duas são indispensáveis e tenho necessidade de saber que estão lá, disponíveis para eu me sentir no controle da situação: o computador e a lavadora de roupas.
Ontem embaracei o pé no fio que carregava meu laptop resultando numa estrondosa queda, deixando-o inoperante. Ainda bem que não caí e não fui avariada. Estou temporariamente sem ele, minha companhia constante. Como um cão fiel, só que não tão fiel. Brigamos muito, e desabafo xingando a Microsoft com saudades, às vezes, do Windows 7.
Mesmo assim parece que falta alguma coisa na casa. Estou usando o iPad, mas não é a mesma coisa.
A lavadora de roupas, por sua vez, cumpriu hoje, perfeitamente, o seu papel.
Minhas filhas costumam dizer, com um toque de humor, que fico feliz juntando roupa para colocar na máquina. Já sabem que se o tédio rondar pela casa, lá vou eu ligar a lavadora.
Não sei expressar com um termo correto o que sinto. Mas me acalmo e me esqueço do que não quero me lembrar enquanto separo as peças pela espécie e cor, coloco outras nas sacolas protetoras, tendo como fundo musical o som da água enchendo o recipiente, feliz, antecipando o resultado. A apoteose da operação é a satisfação de pendurar as peças limpas e perfumadas, satisfação que não tem preço.
Outro consolo para não perder o sono, caso ocorra uma pane mecânica é saber que o pessoal autorizado da Brastemp, para a manutenção, atende prontamente quando chamados, pois cobram caro e vendem as peças.
Nota: ainda farei uma consulta à Brastemp para esclarecer se a máquina engole meias.
Martha Tavares Pezzini