quarta-feira, 1 de junho de 2022

Viver, amar e aprender - Martha Tavares Pezzini

 

       Viver, amar e aprender

      

         Como toda mulher que já viveu “um pouco mais”

de sete décadas, devo possuir alguma bagagem de sa-

bedoria, lucidez, bastante experiência, alguns PHDs

adquiridos nas universidades da vida. Acrescentaria até  

um sexto sentido, a percepção rápida de segundas in-

tenções, capacidade de ler nas entrelinhas e algumas

mais.

        Sou do lado da Paz e do Amor. Entretanto, não se

iluda. Apesar de identificar-me com as venusianas,

tenho um pé em Marte.

         Combati o bom combate em variadas épocas e po-

sições e ainda não abandonei o Elmo, o gládio, e o escu-

do.

        Há algum tempo, (parece que foi ontem), fui meni-

na tímida, pensadora e questionadora. Ainda que os

questionamentos tenham se restringido à minha cabeça.

Sem Google, bibliotecas e tantas fontes acessíveis de

agora, somente a sabedoria, principalmente a materna,

para elucidar algumas dúvidas, já que a maioria daque-

les questionamentos ficavam arquivados sem resposta.

Um pouco mais à frente, convivi com o romantismo,

nos embalos dos alegres filmes musicais dos anos cin-

quenta e sessenta. Fui louca para dançar daquele jeito

e com aquelas roupas maravilhosas e brilhantes. Com-

fesso: esse  foi um dos meus grandes sonhos de menina.

Mais um tempinho e vieram os bailes no Clube ao som

de orquestras e conjuntos, que hoje se chamam bandas.

Tive o privilégio de ter vivido na época dos Beatles e

da Jovem Guarda.

        De repente, como consequência da evolução tec-

nológica, os costumes e toda a vida passaram por

transformações. E a máquina de escrever foi substituída

pelo computador e a internet se instalou facilitando nos-

sa vida.

         O computador e eu nos entendemos, com direito a

 xingar, de vez em quando, a Microsoft ou os provedo-

res, tudo dentro da normalidade. Digitei todos os meus

livros e claro, até ver tudo acertado, para mandar à edi-

tora houve “choro e ranger de dentes”, normal.

         Viajar é uma das coisas que mais gosto. Adoro o

movimento do aeroporto, não me importo nem com es-

calas. Se estou indo passear já estou em beatitude.Te-

nho viajado pouco por motivos alheios à minha vonta-

de. Mas quando há pouco tempo minha filha me disse

que teria uns dias livres e perguntou-me se eu gostaria

de passear e onde eu gostaria de ir, talvez, supondo que

eu escolheria uma tranquila paisagem bem próxima, a

resposta foi imediata: - Vamos à Nova York!

- Fomos e nos divertimos muito.

          Francamente, todo esse destravamento da língua

e abertura do coração é uma maneira de  lutar contra o

tempo inexorável e cruel. Inexorável é uma palavra me-

io retrô, mas é o que sou, tanto na linguagem, conceitos

e preceitos, figura e estrutura. Uma figura retro mescla-

da com o moderno, com direito a transitar em diferentes

espaços e tempos.

          Minha escrita tem um pouco de cada “era” vivi-

da. Frequentemente, tenho necessidade de usar nota de

rodapé para explicar termos e personagens citados nela, e

que não são mais usados ou conhecidos. Isso deixa um

pouco de História o que para alguns leitores, talvez pos-

sa ser interessante.

         Aprendemos com a vida, às vezes cruel, mas sempre 


querida.

         Martha Tavares Pezzini

            

 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

SOBRAS DO SOBRADÃO - MARCELO PIRAJÁ SGUASSÁBIA

 

SOBRAS DO SOBRADÃO
 
Mal range a porta de entrada e cai uma aranha do lustre, ali teimando, dependurada no vácuo dos anos. Dois gritos de desespero da sinhá primeira, a matriarca de gerações tantas, e eram quase uivos os lamentos da coitada.
Raspando com a unha, vê-se que sem conta foram as demãos de cal, todas de incertas datas e tons sortidos. Demãos que, descobertas, não esquecem mas também não trazem de volta o que presenciaram, desde o início do ciclo da cana.
Cinquenta e seis vergonhas escabrosas varridas para debaixo do tapete persa da sala de visitas. Alinhados, os retratos a óleo dos barões e sinhozinhos, alternando com armas, um chifre de veado e o velho espelho encabeçado pelo brasão da família.
Mais uns passos pelo extenso assoalhado e se chega ao oratório, com o terço benzido por Pio IX, um cálice de igreja do tempo das Bandeiras e o Santo Antonio em gesso e de túnica desbotada – tantos foram os banhos de lágrimas em loucos pedidos de graças.
Cinzas de assados e vestígios de sangue, no borbulho de compotas. A cozinha, indústria de ervas e tripas. Traços de esperma incrustados entre um azulejo português e outro sugerem a devassidão de sei lá quem, flagrado em pecado mortal. 
 
Esta é uma obra de ficção
© Direitos Reservados
Imagem: agenciabrasil.ebc.com.br. Divulgação / Prefeitura de Nova Iguaçu / Direitos Reservados
 
Marcelo Pirajá Sguassábia

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Em busca do meu eu - Martha Tavares Pezzini

 

 

Mergulho dentro de mim em busca de algumas pistas, nos

registros que estão lá.

Cenários e imagens surgem como fotos em marca d’água. Como em um mosaico, existem peças preciosas que demoram a se encaixar. Talvez isso ocorra como um insight, em outro momento. Cada fragmento vivido compõe o todo que é hoje, o que sou.

Revejo traços da minha história. Alguns, gostaria de esquecer. No entanto preciso vê-los como parâmetros para a vida madura e a mais recente. Analiso atitudes e situações com a visão que adquirida trilhando as estradas que me trouxeram até aqui. Vejo as marcas deixadas como consequências de reações inadequadas, frutos da imaturidade, insegurança, medos. que por sua vez, como num círculo vicioso, da mesma maneira, tiveram suas origens.

 “Conhece-te a ti mesmo”, célebre frase atribuída à Socrates, sábio grego, mostra-nos que é impossível chegarmos ao verdadeiro conhecimento antes de conhecermos a nós próprios, sendo esta uma busca que não tem fim.

O autoconhecimento muda a forma como interagimos com o mundo e com as pessoas, possibilitando maior conhecimento e aprendizagem.


 

 

Martha Tavares Pezzin

13/16/03/22

 

 

 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Chuva Mansa - Martha Tavares Pezzini

 

Com muita alegria vemos o sol brilhando após um período de transtornos e tragédias em consequência das chuvas. Vamos lembrar da chuva, em tempo de bonança como foi lembrada em um janeiro de 2016.

                              

“Chove como há muito não chovia.
Chuva mansa que não para
Mantendo aquele som gostoso
provocando vontade de deitar,
Puxar a coberta e cochilar.
Lembrando outras chuvas,
Imaginando a água encharcando a terra,
plantas sorrindo, dançando,
crescendo, esverdeando, vicejando.
Nós, assim tranquilos e enxutos,
no conforto de casa,
nada querendo do que esteja lá fora.”
Martha Tavares Pezzini
               

 

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

                           

 

 

   Chuva de felicidade

 

         Começou a chover agora à tarde. O som da chuva, calma e sem trovões, soa agradável aos meus ouvidos. Dá vontade de largar tudo e me deixar envolver pelo clima de paz que vem com ela. Uma invasão de recordações me assaltam sempre na presença de aromas e sons. Sinto ainda, aquele cheiro que impregnava o ar da minha casa, quando as telhas secas iam se encharcando, ao começar a primeira chuva.

         Vejo-me criança, junto à minha mãe e irmãs deixando tudo de lado para nos entregarmos àqueles momentos  se acontecia um temporal mais forte. Na impossibilidade de olhar pelas janelas, sem vidraça, nossa curiosidade era aguçada para ver as enxurradas e a água que descia do telhado o que nos fazia arriscar pequenas aberturas, fechadas às pressas pelas rajadas de vento e água que nos assaltavam.

         Aqueles aguaceiros que caiam à tarde faziam surgir as goteiras no telhado sendo necessário colocar baldes, bacias e o que mais houvesse para salvar o chão ou algum outro móvel. E o plim, plim era um novo som sendo gravado em nossos ouvidos como notas de um piano. Como complemento surgia o coral das nossas vozes. Gostávamos de cantar. Talvez porque fossemos felizes sem saber.

         Após o culto à chuva, mamãe fazia sonhos ou biscoitos fritos para acompanhar o café. Tudo parecia estar combinado e já acontecia com um propósito: gravarmos aqueles momentos e trazê-los para o hoje quando os sons da chuva já não são mais os mesmos e aqueles concertos de orquestra e coral não acontecem mais. São ecos de um tempo em que a felicidade podia estar num canto, num aconchego, na chuva, no estar junto.  A felicidade era convidada a tomar parte em nossa vida em qualquer oportunidade. E chegava sem complicação, sem rodeio. Ela também era simples. Como nós.

Martha Tavares Pezzini

 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Saindo do Sério

 Olha elas aí! Vivo no meio delas. Falo muito, descontando o atraso do tempo que não conseguia falar. Escrevo muito, o que vem à telha! 

 

 Não consegui postar o desenho que fiz do placard das "meninas"!