Uma análise real
Chegar aos oitenta anos é como atingir o pico de
uma montanha após uma fatigante e arriscada escalada onde convivemos com a perplexidade diante da ousadia,
insegurança, medo, encantamento, desafios e surpresas. Para escalar uma montanha sempre há uma preparação dos
instrumentos necessários, instruções
sobre como agir diante de obstáculos imprevistos e mais conhecimentos sobre
eles. A meta é somente uma: chegar ao
topo.
Já
na estrada da vida é um pouco diferente. Somos surpreendidos frequentemente sem
estarmos preparados. Vamos aprendendo à medida que vivemos com os erros e
acertos.
Sempre
tive consciência do meu envelhecimento, mas sentia que a- inda aguenta- ria os trancos e percalços com que a
vida nos brinda, por mais uns tempos. Em todo esse tempo vivido, nunca tive a
certeza de que chegaria tão longe. Tampouco que esse tempo se mostrasse tão rapidamente
à minha frente e dizendo: - Olha eu aqui. Cheguei. - E nem contava com o
imprevisto da cruel pandemia a roubar dois anos de quem já está a contá-los nos
dedos.
Ao
ver a meteórica aproximação do precioso marco comecei a considerá-lo um divisor
de águas um tanto estarrecedor. Não adianta tentar disfarçar, tentar novas indumentárias
ou nomenclaturas.
O
prazer de viajar para onde quiser, por exemplo, ficou bastante comprometido.
Não tenho o mesmo destemor, o mesmo arroubo. Desbravar o desconhecido, nem pensar.
Sem companhia, ficou muito dificil e esta é sem dúvida, a pior parte das restrições,
que já são muitas. Não quero me enganar.
Tenho que manter o bom senso.
O
que me salva é a escrita. É de onde sai o que está lá dentro e necessita vir à
tona. É como conversar com alguém cujos olhos, por acaso, cheguem até esta
página. O que escrevo é dirigido a ele. Este diálogo, porém, está sendo
dificultado. Com dois livros para
publicar e as editoras informando que não estão recebendo rascunhos para
análise - o que pode ser desculpa para não perder tempo com escritor
desconhecido.
Ler
foi sempre uma grande satisfação além de resposta, enriquecimento e complementação
aos meus anseios de conhecer e saber mais. Quanto mais antigas foram as
leituras, mais emoções acumularam em minha bagagem.
Em
meu caminho aconteceram menos desencontros do que encontros. Por onde passei
conheci pessoas inesquecíveis e insubstituíveis. As demais serviram de referência
ao estabelecer uma comparação.
Viver
é aprendizado: se muito vivi, muito aprendi tanto com as situações adversas
como com as favoráveis.
Assisti às várias transformações
em todas as áreas humanas, políticas e sociais. Do que vivi, aproveitei todas
as oportunidades ainda que nem sempre tenham sido tão abundantes.
De tão longe até aqui, sobejaram bênçãos que me propiciaram alçar os
degraus que me proporcionaram cada um, a aprendizagem para prosseguir.
Os calçados estão gastos, mas a mochila e o coração estão repletos dos
dados recolhidos e das emoções vividas.
Martha Tavares Pezzini