Georgiana Gabriela da Silva nasceu e reside em São Pedro dos Ferros
O título já não cumpre o protocolo exato como no início. Abriu-se à Literatura e outras formas de Cultura
quinta-feira, 26 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
Eu, Tiradentes - Um passeio pela obra de Paschoal Motta, com Diego Mendes Sousa
Ontem, postei matéria sobre o livro Eu, Tiradentes do poeta mineiro, de São Pedro dos Ferros, Paschoal Motta. Hoje, volto ao tema, pela data e pelo comentário que acabo de ler do poeta Diego Mendes Sousa.
Para quem não teve a oportunidade de ler Eu, Tiradentes, que merece urgentemente uma reedição, deixo um comentário do escritor Geraldo Reis: "O texto, um monólogo é o resultado de acuradaspesquisas e de uma criação poética duma fala caipira, barroca, de um homem do povo, um tropeiro, um raizeiro, um tirador de dentes, um afobado, um revolucioário conhecedor da realidade de seu país.O relato do principal mito da nossa história política contada por ele mesmo."
E aqui, um texto de Eu, Tiradentes que acho lindo!
"Relato para o futuro essa tira rasgada da malha do meu destino, de ansiar pela vida afora materialização de cada sonhar; invisível essa malha vem tecendo, sendo rompida, recomposta, um emaranhado impossível de descoser por inteiro."
(.........................................................................................................)
De BLOG DE ARTES
Eu, Tiradentes - Um passeio pela obra de Paschoal Motta
20 abril, 2012 - 22:08 - Diego Mendes Sousa
Eu Tiradentes por Paschoal Motta - I
EU, TIRADENTES
Por O Santo Ofício
| 21 abril, 2012
Por Paschoal
Motta
Celebramos
os 220 anos do enforcamento do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes (Rio de Janeiro, RJ, 21-IV-1792), considerado pelas autoridades da
época como o principal envolvido no movimento político denominado Inconfidência
Mineira para livrar o Brasil do domínio colonial português. Em seguida, o
trecho final do monólogo da narrativa Eu, Tiradentes, de Paschoal Motta, como
parte das comemorações do 21 de Abril em homenagem ao Protomártir da
Independência do Brasil e Patrono Cívico da Nação Brasileira, conforme a Lei
4897, de 1965.
Joaquim
José nasceu em 1746, na Fazenda do Pombal, perto do Arraial de Santa Rita do
Rio Abaixo, entre a Vila de São José, atual Cidade de Tiradentes, e São João
del-Rei.
(…)
Bate
completa a manhã deste vinte e um de abril de mil, setecentos e noventa e dois,
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outra similhante nunca admiro repetida. A mais
encantadora de boniteza, lindíssima, com avermelhado Sol no azul e branco do
firmamento, meu derradeiro dia entre viventes. Única esperança: o enforcamento
de minha pessoa, o banimento dos companheiros confederados, que for pela
Pátria, tudo vira em despertar muito brilhante em fogo, luz. Só nesta vontade,
comprometimento, ofereço esta vida, em sã, tranquila consciência, apartado do
medo da fatal hora do baraço no pescoço, que instinto em si obriga a tal. Bem
se arranjem eles e regressem, vencidos os dez anos do degredo em distancíssimas
partes fora do Brasil.
Aperto o
peito com estas mãos há tanto tempo atadas em ferros; pesado, abençoado grilhão
ajustado na garganta, de quase impedir soltar voz, alimentar, deglutir simples
cuspe. De igual feição, aprendi amar a eles, pelo carinho da constante
companhia, mesmo dolorida, incomodante no corpo, tilintava correntes com
distração, elas, um cilício, untadas de suor, meu desespero, minha solidão. Com
ditos ferros, consegui amena cantiga no ouvido, noite, noite, no recurso de
ainda espaventar ratazana, eu na vigília, sem dormir direito, espichando cada
hora, que queria breve. Não lamento, somente relato. Acabo amando em demasia
aquilo de minha perdição, meu calvário. Pouco sobra de espaço de tempo em maior
declaração. Já aparece em seguida o barbeiro, para tosar cabelo, barba, mais
alguém capaz no preparo de minha pessoa, alma, tirante Vossas Mercês já aqui.
Nem derrota, nem derradeira vira essa jornada unicamente minha; para vida, para
morte, sempre traço desassossegado caminho no rumo da aventura, no almejo do
bem pessoal, do próximo, maneira de existir, em desde menino.
Onde anda
a alma de minha mãe, de meu pai, dos quais mal diviso retratação na saudade;
meu pai Domingos, minha mãe, Antônia da Encarnação; meu irmão mais velho, xará
de meu pai; minha irmã Maria Vitória, meu irmão Antônio, meu irmão José, minha
irmã Eufrásia, minha caçula, xará de minha mãe? Em que partes residem? Para
onde fugiram todos pela maldição de serem meus afins? Deles, jamais notícia
chegou, depois da prisão. Antônia Maria, queridíssima companheira, mãe de minha
pequena Joaquina? Que delas prepara a vida? Onde todos eles? Fugidos,
escorraçados por perseguição em causa do mesmo sangue nestas veias? De todos,
assaz necessitada: a menina Joaquina, com nem seis anos de idade. Imagino minha
filha, menininha, pela mão da mãe se acoitando do medo, em Villa Rica, indo em
fuga, assustadinhas, no recurso de sobrevivência, que nem teto agora dispõem,
modo rebuçar de chuva, frio, elas também amaldiçoadas.
A malha
da liberdade pode aparecer como desfeita, mas logo haverá recomposta.
Em antes
de bater meio-dia, assistirei já em desconhecida paragem.
Medo
qualquer entra neste coração. Por pura felicidade, providencial, divino
destino, este corpo, esquartejado, falará, não como escarmento projetado pelas
autoridades, e sim provocação para o povo nacional proceder liberto de
despotismo. Por divina Providência, determina a sentença permanecer espetada
esta cabeça em alto, visível poste em praça pública de Villa Rica, já antes
expostos pedaços deste corpo pelos caminhos. Acendo, mudo, assim fé no
estabelecimento da nação brasileira.
Quente
viaja o Sol, já alto. Derrubam casa de morada da Maria Antônia, da pequena
Joaquina; salgam terreno dela arrasado nem querendo as autoridades conhecer
onde homiziam suas inválidas pessoas.
Amanhecem
bem dormidos os companheiros, aliviados do pesado terror de morte na forca. De
outros, escasso tempo disponível não permitiu referição, em cada seu
particular, ação na inconfidência; bastante saudoso no coração, despeço-me. A
eles, um por um; a cada qual deixo humilde dote de amizade, com súplica de
perdão pelo desatino provocado em sua existência, indo todos em degredo para
distantes partes, despojados de teres, haveres, queridos familiares, amigos.
Valeu;
vale vida, mesmo sobrevindo inesperado desacerto. Vale não quietar existência
no seu particular bem-bom; vale sair, gritar na inteira força da voz, enquanto
da rua bate no ouvido murmúrio de opressão; enquanto da parede da meia-água do
vizinho, divide choro renitente duma criança pequena na fome, aflita mãe,
desiludido pai. Valeu batalha; vale ansiar soltura enquanto entra janela
adentro, da praça, berro dum escravo debaixo de bacalhau de couro cru, dobrado,
preso num vira-mundo. Urge convergir para vera amizade: amor; dela, dele, não
encontra um escapatória, ninguém, um dia. Vossas Mercês haveriam repetição do
que pratiquei, idealizei, de frente, como andei, desarmado de mau sentimento,
sonhando apenas felicidade, alegria no rosto, no coração. Qualquer, em sã
consciência, praticava igual comigo, assistindo vexação do povo, no aproveito
de uns poucos. Este o destino: não acaba uma vida com a morte, nem fogo queima
uma idéia; nenhum ferro segura a liberdade.
Aí envém
o carrasco Capitania no preparo de meu corpo para enforcamento, e a roupa trago
esfarrapada, crescido cabelo, longa barba. Adeus. Eu, Tiradentes beijo a mão de
Vossas Mercês e a do carrasco…
Fragmento
de Eu, Tiradentes, Paschoal Motta, Editora Lê, Belo Horizonte, 3ª. edição,
1992.
Vale a pena, aproveitando a data recomendar a leitura desse livro. E também lamentar pelo afastamento do seu autor, das nossas estantes.
Minha homenagem ao grande herói, Tiradentes e a Paschoal Motta.
Martha Tavares Pezzini
Sobre livros e Autores
marthatavaresspf.blogspot.com
sexta-feira, 20 de abril de 2012
ALFERES TIRADENTES, AINDA VIVO
Celebramos
os 220 anos do enforcamento do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes (Rio de Janeiro, RJ, 21-IV-1792), considerado pelas
autoridades da época como o principal envolvido no movimento político
denominado Inconfidência Mineira para livrar o Brasil do domínio
colonial português. Em seguida, o trecho final do monólogo da narrativa Eu, Tiradentes, de Paschoal Motta,
como parte das comemorações do 21 de Abril em homenagem ao Protomártir
da Independência do Brasil e Patrono Cívico da Nação Brasileira,
conforme a Lei 4897, de 1965.
Joaquim José nasceu em
1746, na Fazenda do Pombal, perto do Arraial de Santa Rita do Rio
Abaixo, entre a Vila de São José, atual Cidade de Tiradentes, e São João
del-Rei.
(........................................................................................................................................)
Bate
completa a manhã deste vinte e um de abril de mil, setecentos e noventa
e dois, de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outra similhante nunca admiro
repetida. A mais encantadora de boniteza, lindíssima, com avermelhado
Sol no azul e branco do firmamento, meu derradeiro dia entre viventes.
Única esperança: o enforcamento de minha pessoa, o banimento dos
companheiros confederados, que for pela Pátria, tudo vira em despertar
muito brilhante em fogo, luz. Só nesta vontade, comprometimento, ofereço
esta vida, em sã, tranquila consciência, apartado do medo da fatal hora
do baraço no pescoço, que instinto em si obriga a tal. Bem se arranjem
eles e regressem, vencidos os dez anos do degredo em distancíssimas
partes fora do Brasil.
Aperto
o peito com estas mãos há tanto tempo atadas em ferros; pesado,
abençoado grilhão ajustado na garganta, de quase impedir soltar voz,
alimentar, deglutir simples cuspe. De igual feição, aprendi amar a eles,
pelo carinho da constante companhia, mesmo dolorida, incomodante no
corpo, tilintava correntes com distração, elas, um cilício, untadas de
suor, meu desespero, minha solidão. Com ditos ferros, consegui amena
cantiga no ouvido, noite, noite, no recurso de ainda espaventar
ratazana, eu na vigília, sem dormir direito, espichando cada hora, que
queria breve. Não lamento, somente relato. Acabo amando em demasia
aquilo de minha perdição, meu calvário. Pouco sobra de espaço de tempo
em maior declaração. Já aparece em seguida o barbeiro, para tosar
cabelo, barba, mais alguém capaz no preparo de minha pessoa, alma,
tirante Vossas Mercês já aqui. Nem derrota, nem derradeira vira essa
jornada unicamente minha; para vida, para morte, sempre traço
desassossegado caminho no rumo da aventura, no almejo do bem pessoal, do
próximo, maneira de existir, em desde menino.
Onde
anda a alma de minha mãe, de meu pai, dos quais mal diviso retratação
na saudade; meu pai Domingos, minha mãe, Antônia da Encarnação; meu
irmão mais velho, xará de meu pai; minha irmã Maria Vitória, meu irmão
Antônio, meu irmão José, minha irmã Eufrásia, minha airmãzinha caçula,
xará de minha mãe? Em que partes residem? Para onde fugiram todos pela
maldição de serem meus afins? Deles, jamais notícia chegou, depois da
prisão. Antônia Maria, queridíssima companheira, mãe de minha pequena
Joaquina? Que delas prepara a vida? Onde todos eles? Fugidos,
escorraçados por perseguição em causa do mesmo sangue nestas veias? De
todos, assaz necessitada: a menina Joaquina, com nem seis anos de idade.
Imagino minha filha, menininha, pela mão da mãe se acoitando do medo,
em Villa Rica, indo em fuga, assustadinhas, no recurso de sobrevivência,
que nem teto agora dispõem, modo rebuçar de chuva, frio, elas também
amaldiçoadas.
A malha da liberdade pode aparecer como desfeita, mas logo haverá recomposta.
Em antes de bater meio-dia, assistirei já em desconhecida paragem.
Medo
qualquer entra neste coração. Por pura felicidade, providencial, divino
destino, este corpo, esquartejado, falará, não como escarmento
projetado pelas autoridades, e sim provocação para o povo nacional
proceder liberto de despotismo. Por divina Providência, determina a
sentença permanecer espetada esta cabeça em alto, visível poste em praça
pública de Villa Rica, já antes expostos pedaços deste corpo pelos
caminhos. Acendo, mudo, assim fé no estabelecimento da nação brasileira.
Quente
viaja o Sol, já alto. Derrubam casa de morada da Maria Antônia, da
pequena Joaquina; salgam terreno dela arrasado nem querendo as
autoridades conhecer onde homiziam suas inválidas pessoas.
Amanhecem
bem dormidos os companheiros, aliviados do pesado terror de morte na
forca. De outros, escasso tempo disponível não permitiu referição, em
cada seu particular, ação na inconfidência; bastante saudoso no coração,
despeço-me. A eles, um por um; a cada qual deixo humilde dote de
amizade, com súplica de perdão pelo desatino provocado em sua
existência, indo todos em degredo para distantes partes, despojados de
teres, haveres, queridos familiares, amigos.
Valeu;
vale vida, mesmo sobrevindo inesperado desacerto. Vale não quietar
existência no seu particular bem-bom; vale sair, gritar na inteira força
da voz, enquanto da rua bate no ouvido murmúrio de opressão; enquanto
da parede da meia-água do vizinho, divide choro renitente duma criança
pequena na fome, aflita mãe, desiludido pai. Valeu batalha; vale ansiar
soltura enquanto entra janela adentro, da praça, berro dum escravo
debaixo de bacalhau de couro cru, dobrado, preso num vira-mundo. Urge
convergir para vera amizade: amor; dela, dele, não encontra um
escapatória, ninguém, um dia. Vossas Mercês haveriam repetição do que
pratiquei, idealizei, de frente, como andei, desarmado de mau
sentimento, sonhando apenas felicidade, alegria no rosto, no coração.
Qualquer, em sã consciência, praticava igual comigo, assistindo vexação
do povo, no aproveito de uns poucos. Este o destino: não acaba uma vida
com a morte, nem fogo queima uma idéia; nenhum ferro segura a liberdade.
Aí
envém o carrasco Capitania no preparo de meu corpo para enforcamento, e
a roupa trago esfarrapada, crescido cabelo, longa barba. Adeus. Eu,
Tiradentes beijo a mão de Vossas Mercês e a do carrasco...
(de Eu, Tiradentes, Paschoal Motta, Editora Lê, Belo Horizonte, 3ª. edição, 1992)
MarthaTavares Pezzini
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quinta-feira, 19 de abril de 2012
Do Facebook: Bienal
O autor e teólogo Leonardo Boff esteve na #bienalbrasil para apresentar a palestra "Fé, fanatismo e conflitos políticos no mundo atual". Antes do debate, Boff conversou com a nossa equipe sobre a importância de se debater esse assunto na Bienal e sobre a relevância da utilização da internet em conflitos políticos. Confira a entrevista.
http://snd.sc/IXlyGyHoje à noite na Bienal: palestra ''De Getúlio a Lula: a perspectiva de um estrangeiro sobre grandes líderes'' com Richard Bourne (Inglaterra) às 18 horas no Café Literário. Tem também o semnário Krisis - Meio Ambiente com Vandana Shiva (Índia) e John Gray (Inglaterra) às 20 horas no Auditório Nelson Rodrigues. No mesmo horário, Eliane Cantanhede media o seminário ''Biografia, biógrafos e biografados''. Não percam!
Estante virtual para comprar os livros do Nilto Maciel:
http://www.estantevirtual.com.br/qau/nilto-maciel .
http://www.estantevirtual.com.
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