DE MOACIR,
ESQUECER QUEM HÁ-DE?
Paschoal Motta
Moacir era
mesmo um O Cara, inteligente, culto, escritor de ficções invejáveis, jornalista
dos melhores deste Brasil. Nestes tempos de (i(n)gnorâncias, insensibilidades,
alheamentos, desesperanças, obscurantismos, banalidades, o Moacir Japiassu, com
toda certeza, já está fazendo falta sem tamanho. Tenho memórias perenes de
nosso tempo aqui em BH. Ele chegado da Paraíba, eu de São Pedro dos Ferros.
Juntamente com Daniel Guerra e outros colegas, amigas, amigos, butecamos de
conforme. Em nossas conversas jogadas fora,
compareciam García Lorca, Fernando Pessoa, CDA e outros representantes
da Literatura, verso e prosa e sem fronteiras ou preconceitos. Guimarães Rosa
não podia faltar com trechos de Grande Sertão; Roger Martin Du Gard, com Les
Thibault. O Cinena Novo nos levava ao Cine Guarani, na Rua da Bahia, onde onde
hoje, salvo engano, é Agência dos Correios. O Moacir conhecia de Literatura bem
mais que eu iniciando o Curso de Letras Neolatinas. A BOSSA NOVA era realmente
nova, bossa e marcante. Ainda surpreendia e encantavam as canções de Vinicius,
Tom Jobim, João Gilberto, com Elisete Cardoso no disco lançado em 1958, Canção
do Amor Demais.

Isso e muito
ainda, poderá ser lembrado com as vivências com nosso grupo de estudantes, bancários,
jornalistas. Um ancoradouro sempre nos
esperava nas águas de madrugadas famintas e ainda sedentas, o Mocó da Iaiá, com
seu estreito corredor de entrada, num estreito esgoto aberto às estrelas, ali
na Carijós quase com Curitiba. Enormes ratos podiam nos receber. Lá dentro, a
graça das graças da garçonete Maria, mulata de desespero de muitos. Gente de
rádio, tevê, noctívagos temporários,
dentro do pequeno espaço de paredes lambrisadas de bambu e motivos do Pequeno
Príncipe, de Exupéry, tão na moda...
Naqueles
dourados anos de estudo, trabalho, apertura financeira, curtição de Literatura,
Música, erudita e popular; teatro, cinema, a cachaça, mesmo uma péssima chamada
Copam, ou doses de Nau Sem Rumo, cerveja, namoros, namoricos, paixões... as
portas do Mocó foram fechadas, de uma madrguda para uma manhã, e de bares, como
o Sagarana, no primeiro andar do Maleta,
não refinado como o Mocó... Comemoramos ali a volta do Moacir do Rio de
Janeiro, onde já jornalista com asas abertas sobre a Guanabara.
Naquele meio
tempo, já caía sobre nós e as paisagens ao redor a fuligem do Golpe de 1964.
E nunca fomos os
mesmos... Nem Belo Horizonte.
PM, SPF-BH,
05-11-2015
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