segunda-feira, 18 de abril de 2022

SOBRAS DO SOBRADÃO - MARCELO PIRAJÁ SGUASSÁBIA

 

SOBRAS DO SOBRADÃO
 
Mal range a porta de entrada e cai uma aranha do lustre, ali teimando, dependurada no vácuo dos anos. Dois gritos de desespero da sinhá primeira, a matriarca de gerações tantas, e eram quase uivos os lamentos da coitada.
Raspando com a unha, vê-se que sem conta foram as demãos de cal, todas de incertas datas e tons sortidos. Demãos que, descobertas, não esquecem mas também não trazem de volta o que presenciaram, desde o início do ciclo da cana.
Cinquenta e seis vergonhas escabrosas varridas para debaixo do tapete persa da sala de visitas. Alinhados, os retratos a óleo dos barões e sinhozinhos, alternando com armas, um chifre de veado e o velho espelho encabeçado pelo brasão da família.
Mais uns passos pelo extenso assoalhado e se chega ao oratório, com o terço benzido por Pio IX, um cálice de igreja do tempo das Bandeiras e o Santo Antonio em gesso e de túnica desbotada – tantos foram os banhos de lágrimas em loucos pedidos de graças.
Cinzas de assados e vestígios de sangue, no borbulho de compotas. A cozinha, indústria de ervas e tripas. Traços de esperma incrustados entre um azulejo português e outro sugerem a devassidão de sei lá quem, flagrado em pecado mortal. 
 
Esta é uma obra de ficção
© Direitos Reservados
Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br. Divulgação / Prefeitura de Nova Iguaçu / Direitos Reservados
 
Marcelo Pirajá Sguassábia

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Em busca do meu eu - Martha Tavares Pezzini

 

 

Mergulho dentro de mim em busca de algumas pistas, nos

registros que estão lá.

Cenários e imagens surgem como fotos em marca d’água. Como em um mosaico, existem peças preciosas que demoram a se encaixar. Talvez isso ocorra como um insight, em outro momento. Cada fragmento vivido compõe o todo que é hoje, o que sou.

Revejo traços da minha história. Alguns, gostaria de esquecer. No entanto preciso vê-los como parâmetros para a vida madura e a mais recente. Analiso atitudes e situações com a visão que adquirida trilhando as estradas que me trouxeram até aqui. Vejo as marcas deixadas como consequências de reações inadequadas, frutos da imaturidade, insegurança, medos. que por sua vez, como num círculo vicioso, da mesma maneira, tiveram suas origens.

 “Conhece-te a ti mesmo”, célebre frase atribuída à Socrates, sábio grego, mostra-nos que é impossível chegarmos ao verdadeiro conhecimento antes de conhecermos a nós próprios, sendo esta uma busca que não tem fim.

O autoconhecimento muda a forma como interagimos com o mundo e com as pessoas, possibilitando maior conhecimento e aprendizagem.


 

 

Martha Tavares Pezzin

13/16/03/22

 

 

 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Chuva Mansa - Martha Tavares Pezzini

 

Com muita alegria vemos o sol brilhando após um período de transtornos e tragédias em consequência das chuvas. Vamos lembrar da chuva, em tempo de bonança como foi lembrada em um janeiro de 2016.

                              

“Chove como há muito não chovia.
Chuva mansa que não para
Mantendo aquele som gostoso
provocando vontade de deitar,
Puxar a coberta e cochilar.
Lembrando outras chuvas,
Imaginando a água encharcando a terra,
plantas sorrindo, dançando,
crescendo, esverdeando, vicejando.
Nós, assim tranquilos e enxutos,
no conforto de casa,
nada querendo do que esteja lá fora.”
Martha Tavares Pezzini
               

 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

                           

 

 

   Chuva de felicidade

 

         Começou a chover agora à tarde. O som da chuva, calma e sem trovões, soa agradável aos meus ouvidos. Dá vontade de largar tudo e me deixar envolver pelo clima de paz que vem com ela. Uma invasão de recordações me assaltam sempre na presença de aromas e sons. Sinto ainda, aquele cheiro que impregnava o ar da minha casa, quando as telhas secas iam se encharcando, ao começar a primeira chuva.

         Vejo-me criança, junto à minha mãe e irmãs deixando tudo de lado para nos entregarmos àqueles momentos  se acontecia um temporal mais forte. Na impossibilidade de olhar pelas janelas, sem vidraça, nossa curiosidade era aguçada para ver as enxurradas e a água que descia do telhado o que nos fazia arriscar pequenas aberturas, fechadas às pressas pelas rajadas de vento e água que nos assaltavam.

         Aqueles aguaceiros que caiam à tarde faziam surgir as goteiras no telhado sendo necessário colocar baldes, bacias e o que mais houvesse para salvar o chão ou algum outro móvel. E o plim, plim era um novo som sendo gravado em nossos ouvidos como notas de um piano. Como complemento surgia o coral das nossas vozes. Gostávamos de cantar. Talvez porque fossemos felizes sem saber.

         Após o culto à chuva, mamãe fazia sonhos ou biscoitos fritos para acompanhar o café. Tudo parecia estar combinado e já acontecia com um propósito: gravarmos aqueles momentos e trazê-los para o hoje quando os sons da chuva já não são mais os mesmos e aqueles concertos de orquestra e coral não acontecem mais. São ecos de um tempo em que a felicidade podia estar num canto, num aconchego, na chuva, no estar junto.  A felicidade era convidada a tomar parte em nossa vida em qualquer oportunidade. E chegava sem complicação, sem rodeio. Ela também era simples. Como nós.

Martha Tavares Pezzini

 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Saindo do Sério

 Olha elas aí! Vivo no meio delas. Falo muito, descontando o atraso do tempo que não conseguia falar. Escrevo muito, o que vem à telha! 

 

 Não consegui postar o desenho que fiz do placard das "meninas"!

 

 

 

 

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Conselhos da Ana Cristina Goulart Moreira para 2022

 

Conselhos  para 2022

- Preciso seguir essa menina! - MTP


1- Use branco

Não falo da roupa. A roupa é o de menos! Use branco na alma. Não entre em disputas. Não chute cachorro morto. Entre um desaforo e uma resposta atravessada, escolha a paz.

2- Varra a casa

Do fundo até a porta. Varra tudo! Mágoas, desgostos, rancores, amores não correspondidos. Varra! Aspire! Espane! Não deixe nem poeira. Entre limpo.

3- Quebrou? Jogue fora

Se for a sopeira que você herdou da sua avó, conserte. Sua avó agradece. Mas em se tratando de amores, trabalhos, relações de todo tipo, amizades... Quebrou? Rachou? Avalie se vale guardar. Investir em quem não merece é desperdício de energia. Ponha a fila para andar.

4- Louro na carteira

Dizem que garante dinheiro. Mas se preferir um moreno, não faça cerimônia! Vá em frente.

5- Use cor amarela

A cor amarela é a cor da prosperidade. Ajuda nos caminhos do sucesso. Mas não faz milagre. Então use amarelo e trabalhe. Se esforce, estude, faça mais que o melhor possível. O melhor possível você já conseguiu até aqui.

6- Sete ondas

Aliás, pule: ondas, desaforos, prejuízos. Se não der para pular, desvie.

7- Use lingerie nova

Fala sério, isso não é só no primeiro dia do ano. Jogue fora aquela calçola velha, desbotada, furada, de elástico frouxo. Pior que encosto. Sem maiores detalhes! Lixo com ela!

8- Coma lentilha, uvas, romã

Olha só, coma o que quiser. E coma, principalmente, a vida! Coma com gosto! Caia de boca! Se lambuze!

9- Não coma peru ou frango (porque ciscam para trás)

Agora vamos combinar, você gruda no passado como chiclete em cabelo, passa anos esperando o amor que já se foi, vive atrelada ao que já está desfeito? Não ponha a culpa no pobre do frango. Você cisca para trás muito mais do que ele. Caminho é em frente!

10- Não deixe roupas viradas pelo avesso

Isso se você acreditar que avessos são ruins. Não são. Avessos são nosso lado mais verdadeiro. Nossa versão mais crua. Desvire, se não quiser ficar exposta por aí. Avessos devem ser mostrados a poucos. Apenas aos que merecem.

Algumas pessoas passam a vida viradas como tartarugas de casco para baixo. Balançam pernas e braços. Aflitas, não saem do lugar.

Um ano novo começa. Mas só vale se você se desvirar. Desvire a vida, os amores, os afetos. Arrume a alma. Faxine seu coração. Ponha a vida para andar.

Vida é renda de brilho. Teçamos o ano novo com capricho. Sem nós, sem embaraços. Nos melhores caminhos e nas mais lindas cores. Teçamos a vida que vamos vestir. No nosso número, sem apertos, sem sobras inúteis. Na plena beleza do que cada um merece e pode ter.

2022 / Dois, zero, dois dois é a senha para o recomeço

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