quinta-feira, 30 de maio de 2013

Nova Acadêmica é de São Pedro dos Ferros!




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A escritora, Marilene Guzella Martins Lemos será empossada na Academia Municipalista de Minas Gerais - AMULMIG.  Cadeira 318, Patrono Luís Martins Vieira, representando a cidade de São Pedro dos Ferros.

Data: 11 de junho de 2013 às 16 horas.  Endereço: R Major Lopes, 680 - Bairro São Pedro - Belo Horizonte

Se você é ferrense e quer comparecer à solenidade para cumprimentar Marilene, use o tel. 3227 - 3443 para confirmar sua presença.

Abraço, Marilene, e votos de muito sucesso pela frente!

MTP
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Os poetas não devem ser levados a sério - Affonso Romanode Sant'Anna






"E se a poesia é dispensável, porque há milhares de anos milhões de pessoas a praticam, e agora ela chegou airosamente também à Internet?"



Affonso Romano de Sant'Anna

Os poetas não devem ser levados a sério



 
Enquanto escuto o último tiroteio na favela ao lado, recebo de Alberto Dines, que criou na Internet o vigilante "Observatório da Imprensa", um artigo publicado no "The Economist", de Londres, intitulado "Injustiça poética"; um artigo tão instigante que Daniel Piza o republicou na seção de cultura da "Gazeta Mercantil". Vejam só: "The Economist" e a "Gazeta", jornais voltados para a política econômica, falando de economia poética.
O autor anônimo daquele ensaio fala de um paradoxo: ao mesmo tempo em que, de um lado, parece haver um desprestígio editorial e mercadológico dos poetas, por outro lado, "Len Fulton, da Dustbooks, que publica a 'Small Press Review', recebe livros de 300 novas pequenas editoras e outras 300 novas revistas todos os meses. Muitas pequenas editoras não sobrevivem por muito tempo. Mas mais de 1.400 revistas e 800 pequenas editoras duram o tempo suficiente para chegar ao 'Catálogo de Editoras de Poesia' bienal de Fulton.".
Nota-se que quadruplicou o número de cursos de criação literária nos Estados Unidos. Hoje são 285 universidades com 11 mil estudantes nessa área, a metade dedicada à poesia. Há mais de 200 festivais de poesia de cowboys nos Estados Unidos e viraram moda, recentemente, uns torneios poéticos onde dois poetas se desafiam, em nove rounds, lendo um poema cada um, até o confronto de um poema improvisado no final. Quem ganha leva um cinturão de peso-pesado, como nas lutas de boxes. E as pessoas pagam até US$ 20 para assistir a esse pugilato poético.
Vejam que coincidência. E quando as coincidências começam a coincidir muito deixam de ser simples coincidência para serem sintomas. Isto tanto com os tiroteios quanto com a poesia. Nesses dias recebi de Alberto Carvalho - um intelectual finíssimo lá de Aracaju, que tem coleções de revistas raras como a "Senhor" e que adquire qualquer livro bom que surja em qualquer parte - recebi, repito, um CD intitulado "A voz, o poema", com obras de 35 poetas sergipanos. Sim, senhores, de Sergipe. E embora em matéria de Nordeste, como Chirac e Reagan, que trocam o presidente do Brasil pelos do México e da Bolívia, troquemos Aracaju por Maceió ou Natal, eu lhes garanto: a poesia está viva e muito bem, lá em Sergipe.
Estou no meu escritório, diante do crepúsculo. Já escutei o tiroteio das cinco e, antes que comece o tiroteio da sete na favela ao lado, deixo fluir verdades na boca da noite e começo a ouvir vozes desse CD de poesias que me veio de Sergipe. Uma diz: "Um louco colhe amoras amarelas na varanda do hospício antes que um guarda com boca de dragão descerre a cortina da noite".
Quantas mulheres neste disco! Que bom! Uma delas revela que, enquanto preparava a comida da família, "só tia Ester sabia pôr compressas na própria dor". E outra voz de homem acrescenta: "Quando o dia chegou, com suas aves peraltas na lapela, a cidade sorriu acanhada, dois poetas marrons assoaram o nariz". Mas o poema termina com essa frase irônica e problemática: "Os poetas não devem ser levados a sério".
Se não devem ser levados a sério, por que "The Economist" e a "Gazeta Mercantil" estão preocupados com a poesia? E se a poesia é dispensável, porque há milhares de anos milhões de pessoas a praticam, e agora ela chegou airosamente também à Internet?
Alguns de vocês já ouviram falar de Soares Feitosa. Com uma pertinácia rara, alheio às convenções dos grupinhos literários, ele está colocando na Internet não só a poesia de poetas vivos, mas todo Camões, Augusto dos Anjos e outros tantos, e está fazendo sozinho o que entidades governamentais e universidades não fazem.
No artigo do "The Economist", no entanto, faltou analisar isto: a invasão da Internet por parte dos poetas. Estão eles passando por cima das editoras e livrarias, unindo o que há de mais primitivo e tribal ao que há de mais avançado tecnologicamente.
Há um mistério com a poesia, vocês sabem. E quando havia no país não só menos tiroteio, mas menos cronistas e mais crônica, Rubem Braga fez uma intitulada "O mistério da poesia", tentando entender por que o verso do colombiano Aurélio Arturo, "Trabajar era bueno en el sur, cortar los arboles, hacer canoas de los troncos", não lhe saía da cabeça e de onde vinha a sua poesia.
Em 1962 - quando 99% de vocês não haviam nascido, publiquei, como estudante, meu primeiro livrinho, "O desemprego do poeta" - que tinha tudo a ver com o que se disse antes. Lá anotava uma frase de João Cabral, nos anos 40, que dizia que os poetas deveriam se utilizar da tecnologia da época: o rádio. Infelizmente ele não a utilizou. Depois veio a televisão. De minha parte, experimentei o rádio e a TV, sobretudo quando Dilea Frate e Alice Maria ousadamente me aliciaram para tal. Hoje o CD e a Internet são dois instrumentos que caíram nas mãos dos poetas. Acabo de receber uma antologia de poetas de Maui - uma daquelas ilhas perdidas no Pacífico - e, de Juiz de Fora, Iacyr Freitas promete-me um CD. De Brasília, chega-me uma nova e promissora revista dedicada à tradução de poetas estrangeiros e divulgação de brasileiros, "Gargula".
Entrementes, ouço formidáveis tiroteios na favela ao lado. Há uma semana que não nos deixam dormir e saímos à rua com a alma agachada, humilhados. Minha vizinha mostra-me a bala que caiu no seu quarto depois de varar a esquadria de alumínio e ricochetear pelas paredes fazendo buracos e quebrando quadros.
E do disco de poesia saí uma voz que diz: "Um dia adormeci cansado de tudo, quando acordei, Deus e o circo não estavam mais na minha cidade.".


 

A Marquesa - Regina Araújo





A MARQUESA Na casa de meus avós tinha uma...
Regina Araújo
A MARQUESA








                                                                

 Na casa de meus avós tinha uma mesa de canto que era conhecida como Marquesa... redonda, pés um poucos curvos, porém elegantes e garbosos. Exibia sua imponência no canto da sala de visitas, com direito a forro de renda de bilro e jarro de flores colhidas no jardim da casa.
Fora construída por meu avô; era costume na época o noivo talhar a madeira e criar todos os móveis para o futuro lar. E assim ele fez... em tudo um toque de elegância, porém paradoxal simplicidade e sobriedade emergiam de tudo o que fizera. E, nada é eterno, todos sabemos... desgastam-se o corpo físico, a mente, os bens imóveis e os móveis também.
Por duas vezes minha avó reclamou que a "Marquesa" estava mancando (um pé estava gasto) . Meu avô tentou consertar... mas pareceu-me que ela queria mesmo era continuar como estava. E incrível cumplicidade havia se estabelecido entre eles... notei.
Inexorável o tempo... quando jovens atraímos em um primeiro momento pela beleza exterior. Chegados os tempos em que a idade avança, outras belezas que, cultivadas ao longo de nossa caminhada, passam a ser o nosso referencial.
E assim procedia a Marquesa... estava cansada de ser bibelô, admirada apenas pela sua beleza e imponência. Invejava, quem sabe, o banco que reinava na grande cozinha com toda sua rústica simplicidade.
E, não tinha jeito : mexia daqui, mexia dali, e a Marquesa resoluta, continuava a "mancar".
Certo dia meu avô passou afobado pela cozinha... segui-lhe os passos e a expressão. Rumou para o fogão de lenha com a Marquesa aos pedaços, o machado nas mãos. Apenas disse em alto e bom tom que na vida tudo tem princípio, meio e fim. E ainda completou, profetizando: “ quem não quer ficar de pé e teima em viver mancando , daqui uns dias estará de joelhos ou estatelada no chão frio." Então, terá mais serventia como lenha que aquece e aviva o fogo do que papa fina de cupins, que certamente a espreitam. Quer ocaso mais triste ?
Era assim que resolvia as coisas que sinalizavam não ter ou querer conserto... ou com o que ele pressentia que um dia perdera o encanto e a utilidade. Considerou que arder no fogão de lenha e aquecer a serpentina seria mais digno para a imponente e tão querida "Marquesa" do que estatelar-se ao chão, vencida pelo tempo.
Pareceu-me radicalismo , tanto que chorei muito neste dia... não só por causa da Marquesa mas também pelo que considerei ser submissão de minha avó em não interceder por ela.
Mas o andar da vida fez-me entender muitos porquês; inclusive que na vida desvencilhar-se e praticar o desapego são muitas vezes questão de sobrevivência e evolução.
E que o desapego é questão de maturidade a aprendizado... afinal a vida é mesmo uma escola constante.
Onde as perdas são necessárias para o simples ganho de sabedoria e do sobreviver, apesar de...








sábado, 25 de maio de 2013

De um diário ocasional - Paschoal Motta




DE UM DIÁRIO OCASIONAL

Estou em São Pedro dos Ferros. Tem um bar perto e vez por outra vou lá tomar algumas, papear e jogar sinuca... De noite, calor, quase 23 horas. Aí para um carro, e o motorista se integra a amigos dele na calçada. E, para variar, liga o indefectível "som" e, para não perder o costume, a todo volume com dessas "músicas" que dominam e bombam audiências... E, para ficar tudo de conforme,o filhote do paizão canta a toda goela com o "cantor" do som do carro. A educação musical também deve  ser de berço... Eta ferro! Tinha de ver o entusiasmo do pequeno ferrense: "... ai que vontade de morrer / se eu não ter seu coração / se não quer me amar...
O menino, uns 10 anos, no máximo, gritava ao pai, gritava para mostrar que ele também sabia fazer bonito, enquanto tomava fôlego... Penso com meu copo de cerveja: isso é no Brasil, do Oiapoque ao Chuí...

Cortar, para outro menino, também de dez anos, lá nos cafundós da Zona da Mata Mineira, por coincidência, escutando Almirante narrando a vida do Poeta da Vila (Isabel) e apresentando, de entremeio, composições do moço carioca, que cascou no cerrado o mais depressa que conseguiu... E o menino interiorano não tinha ainda rádio em casa. Toda quarta-feira, de noite, pedia à mãe para ir escutar na casa da irmã o programa que o tinha fisgado e o irá moldar, esteticamente, pelos tempos vindouros... E ele também cantava, quase em silêncio, para decorar as letras do Poeta da Vila...
"Quem acha vive se perdendo / por isso a agora vou-me defendendo / da dor tão cruel de uma saudade...
 Quando o apito da fábrica de tecidos / vem ferir os meus ouvidos / eu me lembro de Você...
Nosso amor que eu não esqueço / e que teve seu começo / numa festa de São João...
 Pra que mentir, / se tu ainda não tens a mania / de toda mulher... / se eu sei que gostas de outro / que te diz que não te quer...
E aquele menino, que nem tinha rádio em casa, ficava, antes de dormir, de ouvido fora do travesseiro, antenado, para captar algum raro rádio que trasmitisse algum samba do Poeta da Vila, e ele pegasse mais algum verso para completar o que até então tinha decorado...E conseguia. E sem querer, por simples coincidência, afinava o ouvido numa cadência...
Logo depois, ele ia conhecer Castro Alves...  Auriverde pendão de minha terra / que a brisa do Brasil beija e balança...

https://mail.google.com/mail/u/0/images/cleardot.gifA cabeça não cabia tanto, e o menino ia entulhando a fala nacional num ritmo, num envolvimento, numas estruturas, numas expressividades, nuns encantos, nuns encantamentos, e ele também começava a imitar e chamar de poemas... para seguir menino.
PM, 28-10-2012