NÃO CELEBRO ESSE
NATAL
Paschoal Motta
... e continuo conferindo,
a cada final de ano, incoerências nas
propagandas e promoções com gancho no Natal de Jesus Cristo. E, nesse
imbróglio, se repete a mesma toada, nos meios, com apelos para compra e consumo
disso, daquilo e quejandos para presenteio a quem possível. E pipocam, em
rádios, tevês, revistas, jornais, placas, vitrines, redes sociais, nisso e no
mais com ofertas de engambelar criar necessidades; atiçam o potencial comprador
com o ter de entrar na compração de um tudo a qualquer custo
(sem trocadilho).
De entremeio e de
lambuja, compõe a cena a impreterível figura de Papai Noel que invade e toma
conta do pedaço, com o que tem de direito. Reforça a espera de presentes dele para
meninada geral... rôrôrô... Esse personagem integra a saga infantil na
travessia das ilusões necessárias
Aliás, Natal de
quem tão importante assim para merecer tamanhos e ruidosos festejos e apelos
comemorativos? Só pode ser “o cara”, esse cara, o tal, o degas. Mas, quem de
nome qual?
As peças
publicitárias e promocionais se manifestam, em todos os meios, neste tempo de costumeiras
festanças; se esquecem ou ignoram ou evitam o nome do aniversariante bimilenário.
Ou mesmo, vai ver, tais cérebros desconhecem a vetusta tradição cristã sobre um
Menino nascido numa modesta comunidade de um modesto país do Oriente Médio, de
mãe e pai humildes, uns sem beira nem eira. E que esse Menino mudará até a
datação das eras para antes e depois dele, em quase inteiro Planeta; e suas mensagens
de harmonia, doação, caridade para com o próximo serão quase nada acatadas e
geralmente distorcidas por obscuras intenções.
Conforme
conveniências tantas, Jesus Cristo, com a mansidão que demonstrou e pregou, há
mais de dois milênios, atende também por Messias, Nazareno, Salvador, Redentor,
Cordeiro de Deus, Filho do Homem, Rei dos Reis, Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, Mestre entre outras mais de três centenas de apelos. E vem rendendo
ganhames de milhões e bilhões de dinheiros no balcão do egoísmo, da ganância
desmedida do consumismo, da insensibilidade, da mentira. Vale sempre de isca
gratuita, por oportunismo de pretensos seus representantes, para pescaria de mais e mais
incautos seguidores.
Usam e abusam do
nome dele. E como abundam esses abusos obtusos nestes confusos e noturnos
tempos, tais modernos traficantes em nome
de JC. Haverá chicotes bastantes para tantos nesses templos de absurdos?
Curto, sim,
simpatia pelas Boas Novas do Nazareno, pelo dele registrado nos quatro
evangelhos selecionados entre dezenas deles. Serão sempre oportunas motivações
para bem viver pessoal e conviver no geral. Mesmo tendo sido escritos, conforme
os entendidos, quase cem anos depois da passagem desse Humanista iluminado pela
Terra, e imagino que ele teria degustado o vinho de Sidarta Gautama, na taça da
paz do amor, da serenidade, do perdão, da compreensão entre as pessoas e as demais
formas da Natureza.
Nestes dias natalinos,
sempre me voltam alegrias na construção do Presépio, para simbolizar o palco do
Nascimento de Jesus Cristo. Para tal proeza, era comum em cidades, como em São
Pedro dos Ferros: desde a cata de areia branca em determinados barrancos e
placas de limo em taludes de pedra em lugar úmido; os demais componentes surgiam
produzidos por nós mesmos de casa numa festiva afoiteza.
Armava-se o dito, na sala de visitas, na representação duma
cidadezinha com casinhas de cartolina branca; uma gruta inventada com pó de pedra
e colada com grude de polvilho em papel grosso, ou pedaço de saco de aniagem,
ou de saco de cimento; ali, o Menino ia nascer... Ali, deitadinho numa
manjedourinha com restos de capim seco aparecendo por debaixo dele, rodeadinho
pela santa mãe, Maria, e o santo pai, José, mais um boizinho, um burrinho, estáticos,
vigiam, guardam e esquentam com seus bafos o Nenenzinho com as perninhas rechonchudinhas
de fora...
Ahhh, não esquecer
os três reis magos acudindo pra lá com presentes de ouro, incenso e mirra...
Tais personagens eram adquiridas prontas.
Minúscula candeia a
óleo de mamona vela o ambiente dia e noite... Tudo num encantamento de nem
saber descrever.
No bolo dessa
azáfama, o preparo dos doces em calda, de limão, de figo, cidra; a rabanada
dourada de gema de ovo. As gostosuras fartavam; os dias do dezembro entoavam
sensações gustativas e piedosas...
O cheiro inigualáavel
do limão cozinhando perdura ainda aqui e agora...
Meia-noite, Missa
do Galo somente para os adultos. Ai que vontade de ir conhecer que tipo de galo
cantava lá... A criançada precisava dormir cedo,
para, de manhã, conferir o brinquedo no sapato atrás da porta da sala, pedido e
sonhado ano inteiro, a Papai Noel e ao Menino Jesus.
Dia 25. Era saltar já da cama, o mais cedo. Naquela manhã, a criançada saia das suas casas em bulhenta
agitação com os mais variados presentes. (Um vizinho meu ganhou um crucifixo de
alumínio...)
E, pés descalços, mãos
abanando, outras meninas e outros meninos babavam com aquilo, sem entender
porque Papai Noel não levava tais presentes para elas...
Com os adultos, as
esbórnias, de um dia para o outro, acontecem na base do pernil suíno, da leitoa
assada, da carne de boi, de cabrito, de peru, até do franguinho de quintal.
Isso e aquilo, regados a vinho, cerveja, refrigerante, limonada caseira,
cachaça e quejandos.
Até agora, não
atino com esse criar, engordar e matar animais, ou encomendados prontos, para
celebração do nascimento de um Menino considerado Deus...
Isso na memória de
poucos remanescentes; e o aniversariante vai-se diluindo numas sombras de alheamento,
desinformação, insensibilidade...
Vamos que vamos,
sambando numa corda bamba, de um circo estrambótico, caótico, consumindo e consumidos...
mas felizes pra dedéu.
E, no meio de
tudo, um mortífero vírus vigia na espreita...
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(PM, escritor,
jornalista))
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São Pedro dos
Ferros, dezembro, 2021.