quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Uma análise real - Martha Tavares Pezzini


 

         

Uma análise real

 

           Chegar aos oitenta anos é como atingir o pico de uma montanha após uma fatigante e arriscada escalada onde convivemos com  a perplexidade diante da ousadia, insegurança, medo, encantamento, desafios e surpresas.  Para escalar uma  montanha sempre há uma preparação dos instrumentos  necessários, instruções sobre como agir diante de obstáculos imprevistos e mais conhecimentos sobre eles. A  meta é somente uma: chegar ao topo.

            Já na estrada da vida é um pouco diferente. Somos surpreendidos frequentemente sem estarmos preparados. Vamos aprendendo à medida que vivemos com os erros e acertos.

           Sempre tive consciência do meu envelhecimento, mas sentia que a- inda  aguenta- ria os trancos e percalços com que a vida nos brinda, por mais uns tempos. Em todo esse tempo vivido, nunca tive a certeza de que chegaria tão longe. Tampouco que esse tempo se mostrasse tão rapidamente à minha frente e dizendo: - Olha eu aqui. Cheguei. - E nem contava com o imprevisto da cruel pandemia a roubar dois anos de quem já está a contá-los nos dedos.

             Ao ver a meteórica aproximação do precioso marco comecei a considerá-lo um divisor de águas um tanto estarrecedor. Não adianta tentar disfarçar, tentar novas indumentárias ou nomenclaturas.

            O prazer de viajar para onde quiser, por exemplo, ficou bastante comprometido. Não tenho o mesmo destemor, o mesmo arroubo. Desbravar o desconhecido, nem pensar. Sem companhia, ficou muito dificil e esta é sem dúvida, a pior parte das restrições, que já são muitas.  Não quero me enganar. Tenho que manter o bom senso.

           O que me salva é a escrita. É de onde sai o que está lá dentro e necessita vir à tona. É como conversar com alguém cujos olhos, por acaso, cheguem até esta página. O que escrevo é dirigido a ele. Este diálogo, porém, está sendo dificultado. Com dois livros  para publicar e as editoras informando que não estão recebendo rascunhos para análise - o que pode ser desculpa para não perder tempo com escritor desconhecido.

            Ler foi sempre uma grande satisfação além de resposta, enriquecimento e complementação aos meus anseios de conhecer e saber mais. Quanto mais antigas foram as leituras, mais emoções acumularam em minha bagagem.

             Em meu caminho aconteceram menos desencontros do que encontros. Por onde passei conheci pessoas inesquecíveis e insubstituíveis. As demais serviram de referência ao estabelecer uma comparação.

             Viver é aprendizado: se muito vivi, muito aprendi tanto com as situações adversas como com as favoráveis.

               Assisti às várias  transformações em todas as áreas humanas, políticas e sociais. Do que vivi, aproveitei todas as oportunidades ainda que nem sempre tenham sido tão abundantes.

              De tão longe até aqui, sobejaram bênçãos que me propiciaram alçar os degraus que me proporcionaram cada um, a aprendizagem para prosseguir.

              Os calçados estão gastos, mas a mochila e o coração estão repletos dos dados recolhidos e das emoções vividas.

 

Martha Tavares Pezzini

 

Um comentário:

  1. O peso-leveza dos 80 anos: com bom que que você o tem com saúde. Quero fazer igual. Como se diz no jargão popular "Ainda temos muita lenha pra queimar". E continuaremos escrever, pois assim trataremos a vida com leveza!

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