quarta-feira, 27 de abril de 2011

Estradas da terra, estradas do céu...

       


  Temos ouvido nos noticiários e até lido aqui no blog sobre  o descaso das nossas estradas. Muito se analisou os números dos acidentes e das mortes desses  últimos feriados  comparando-os com outros anteriores. Mas para pensar em comemorar o resultado  , só com uma queda bem mais satisfatória nos gráficos. Com o tema ainda na cabeça, me cai à mão um artigo escrito pelo padre Fábio de Melo, Estradas da terra, estradas do céu...  escrito em janeiro de 2007, pouco depois  do acidente aéreo em que se chocaram dois aviões, em setembro de 2006. A introdução serviu de gancho  e aqui está o ótimo texto do padre.


     “Dizem que as estradas do Brasil estão entre as piores do mundo. Não entendemos as razões. Pagamos altas taxas de impostos para termos o direito de ir e vir sem que  estejamos colocando em risco a nossa vida e a vida dos que amamos. Colocar a família no carro para uma viagem é sempre uma decisão de risco.
     Assim como na terra é no céu. O desastre que vitimou 154 pessoas no final de setembro do ano passado, expôs a dura realidade do espaço  aéreo brasileiro. A princípio, a nossa indignação diante da reportagem norte-americana, denunciando que nossas rotas aéreas  passavam por regiões cegas. O brio de nossa alma brasileira sofreu um duro golpe. Inflamados, colocamo-nos em posição defesa. Achamos melhor justificar o acidente alegando que os americanos que pilotavam o Legacy poderiam estar brincando nos nossos céus. Depois o caos dos aeroportos demonstrou que quem estava brincando eram as autoridades responsáveis pelo controle aéreo  brasileiro.Funcionários expostos a uma carga excessiva de trabalho, estressados, traziam o pesado fardo de monitorar a segurança de centenas de aeronaves esparramadas pelos céus do Brasil.
     É a vida, é a tragédia. É a colisão de todo dia. É a vida do povo brasileiro tão bem demonstrada nas estradas da terra e nas estradas do céu.
    Fico pensando nas lutas que precisamos estabelecer entre o céu e a terra. É nessa metáfora que situamos nossas esperanças. O desejo de vencer , de chegar ao lugar de nosso destino, sem que sejamos surpreendidos  por um acidente que nos vitime fatalmente. Mesmo que nunca tenhamos subido em uma aeronave para realizarmos um vôo, constantemente precisamos driblar os espaços cegos da nossa existência. Os locais onde não temos radares para nos garantir a melhor e a mais segura direção.
    Nossas estradas e seus buracos! Precisamos arte para chegar ao destino. Nossas estradas e suas sinalizações tão apagadas , escondidas, dão-nos a triste sensação de que estamos sós e que não há um governo cuidando de nossa segurança. Filhos esquecidos da pátria amada, Brasil.
    Viver é desafio constante. Decolar, manter altitude, aterrissar. Tudo requer cautela, precisão e empenho. Requer sabedoria, requer inteligência. Por vezes, a necessidade de contato com a torre. Ela sabe por onde ando, por onde vôo. Voar monitorado não é constrangimento nem vigilância, mas á segurança.
     Se o s céus e as estradas do Brasil estão semelhantes aos territórios sem donos, que não seja assim a nossa vida, na expressão de nossa casa. Arrume seu trânsito particular. Recupere a pavimentação de suas estradas e mantenha em ordem as rotas aéreas de seu espaço. Assim, quem vier, seja por terra ou pelo céu, que não se acidente no seu território.
    A vida fica mais bonita quando cuidamos com responsabilidade do espaço que nos pertence. Assim na terra, como, no céu.”


 Padre Fábio de Melo – Teólogo, cantor e compositor.


http://marthatavaresspf.blogspot.com/


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