sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Antagonismo de Épocas - Martha Tavares Pezzini


                                ANTAGONISMO DE ÉPOCAS

                                                       Era como se o tempo movimentasse
                                                                                          lenta e cuidadosamente,
                                                                                          preguiçoso,
                                                                                         com medo de nos incomodar.

      Vivemos sobrecarregados de novidades, acontecimentos noticiados no mesmo momento em que ocorrem Se passamos um dia sem acompanhar  a TV ou a Net, somos surpreendidos por uma vasta gama de acontecimentos surpreendentes e nos sentimos desatualizados
     Gosto de lembrar, nessas horas, o que era a vida na minha cidade, São Pedro dos Ferros, nos tempos de menina. Cidadezinha lá na Zona da Mata de Minas Gerais, encravada entre morros, com um grande cruzeiro iluminando as noites. Nesse cenário de tranqüilidade, os dias transcorriam lentamente e pareciam ter mais horas do que as vinte e quatro, marcadas o inverso do que acontece hoje. Era como se o tempo movimentasse lenta e cuidadosamente, preguiçoso, com medo de nos incomodar.
     Seus moradores podiam ser citados um por um, ou quase. Os casos que surgiam nas conversas tinham sempre nomes e endereços. Mesmo sendo criança sabia localizar e nomear grande parte de seus habitantes pois como não havia telefone, as crianças sempre levavam e traziam os  recados  que fossem necessários.
      A principal diversão era o cinema. A maioria dos filmes era o que hoje chamamos filme B. Faroeste, comédias, capa e espada e dramas que faziam chorar até as pedras. Assistíamos a todos pois não havia opções na escolha. A segunda opção era  o footing, onde as moças e rapazes conversavam passeando pra lá e pra cá num determinado trecho da Rua Direita. Nesse vai e vem, surgiam muitos namoros,  e devia ser mesmo esse o objetivo do interminável desfile.    
Toda a população com raras exceções, freqüentava todas as cerimônias religiosas na igreja de São Pedro. Minha família ia sempre à missa das sete horas, aos domingos. Como fazia frio! Levantávamos trocando de roupa, tremendo e saíamos correndo para não perder a hora. O café ficava para a volta com toda a família reunida, muita conversa e animação colocando em pauta os acontecimentos da semana. O domingo era mesmo dia de descanso e relax. Sem a preocupação de ter um programa para fazer, um lugar para ir
     Aos poucos foram proliferando os rádios que na minha casa demorou um pouco e não me lembro quando chegou. Mas foi um avanço, saber coisas acontecidas fora daquele pequeno círculo. O Repórter Esso era aguardado como fonte de informação em que todos confiavam. Havia um programa Seu criado, obrigado,  que esclarecia suas dúvidas sobre  várias matérias e do qual participei várias vezes fazendo perguntas.  Era a famosa Era do Rádio.
    Quem nasceu há 50 ou 60 anos não consegue imaginar esse contraste de vida. Como  o menino que perguntou:  “se não tinha TV, para onde vocês ficavam olhando?”



          


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2 comentários:

  1. niltomaciel para mim

    mostrar detalhes 18:16 (43 minutos atrás)

    Olá, Martha. A SUA CRÔNICA É MUITO LINDA, TERNA, EVOCATIVA. Fico até pensando: apesar de sermos de cidades bem diferentes (eu do interior do seco e pobre Ceará, você da rica Minas), como a vida se parecia. AO LER A SUA CRÔNICA, ME LEMBREI DE MINHA ADOLESCÊNCIA, DO CINEMA, DA RUA DO CINEMA, DOS PASSEIOS, DOS GALANTEIOS, DA FELICIDADE QUE ERA ANDAR, PASSEAR, OLHAR AS MENINAS. Beijos antigos. Nilto

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  2. Que delícia de crônica, eu não vivi nesta época mas consigo imaginar tudo que vc falou. Me lembrei que na casa da minha avô "DOTA", tinha uma televisão e que todos os vizinhos iam para ver, era uma festa.

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