sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Três Poemas: Basilina Pereira - Paschoal Motta - Sergio Donadio

 

                I

O QUE DIZ O SILÊNCIO

 

No vértice da palavra

a ausência do som é o nó

que trava o sentimento.

A flâmula que se debate ao vento

risca o espaço, quer atravessar a fenda,

embrulha o tempo e, ainda assim,

só o relâmpago de um olhar acuado,

que devora o momento de um só gole.

Tudo está ali e nada se pode ver.

A vontade embebida em gestos contidos

é a folha que o medo engoliu.

E a pedra, que não está no meio do caminho,

mas solta à margem do penhasco.

 

Basilina Pereira

 

                   II

R E V E L A Ç Ã O

Paschoal Motta

 

Que canção basta entoar

Para compor a madrugada?

A manhã, outra vez,

Nasce aí onde relembro.

Minhas mãos se queimam

Por sua pele de pétala.

As setas das lágrimas

Cobrem de fogo meus olhos

Só por rever o seu corpo.

De vigília, sei dos seus sonhos,

aí, nesse pouso de sombras.

Seu nome reescrevo para gravar

nas penhas de sua ausência,

faca afiada de esperas,

e revelar quem somos;

que de argila somos fruto

de passados e de angústias,

sabendo que não seremos

mortos para todo e sempre:

A lembrança em nossos ombros

Suporta o que nos iluminará

Com os signos da esperança

Na carne inteira de ansiedade.

 

                     III

  Tempo de esperas

 

A esperança me abraça,

A esperança não constrange,

Inda cultivo saudades

D’onde semeei andanças...

A esperança me abraça

Ante a lembrança estranha

De um tempo que esfumaça

Entre feitos e defeitos,

A esperança não constrange

Esta visão esparsa

Das formas que fui levando,

A esperança me abraça

Dando-me novas entranças

Ao sentimento esparso

De mim em tempo criança...

 Sergio Donadio

 

 

 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Revelação - Paschoal Motta

 

UM P0EMA PARA SUA EMOÇÃO/ 50

“Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar...” (Pablo Neruda)

R E V E L A Ç Ã O

Paschoal Motta

 

Que canção basta entoar

para compor a madrugada?

 

A manhã, outra vez,

nasce aí onde relembro.

 

Minhas mãos se queimam

por sua pele de pétala.

 

As setas das lágrimas

cobrem de fogo meus olhos

só por rever o seu corpo.

 

De vigília, sei de seus sonhos,

aí, nesse pouso de sombras.

 

Seu nome reescrevo para gravar

nas penhas de sua ausência,

faca afiada de esperas,

e revelar quem somos;

que de argila somos fruto

de passados e de angústias,

sabendo que não seremos

mortos para todo o sempre:

 

A lembrança em nossos ombros

suporta o que nos iluminará

com os signos da esperança

 

na carne inteira de ansiedade.

 

(de Estações da Ausência, esgotado)

 

Esta edição, enviada diretamente a 940 endereços, homenageia a memória  LUIZ NUNES (BALALAICA), taxista, compositor e  seresteiro muito apreciado em São Pedro dos Ferros, Caratinga e região.

Promoção: PHRASIS Assessoria Texto Consultoria / Seu texto em melhores mãos depois das suas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Uma análise real - Martha Tavares Pezzini


 

         

Uma análise real

 

           Chegar aos oitenta anos é como atingir o pico de uma montanha após uma fatigante e arriscada escalada onde convivemos com  a perplexidade diante da ousadia, insegurança, medo, encantamento, desafios e surpresas.  Para escalar uma  montanha sempre há uma preparação dos instrumentos  necessários, instruções sobre como agir diante de obstáculos imprevistos e mais conhecimentos sobre eles. A  meta é somente uma: chegar ao topo.

            Já na estrada da vida é um pouco diferente. Somos surpreendidos frequentemente sem estarmos preparados. Vamos aprendendo à medida que vivemos com os erros e acertos.

           Sempre tive consciência do meu envelhecimento, mas sentia que a- inda  aguenta- ria os trancos e percalços com que a vida nos brinda, por mais uns tempos. Em todo esse tempo vivido, nunca tive a certeza de que chegaria tão longe. Tampouco que esse tempo se mostrasse tão rapidamente à minha frente e dizendo: - Olha eu aqui. Cheguei. - E nem contava com o imprevisto da cruel pandemia a roubar dois anos de quem já está a contá-los nos dedos.

             Ao ver a meteórica aproximação do precioso marco comecei a considerá-lo um divisor de águas um tanto estarrecedor. Não adianta tentar disfarçar, tentar novas indumentárias ou nomenclaturas.

            O prazer de viajar para onde quiser, por exemplo, ficou bastante comprometido. Não tenho o mesmo destemor, o mesmo arroubo. Desbravar o desconhecido, nem pensar. Sem companhia, ficou muito dificil e esta é sem dúvida, a pior parte das restrições, que já são muitas.  Não quero me enganar. Tenho que manter o bom senso.

           O que me salva é a escrita. É de onde sai o que está lá dentro e necessita vir à tona. É como conversar com alguém cujos olhos, por acaso, cheguem até esta página. O que escrevo é dirigido a ele. Este diálogo, porém, está sendo dificultado. Com dois livros  para publicar e as editoras informando que não estão recebendo rascunhos para análise - o que pode ser desculpa para não perder tempo com escritor desconhecido.

            Ler foi sempre uma grande satisfação além de resposta, enriquecimento e complementação aos meus anseios de conhecer e saber mais. Quanto mais antigas foram as leituras, mais emoções acumularam em minha bagagem.

             Em meu caminho aconteceram menos desencontros do que encontros. Por onde passei conheci pessoas inesquecíveis e insubstituíveis. As demais serviram de referência ao estabelecer uma comparação.

             Viver é aprendizado: se muito vivi, muito aprendi tanto com as situações adversas como com as favoráveis.

               Assisti às várias  transformações em todas as áreas humanas, políticas e sociais. Do que vivi, aproveitei todas as oportunidades ainda que nem sempre tenham sido tão abundantes.

              De tão longe até aqui, sobejaram bênçãos que me propiciaram alçar os degraus que me proporcionaram cada um, a aprendizagem para prosseguir.

              Os calçados estão gastos, mas a mochila e o coração estão repletos dos dados recolhidos e das emoções vividas.

 

Martha Tavares Pezzini