terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DE POESIA E VIDA

DE POESIA E VIDA

Paschoal Motta

Surpreendentes os caminhos desta jornada na casca do Planeta, quando viajamos guiados pelo farol da Literatura. Tanto norteia, quanto atrai para a fonte das palavras do homem, transfiguradas num poema. Aí, ilumina o chão da vida; compõe uma paisagem multicolorida de revelações. Filtrada pelos vidros do vitral do artista, essa luz misteriosa poderá  iluminar o túnel de nossa perplexidade na experiência de adivinhações. Somos iluminados com sua graça, que nos aproxima da Divindade.

O poeta quer a eternidade de suas incursões, lucubrações e descobertas, pela mística do divino. A solução de sua insatisfação no mistério do ser e estar aqui; na ânsia de passar a sensibilidade para o próximo com os despistes que lhe são inerentes na especial modalidade no veicular decifrações; no aproximar-se do mais puro para atingir a precariedade material da condição humana.
E é pela palavra que a Poesia se humaniza, na sua expressão metalinguística; assim, nos acende e ascende até lá de onde acenam os deuses dos mistérios.

A Poesia é procura e encontro de nossas origens.

O poeta reinventa o Mundo com palavras, numa divindade de fundação criadora. Nada mais infantil que criar Arte, nada mais artístico que reescrever a infância. Daí, a busca de origens, a criação de mundos sem manchas, defeitos. Daí, essa loucura de que é vítima o poeta numa destinação de aproximar as pessoas para o alto e oferecer-lhes participação nesse gozo de inventar. Um deus diante de sua obra e nela soberano... Carece, mesmo assim, de público para participação da espécie humana na sua destinação duma luz distante. E,
assim, um homem como qualquer outro homem, como já nos colocou Cassiano Ricardo.

E, aí, a função da Poesia veiculada pelo Poietés, aquele que faz. Daí para a frente, tudo será possível, até a eliminação da dor e a satisfação da fome. A Poesia não mata fome nem sede, mas rejuvenesce a esperança e alimenta o coração para que não as aceitemos. Isso os criadores de poemas perseguem, desde as figurações sumérias, desde as figurações rupestres; desde sempre e por todos os meios cada vez mais possíveis, agem como a Natureza, lenta nas transformações. É por aí esse caminho na ânsia de áreas serenas da sensibilidade necessária para a plenitude da existência.
Longo o percurso nesse fazer, nesse transfigurar a inocência em extinção. Há poemas que nos tocam a inteligência e a sensibilidade. E vibramos pela oportunidade e surpresa deles. Eles nos conduzem com seu aprendizado de vida na emoção. E essa viagem é sempre numa ida, numa sempre procura na passagem pela ponte movediça das controvérsias sobre as águas dos preconceitos. 
Você abre a porta de uma casa de brinquedos; entra nela; descortina as janelas; olha para fora, para as meninices das claridades de que carecemos.
 
Afinal, um poema é uma experiência de vida, que nos nasce e nos renova.

A Primavera!

(de Poeta e Poesia, trecho de ensaio inédito)

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