segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Texto de Marcelo Sguassábia


Ontem, estava eu posta em sossego, aproveitando a tranquilidade do carnaval, quando recebo um link através de um amigo. Imediatamente passo a conhecer o Marcelo Sguassábia através do ótimo texto "A ira de Zebedeu". Maior criatividade e muito divertida a exploração do tema Confesso que também eu me lembro de Belzebu quando quero me lembrar do Zebedeu... Explico: apenas do nome! 
Vou ler todas do Marcelo!
Curta você também!
MTP
 

  Marcelo Sguassábia, por ele mesmo


Humor, nonsense, sátira e o mais puro e mal-acabado besteirol. Junte a isso algumas incursões no universo onírico, com um tiquinho de nostalgia e introspecção. É esse mais ou menos meu estilo: o não-estilo definido. Sou redator publicitário, beatlemaníaco empedernido, pianista diletante e fã de livros e filmes que tratem sobre viagens no tempo. Tenho coluna fixa em diversas publicações eletrônicas e três jornais impressos. Blog: www.consoantesreticentes.blogspot.com

É também:


Redator publicitário em Campinas, pianista diletante e apreciador de filmes sobre viagens no tempo, Marcelo Sguassabia é colunista fixo em três jornais impressos e em vários endereços eletrônicos.




                 
                              A Ira de Zebedeu

Que não existam muitas pessoas que se chamem Judas, Herodes ou Pôncio, vá lá, justifica-se. Mas a que se deve a ausência de Zebedeus nas certidões de nascimento pelo mundo afora? Meu nome é tão bíblico quanto os nomes de meus filhos, embora meus dois rebentos apareçam mais vezes que eu nas Sagradas Escrituras.



A propósito, pai de santo (não confundir com a autoridade da Umbanda), e no meu caso de dois santos, deveria com toda justiça ser tratado como santo também. No entanto, milhões pessoas se chamam João e outras milhões são batizadas como Tiago. Mas por acaso alguém conhece outro cristão, além de mim, que se chame Zebedeu?



Uma explicação para essa repulsa talvez esteja no fato de que Zebedeu é quase um anagrama de Belzebu. Sim, é uma hipótese. Assim como é provável que muitos desistam de criar xarás deste que vos fala porque a criança seria a última a constar nas listas organizadas por ordem alfabética - ficando à frente apenas de improváveis Zildas, Zoroastros e Zulmiras. Outros podem alegar que o nome simplesmente é feio que dói, mesmo que este seja um critério subjetivo.



É bom lembrar ainda o desserviço que prestam alguns dicionários, ao definirem "Zebedeu" como burro, palerma ou abestalhado, disseminando mais e mais a maldição zebedêutica. Oh, Senhor dos Aflitos, o que será que fiz de errado para merecer tanta e tão injusta humilhação? Mais triste ainda é ver aqueles que recebem meu nome como apelido infame, muitas vezes horrivelmente grafado como "Zé Bedeu". Também já me impuseram a vergonha de associar minha sagrada pessoa a grupos de forró, blocos carnavalescos e duplas sertanejas de mal afamado repertório, o que é ainda mais grave e ultrajante para quem sempre andou na linha enquanto esteve na Terra.



Fosse meu nome mais bonito, certamente a Igreja há séculos já teria me canonizado. Mas não, fui sendo posto de lado e vendo, com indignação, gente bem menos santa sendo elevada à santosfera sem maiores embaraços teológicos ou burocráticos.



Chega, é hora de reabilitar minha moral na praça, custe o que custar! Para isso, deixo desde já bem clara a minha intenção de abençoar pessoalmente e proteger cada passo da vida do sujeito que batizarem com meu nome. Será coberto de bem-aventuranças e terá minha intercessão exclusiva em favor dele junto à alta corte celeste. Isso eu juro, ou não me chamo Zebedeu.



 Marcelo Sguassábia

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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vem, Sean Penn!

Da Folha de São Paulo:

Imaturidade Anos 60 - Martha Tavares Pezzini

                    

                                          Imaturidade anos 60

     Era um namoro típico dos anos 60. Parecia muito certinho. Mas não era. A menina tinha a cabeça cheia de sonhos,  gostava de estar com amigos, de dançar. O rapaz era ciumento e sempre estavam sozinhos, nunca se divertindo em grupo de amigos. Ela não se sentia à vontade ao lado dele, e quando estavam juntos  deixava  que ele falasse mais e ditasse as regras. Ela  não lhe falava dos  seus sonhos tão distantes daquele lugar em que viviam e  daquela  vida tão previsível. Gostava de passar férias no Rio, cidade que a fascinava e adorava o mar e a praia. Sabia que não seria assim de repente, num estalar de dedos, que tudo poderia mudar, mas sabia também que não havia nascido para viver sempre ali sem progressos, surpresas e chances de crescer. Às vezes ficava agoniada com  aquele situação! Havia momentos em que ela até achava que o namoro podia dar certo. Gostava dele e da sua companhia para ir   ao cinema, dar umas voltas pela cidade, ainda mais sabendo que muitas meninas gostariam de estar em seu lugar... pois afinal, não havia muitos rapazes disponíveis. E adiava o fim. Ou às vezes falava que não queria mais e não explicava muito o porquê, que nem ela sabia direito, e ele voltava para outro encontro como se ela não houvesse dito nada. Ah, essa insistência! Deixava tudo mais difícil. Como teria coragem  de  repetir aquelas palavras tão difíceis  de serem arrancadas lá de dentro? E havia a amizade dele com sua família, o quanto ele era educado e gentil, não queria magoá-lo. Nem com suas amigas ou irmãs falava como se sentia e chegava a se angustiar sem entender.  Só podia ser mesmo muito tola e emocionalmente muito frágil para viver aquela, como que submissão psicológica, da qual não conseguia falar e muito menos se libertar.
Uma ajuda caiu do céu para auxiliar a difícil decisão. Ele  teve de se mudar para outra cidade. Ainda houve troca de cartas, uma certa saudade, mas à  distância ficou mais fácil para os dois verem  a realidade, conviverem com outras pessoas, amadurecerem  para outros relacionamentos até mesmo para o amor.
Um primeiro namoro, principalmente naquela época, podia até chegar ao casamento, sem maturidade emocional e sem se conhecerem e a outras pessoas. Certamente com grande chance de se decepcionarem.
Assim cada qual seguiu sua vida, levando  muitas lembranças  daquele tempo de convivência  de uma fase bela e única apesar dos  sentimentos conflitantes.



Martha Tavares Pezzini

Nota: Fotos apenas ilustrativas da época