Zila Mamede nasceu em 1928, em Nova Palmeira, Paraíba, e pequena, ainda, aos 6 anos mudou-se para o rio Grande do Norte. Cursou biblioteconomia no Rio de Janeiro. Fez uma especialização nos Estados Unidos. Começou a escrever aos 21 anos. Voltando a Natal reestruturou as 2 maiores bibliotecas da cidade: a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que hoje tem o seu nome e a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo.
Obra Literária: Rosa de Pedra, (1953); Salinas, (1958); O Arado, (1959); Exercício da Palavra, (1975); Corpo a Corpo, (1978). Em 1978, publicou Navegos, Drummond de Andrade que a incluía reunindo as 5 obras citadas anteriormente. Como poeta, teve o apoio de nomes de destaque da nossa literatura como Carlosentre as suas preferências literárias, e também, de João Cabral de Melo Neto. Manoel Bandeira considerou seu primeiro livro, Rosa de Pedra um dos melhores livros de versos, brasileiro.
Para encantar, um soneto de Zila:
ANTECOLHEITA
Ah, te saber distante, embora a chuva
amareleça em frutos e a colheita
não tarde. Já meus dedos se presentam
como instrumento à terra matinal.
Ausentes os teus braços, a charrua
se nega à lida, caminhança e bois;
o cata-ventos umedece as hastes
que calentavam cedo amanhecer.
Não sei que faça dos celeiros. Vem!
Setembro amadurece nos folhados
deixando-se nascentes para o estio.
Vem que me entrego ao apascentar das ramas
e minhas mãos de frágeis agonizam
nesta visão de lavras, de eira e sol.
Enviado por Paschoal Motta
De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
Outro poema de Zila Mamede:
O Banho (Rural)
De cabaça na mão, céu nos cabelos
à tarde era que a moça desertava
dos arenzés de alcova. Caminhando
um passo brando pelas roças ia
nas vingas nem tocando; reesmagava
na areia os próprios passos, tinha o rio
com margens engolidas por tabocas,
feito mais de abandono que de estrada
e muito mais de estrada que de rio
onde em cacimba e lodo se assentava
água salobre rasa. Salitroso
era o também caminho da cacimba
e mais: o salitroso era deserto.
A moça ali perdia-se, afundava-se
enchendo o vasilhame, aventurava
por longo capinzal, cantarolando:
desfibrava os cabelos, a rodilha
e seus vestidos, presos nos tapumes
velando vales, curvas e ravinas
(a rosa de seu ventre, sóis no busto)
libertas nesse banho vesperal.
Moldava-se em sabão, estremecida,
cada vez que dos ombros escorrendo
o frio d'água era carícia antiga.
Secava-se no vento, recolhia
só noite e essências, mansa carregando-as
na morna geografia de seu corpo.
Depois, voltava lentamente os rastos
em deriva à cacimba, se encontrava
nas águas: infinita, liquefeita.
Então era a moça regressava
tendo nos olhos cânticos e aromas
apreendidos no entardecer rural.
Martha Tavares Pezzini
Sobre Livros e Autores
marthatavaresspf.blogspot.com
Comentário de Paschoal Motta sobre o poema e a autora:
ResponderExcluir"MARTHA,
Um dos mais bonitos poemas da Literatura Brasileira.
Curti breve amizade com a Zila, mas marcante e proveitosa.
Divulgue no seu blogue. Ela merece. Nós merecemos.
Paschoal"