Viver, amar e
aprender
Como toda mulher que já viveu “um pouco mais”
de
sete décadas, devo possuir alguma bagagem de sa-
bedoria,
lucidez, bastante experiência, alguns PHDs
adquiridos
nas universidades da vida. Acrescentaria até
um
sexto sentido, a percepção rápida de segundas in-
tenções,
capacidade de ler nas entrelinhas e algumas
mais.
Sou do lado da Paz e do Amor. Entretanto,
não se
iluda.
Apesar de identificar-me com as venusianas,
tenho
um pé em Marte.
Combati o bom combate em variadas
épocas e po-
sições
e ainda não abandonei o Elmo, o gládio, e o escu-
do.
Há algum tempo, (parece que foi ontem),
fui meni-
na
tímida, pensadora e questionadora. Ainda que os
questionamentos
tenham se restringido à minha cabeça.
Sem
Google, bibliotecas e tantas fontes acessíveis de
agora,
somente a sabedoria, principalmente a materna,
para
elucidar algumas dúvidas, já que a maioria daque-
les
questionamentos ficavam arquivados sem resposta.
Um
pouco mais à frente, convivi com o romantismo,
nos
embalos dos alegres filmes musicais dos anos cin-
quenta
e sessenta. Fui louca para dançar daquele jeito
e
com aquelas roupas maravilhosas e brilhantes. Com-
fesso:
esse foi um dos meus grandes sonhos de
menina.
Mais
um tempinho e vieram os bailes no Clube ao som
de
orquestras e conjuntos, que hoje se chamam bandas.
Tive
o privilégio de ter vivido na época dos Beatles e
da
Jovem Guarda.
De repente, como consequência da
evolução tec-
nológica,
os costumes e toda a vida passaram por
transformações.
E a máquina de escrever foi substituída
pelo
computador e a internet se instalou facilitando nos-
sa
vida.
O computador e eu nos entendemos, com
direito a
xingar, de vez em quando, a Microsoft ou os
provedo-
res,
tudo dentro da normalidade. Digitei todos os meus
livros
e claro, até ver tudo acertado, para mandar à edi-
tora
houve “choro e ranger de dentes”, normal.
Viajar é uma das coisas que mais gosto. Adoro
o
movimento
do aeroporto, não me importo nem com es-
calas.
Se estou indo passear já estou em beatitude.Te-
nho
viajado pouco por motivos alheios à minha vonta-
de.
Mas quando há pouco tempo minha filha me disse
que
teria uns dias livres e perguntou-me se eu gostaria
de
passear e onde eu gostaria de ir, talvez, supondo que
eu
escolheria uma tranquila paisagem bem próxima, a
resposta
foi imediata: - Vamos à Nova York!
-
Fomos e nos divertimos muito.
Francamente, todo esse destravamento da
língua
e
abertura do coração é uma maneira de lutar contra o
tempo
inexorável e cruel. Inexorável é uma palavra me-
io
retrô, mas é o que sou, tanto na linguagem, conceitos
e
preceitos, figura e estrutura. Uma figura retro mescla-
da
com o moderno, com direito a transitar em diferentes
espaços
e tempos.
Minha escrita tem um pouco de cada
“era” vivi-
da.
Frequentemente, tenho necessidade de usar nota de
rodapé
para explicar termos e personagens citados nela, e
que
não são mais usados ou conhecidos. Isso deixa um
pouco
de História o que para alguns leitores, talvez pos-
sa
ser interessante.
Aprendemos com a vida, às vezes cruel, mas
sempre
querida.
Martha Tavares Pezzini