Sons da chuva
Ouço a chuva lá fora, ora mansa, ora em pancadas. Mansinha,
fina, gostosa. Seus sons, às vezes, apenas um cochicho, um murmúrio...
Parece que cai assim mansinha para acalmar, amolecer nossa
armadura, nossa casca, e nos diluir.
Aí, desperta desejos de aconchego, sono, leitura, um chá ou
vinho, conversa calma e outros prazeres mais. Traz também, respingos de
lembranças...
Chego da janela para ver a rua, a chuva. É noite e as luzes
sobre o asfalto molhado se refletem nas poças. Sombras e imagens projetam formas surreais em preto e branco,
como num filme noir, no chão espelhado.
Junto ao meio fio corre um filete. Poucas pessoas, apressadas,
a pé, indo para casa, ansiosas por sentir toda aquela sensação de proteção e
bem estar de quem chega em seu abrigo.
Ser surpreendida pela chuva me deixa meio aturdida. Se a chuva
vem meio de repente nunca tenho sombrinha! E nas poucas vezes que me previno,
com certeza não chove. Lei de Murphy não falha!
Nesse momento, ouço apenas um som bem suave dos poucos carros
passando pelo asfalto molhado. A chuva, personagem que encadeou esses
pensamentos, está silenciosa. Mas seu efeito amortecedor já me deixou com a
sensação de que vou dormir bem. E talvez, já na cama, ela volte a sussurrar
embalando meu sono.
Tão gostoso dormir embalada pela chuva!
Martha Tavares Pezzini